Para conseguir algo de Santo Antônio, ninguém precisa castigar a imagem
No dia do padroeiro, ainda dá tempo de comprar um Santo Antônio e dar de presente para aquela amiga que há anos luta para se casar. Parece mandinga de teor machista? Pode ser, mas a questão e que, por via das dúvidas, muitas mulheres ainda acreditam que isso faz efeito. Por isso, a imagem é um dos hits nas prateleiras das casas especializadas no mês de junho. Mas para conseguir a graça, quem acredita no poder dele, não precisa colocar o santo de castigo, com alguns fazem.
“Dizem que só funciona quando o Santo Antônio é ganhado, então muita gente encomenda e compra para dar de presente para a a amiga” comenta a artesão Tatiane Donatti, de 34 anos.
Ela é dona do Ateliê Arteiro Artesanatos e confecciona imagens de santos personalizadas, com aplicações de miçangas e pérolas, decoupagem e outros detalhes. Tatiane conta que depois das imagens de Nossa Senhora o santo é disparado o que vende mais e a maioria das pessoas compra para dar a alguém. A artesão lembra que a primeira imagem de santo que vendeu, quando começou a comercializar os produtos pela internet, foi de Santo Antônio.
Santo Antônio, que tinha Fernando como nome de batismo, foi o primeiro doutor franciscano da igreja. Tinha uma biblioteca e tanto, lecionou em universidades italianas e francesas. Conquistou status de uma das mais respeitadas figuras da Igreja Católica do seu tempo. Mas a fama do padroeiro de Campo Grande é de que ele é bom mesmo em arrumar a cara metade.
Não se sabe ao certo a origem do título de “casamenteiro”, dizem que como ele tinha muitas posses, ele ajudava a pagar o dote de moças pobres para que elas pudessem casar. Depois que fez o voto franciscano de renuncia aos bens, ele continuou ajudando, pedindo para que amigos presenteassem as moças menos abastadas com o suficiente para o casamento.
Mas a história mais conhecida é de uma jovem que queria muito se casar. Devota do santo, ela rezava todos os dias e fazia o mesmo pedido. Para agradar, sempre colocava junto à imagem algumas flores que ela mesma colhia em seu jardim. Um dia, já cansada de esperar, ela atirou a imagem do santo pela janela. O que dizem é que o objeto caiu então na cabeça de um rapaz que passava pela rua. O moço se apaixonou por ela e mais tarde os dois se casaram.
O fato é que hoje toda moça que sonha em se casar, apela para o santo. O “coitado” tem o menino jesus roubado, é afogado de ponta cabeça em copo, colocam a imagem na geladeira. Esses são os rituais mais simples.
No centro da cidade, na loja Paullus, que vende artigos religiosos, a procura da imagem do santo também aumenta em junho. As medalhinhas que são usadas para colocar nos bolos em homenagem a ele também vendem muito.
“As pessoas vem, compram para a filha, para prima. Para dar para a amiga do escritório. Santo Antônio vende o ano inteiro e as pessoas são muito criativas, não só nos pedidos como também nas orações”, comenta Flávio Veloso, de 36 anos, gerente da loja.
As histórias que envolvem o santo são um misto de crendice popular e fé, carregam toda uma simbologia e mantêm por exemplo, o tradicional bolo feito pela Igreja que leva o nome do padroeiro, há mais de 12 anos.
O bolo, cortado por volta das 7h da manhã após a missa é famoso. As pessoas fazem filas quilométricas desde a madrugada para comprar um pedaço e, quem sabe, conseguir encontrar uma das 600 alianças colocadas. Diz a tradição que quem encontra a aliança no bolo de Santo Antônio também encontra casamento logo logo.
Tudo começou com um bolo modesto feito por uma das fieis para a quermesse da paróquia. Hoje o bolo tem mais de 2 toneladas, 20 metros, além das 600 alianças, um par de alianças de ouro também é colocado para a alegria dos sortudos.
“Não vem apenas os solteiros em busca do bolo, vem muitos casados pedindo bençãos pelo seu casamento. Ele é um santo que concede muitas graças, por isso tanta gente vem”, comenta Sueli Telles, coordenadora da festa promovida pela Paroquia.
Ela mesmo dividiu com o Lado B uma história pessoal do nascimento da primeira filha, que faz aniversário no dia 13 de junho, dia do santo.
A criança estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço, o médico alertou sobre o risco do parto. Um enfermeira perguntou para ela, você sabe rezar? Ela confirmou que sim. "Então ele disse, se apega a Santo Antônio que hoje é dia dele". Foi o que ela fez. Pediu muito a proteção, a filha nasceu bem, hoje já tem 30 anos e ela coordena as atividades na igreja que leva o nome do santo.