O medo paralisante de não conseguir controlar o incontrolável
Impossível não passar pela mente "e se for a última vez que nos vemos?"
Um dia desses, Maria Cecília partiu pela primeira vez para uma aventura longe da mamãe. A vovó a levou para o "mato" no sábado e só voltaram no domingo. Até então, foram 1.033 noites desde que ela nasceu e que jamais nos separamos, com exceção de quando fui ganhar o irmão dela e na internação de uma semana que ele precisou passar quando tinha apenas 50 dias de vida.
Noites essas que Maria ficou sem mim, porém em casa. Ao me despedir antes dela seguir rumo à aventura meus olhos se encheram d'água. Não consegui segurar. Óbvio, pela emoção deste momento que é muito significativo, mas também por medo depois de tempos tão pesados quanto os que nós, pais, vivemos.
Impossível não passar pela mente "e se for a última vez que nos vemos?". O nó feito na garganta naquela fatídica quarta-feira nem desatou e já tornou a me sufocar. A gente sabe que não pode podar nossos filhos pelo medo de viver. Maria queria muito ir, não era a primeira vez que pedia, e eu sempre reticente. Desta vez, pela logística insana de pais de dois bebês que trabalham fim de semana e feriados, ela foi. E parte de mim foi junto dela.
Para além de permitir ou não, precisamos colocar os pés no chão e ter em mente que, embora essa seja a impressão que impulsiona a vida pra frente, não temos controle de absolutamente nada, vide a tragédia que ocorreu semanas atrás em Blumenau. Quer um lugar mais seguro que a escola?
Então tentei trabalhar isso também em mim. Agora, enquanto escrevo, o nó desata nos olhos. É incontrolável. Não só pelo receio dessa coisa chamada destino, mas principalmente por saber que minha angústia é uma fagulha perto da realidade imutável que aqueles pais terão que encarar pelo resto da vida.
Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae
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