Paixão por k-pop fez corumbaense mudar de cidade e virar escritora
Corumbaense foi parar no Rio de Janeiro, onde se formou pesquisadora assídua da cultura "k"
Dunia Schabib Hany é a cientista política de 26 anos que é “ligadinha” no pop oriental. Apaixonada pela cultura “k” (entretenimento de massa proveniente da Coreia do Sul), ela acabou por mudar de vida, de cidade e – mais recentemente – lançar um livro. Antes disso, porém, até formou cover de grupo cantando coreano. De Corumbá para o Brasil, ela já morou no Rio de Janeiro e atualmente vive em São Paulo onde estuda filosofia com o sonho de algum dia, no pós-pandemia, ainda visitar o outro lado do mundo.
Já ouviu falar em SS501, Girls’ Generation, B1A4 e Ladies’ Code? Pois é, eu também não – mas Dunia conhece todos e garante que vale a pena ouvir. “Os visuais coloridos e a sonoridade que remetia ao ocidental dos anos 90 mas com uma pegada asiática me conquistaram de um jeito que em pouco tempo eu já tinha decorado o nome de todos os membros do grupo Super Junior”. O ano era 2010 e ela tinha 15 anos.
“Por mais que eu seja fã de carteirinha dos mais antigos aos mais recentes – como ONF, TXT e Stray Kids, que estão entre meus preferidos – meu interesse musical não se resume ao k-pop. Gosto de Mercedes Sosa a The Strokes”, assegura.
A partir daquele ano, Dunia não parou de pesquisar a respeito do k-pop, além do idioma, história, política e sociedade sul-coreana. Ainda na Cidade Branca, onde viveu até os 16 anos, ela até conseguiu reunir um grupo de amigos e juntos fizeram uma banda cover. “Temos até vídeos no YouTube”, diz. Antes disso, a jovem era louca por rock nacional e, posteriormente, internacional. Quando descobriu o j-pop (pop japonês), estava a um passo de se encontrar de fato no k-pop.
Pauta para a explicação de Dunia: “o k-pop é a música popular surgida na Coreia do Sul nos anos 1990, quando houve as primeiras manifestações artísticas na redemocratização do país. Entre seus representantes, estão grupos de meninos e meninas que cantam, dançam e entretêm o público tal qual no ocidente”.
“Acredito que o primeiro contato em massa de muitos brasileiros com o k-pop foi em 2012, com o viral ‘Gangnam Style’ (quem se lembra?), do rapper e produtor musical PSY. Uma obra midiática tão peculiar que talvez tenha reforçado o estigma de que o que vem do oriente é exótico, esquisito e não deve ser levado a sério – uma piada com prazo de validade. Ledo engano”, ressalta.
É fácil entender o motivo. Nos últimos anos, várias parcerias entre artistas ocidentais e orientais aconteceram e fizeram o “k” rodar o mundo. Só Lady Gaga, por exemplo, se uniu à banda BLACKPINK em seu último lançamento, “Sour Candy”. Um híbrido pop que até na letra brinca com inglês e frases em coreano.
De lá pra cá, Dunia saiu de Corumbá, foi para a Cidade Maravilhosa onde se formou cientista política pela Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Antes disso, ela cursava letras (português-japonês) em outra instituição, também federal. “Sempre tive o sonho de aprender uma língua asiática, porém não me identifiquei com o curso”. Foi aí que migrou para as Ciências Sociais.
“Eu não conhecia nenhum grupo de estudos na Unirio vinculado ao k-pop ou até mesmo sobre a Coreia do Sul, então comecei a reunir análises e estudar por conta própria. Gradativamente, o cenário foi mudando. Em 2014, o Music Bank, importante festival musical sul-coreano, levou ao solo carioca artistas como SHINee, Infinite e MBLAQ. Foi incrível poder conferir a cena presencialmente, chegando ao ápice de, nos últimos anos, fenômenos como BTS também virem ao Brasil”, conta.
Após se formar no Rio, mudou-se para São Paulo e atualmente faz filosofia na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Um dia, ainda na Unirio, acabei por apanhar na biblioteca a ‘Dialética do Esclarecimento’ dos filósofos alemães Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. Foi ali que descobri a possibilidade de conciliar meu interesse por arte e literatura com estudos teóricos políticos. Paralelo a isso, buscava trazer a Ásia para as minhas discussões. Por causa da obra, pude perceber que seria viável fazer minha monografia sobre a produção musical industrial sul-coreana sob a perspectiva marxista, de indústria cultural”, ressalta.
Livro – Ao participar de uma “tour” (corrente) na rede social Twitter sobre autores e seus trabalhos de conclusão de curso, Dunia viu o seu tweet viralizar. “Acabei recebendo um e-mail de uma editora que me convidou a transformar meu TCC em livro. Disseram que, mesmo sendo uma produção de graduação, tinha todo o potencial de virar uma obra publicada por ter bastante conteúdo”. Até hoje ela não sabe por quem foi indicada.
Adaptando a escrita acadêmica para uma linguagem menos formal, ela continuou na mesma temática central: a exploração de jovens na indústria do k-pop. “Foquei principalmente na ‘fabricação’ de ídolos e na transformação de vidas em produtos culturais. Ainda, as eventuais consequências do processo, como o descarte de membros que não correspondam ao padrão pré-estabelecido, acidentes de trabalho e até mesmo suicídios”, esclarece.
Sobre essa questão da idolatria tão presente na cultura “k”, Dunia acredita ser saudável alimentar a admiração por outras pessoas que são nossa referência. Porém, devoção a qualquer custo – que é o que a indústria massiva do k-pop busca atingir – tem um preço. “As pessoas que vivem exclusivamente por e para seus ídolos acabam por anular sua própria identidade e os artistas, levados ao extremo da profissão. Ser fã, assim como ser celebridade 24 horas por dia, não é emprego. Não é saudável. Os k-poppers (pessoas que seguem o k-pop) discutem muito sobre saúde mental, porque as condutas de ambas as partes são psicologicamente pejorativas”, encerra.
O livro “K-pop – A fantástica fábrica de ídolos” pode ser adquirido tanto impresso quanto on-line pelo site oficial da editora.
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