ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, QUINTA  18    CAMPO GRANDE 20º

Comportamento

No vaivém do restaurante, "China" é terena que sente orgulho da cultura

Natural da aldeia Ipegue, ele vive em Campo Grande desde criança onde trabalha há 15 anos como garçom

Jéssica Fernandes | 01/05/2022 07:30
China trabalha há um ano na Churrascaria Bezerro de Ouro. (Foto: Henrique Kawaminami)
China trabalha há um ano na Churrascaria Bezerro de Ouro. (Foto: Henrique Kawaminami)

Alysson Nélio Gomes Francisco, de 37 anos, é o simpático garçom e copeiro que ficou famoso entre os frequentadores da Churrascaria Bezerro de Ouro, localizada no Bairro Chácara Cachoeira. Conhecido pelo apelido de “China”, ele é indígena da etnia Terena que, mesmo morando há décadas na Capital, não esquece as origens e sente orgulho em falar sobre a família e o lugar onde nasceu.

Criado pela mãe Nelita Francisco e avó Santina Gomes, Alysson nasceu no Distrito de Taunay, em Aquidauana, a 141 km de Campo Grande. Na aldeia Ipegue, ele viveu parte da infância com a família e, posteriormente, realizou mudança para a aldeia Jaguapiru, em Dourados. No município, China residiu até os dez anos quando veio para a Capital com a intenção de concluir os estudos.  Ao lado da avó, mãe e o primo Cléber Gomes, o garçom fez mudança permanente para a Cidade Morena.

Seguindo o exemplo da mãe, Alysson relata que também quis mudar para o município com o sonho de melhorar a qualidade de vida. “A minha mãe estava em Campo Grande, então vim para estudar aqui e tentar a vida junto com ela”, explica. A princípio, China conta que sentiu dificuldades em se adaptar ao novo lar. “A vida que levávamos era totalmente diferente, porque aqui é outro mundo, foi uma mudança radical. Encontrei dificuldades, mas com o tempo acabei me acostumando”, afirma.

No celular, ele guarda foto antiga ao lado dos familiares. (Foto: Paulo Francis)
No celular, ele guarda foto antiga ao lado dos familiares. (Foto: Paulo Francis)

A saudade da maioria dos parentes, que continuam vivendo em Dourados e Aquidauana, foi outro obstáculo que China vivenciou na época. Como uma forma de manter os familiares por perto, Alysson carrega no celular um registro feito na infância junto com os primos.

Muito além de uma imagem, a recordação é um elo que o preserva ligado as próprias origens. O garçom ressalta a importância de não esquecer as pessoas presentes na fotografia. “Eu estou há um bom tempo sem ver eles, mas nunca deixando de lembrar das minhas origens. Sempre que posso falo, porque isso é minha base. A pessoa que esquece suas origens não é digna de confiança, pois ela nega a si mesma”, destaca.

Como surgiu o apelido - Alysson mal tinha começado a viver quando ganhou o apelido que é praticamente a sua verdadeira identidade. Seja no trabalho ou no cotidiano, as pessoas só o conhecem como China, sendo que é dessa forma como ele gosta de ser chamado e se a presentar.

China comenta sobre as origens e a família. (Foto: Paulo Francis)
China comenta sobre as origens e a família. (Foto: Paulo Francis)

O profissional expõe que no hospital recebeu o apelido que segue o acompanhando. “Nós que somos indígenas temos um pouco de semelhança com os orientais. Quando nasci tinha o olho muito puxadinho, o médico fez uma brincadeira, ele disse: “Nossa, esse não parece índio, parece um chinesinho”. Aí acabou pegando”, fala.

Sonho de ajudar o próprio povo - Há 15 anos, China começou a trabalhar no setor como garçom e nunca mais parou. No ambiente de trabalho, ele diz manter uma boa relação com os clientes. “Aqui na Bezerro de Ouro temos uma forma de fazer os clientes se sentirem bem, fazemos eles se sentirem à vontade como se estivessem em casa”, esclarece.

Em enquete realizada neste sábado (30), o Lado B perguntou se os leitores costumam fazer amizade com o garçom. A maioria, 84% , respondeu que sim, seguindo a dinâmica da relação que China mantém com os clientes da churrascaria.

Apesar de gostar de trabalhar na área, ele revela ter outros planos profissionais. Por meio de outra ocupação, ele pretende ajudar as pessoas da aldeia Ipegue onde nasceu.  “Como tirei carteira D quero dirigir ambulância interestadual e trabalhar com o meu povo”, diz.

Por hora, China segue trabalhando na churrascaria onde durante a semana desempenha a função de copeiro e aos fins de semana atua como garçom. A segunda tarefa é a favorita, pois o que ele gosta mesmo é de estar em contato direto com os clientes da casa.

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Nos siga no Google Notícias