Por pouco, Camila quase vende seu bem mais precioso: a tocha olímpica
Ela participou do revezamento da tocha e acabou ficando com uma em casa; na ansiedade de juntar dinheiro, por um triz não vendeu
Das mais de 13 mil tochas disponibilizadas nos Jogos Olímpicos Rio 2016, a campo-grandense Camila Micaela de Oliveira Fonseca, de 19 anos, tem uma só para si. Acabou que, além de participar do revezamento da "chama que nunca se apaga" aqui na Capital de MS, ela ganhou uma e levou para casa na época. Porém, em um momento recente de necessidade, por um triz que não vendeu a sua. Agora, a tocha olímpica simplesmente trocou de endereço: saiu da Vila São Jorge da Lagoa para o Jardim Tijuca – mas não de dono.
Quanto é que custa uma tocha olímpica? Depende do estado de conservação, mas o preço fica entre R$ 5 a 15 mil – inclusive com um clique você consegue comprar a sua agora mesmo em um site de compras na internet. Mas quem diabos compraria uma? Na realidade qualquer pessoa, principalmente colecionadores de plantão.
Nas mãos de Camila, o objeto que carrega um dos maiores símbolos dos Jogos Olímpicos – o mito grego de que Prometeu roubou o fogo de Zeus para entregar a nós mortais – foi pura coincidência. Ou seria destino? Tudo começou em 2015, quando ela tinha apenas 14 anos.
"A Coca-Cola Brasil passou em algumas escolas municipais lançando um concurso de redação para, quem ganhasse, ter a chance de participar do revezamento da tocha aqui em MS. Me lembro bem do tema 'como você leva alegria para as pessoas?' porque aquilo de alguma forma me inspirou, achei legal escrever a respeito. Acabei participando só por participar mesmo, em nenhum momento passou pela minha cabeça que eu poderia ser a vencedora", relembra Camila.
Mas acabou que ela foi a escolhida. "Eu e mais quatro alunos da escola Doutor Eduardo Olímpio Machado tivemos as melhores redação. Juntos, participamos de uma gincana também com outras escolas municipais, tudo uma brincadeira. Ao final, o nome de cada aluno eleito para o revezamento da tocha foi mencionado, e o meu estava ali. Na hora fiquei completamente surpresa, me senti um pouco perdida quando ouvi meu nome porque na verdade estava emocionada. E eu queria muito", confessa.
"Eu sou condutora da tocha" – Não é todo mundo que ficou com a tocha "de presente". Apenas quem correu pela Coca-Cola é que, ao final, ficou com uma para chamar de sua. Além de uma camiseta com esse escrito, Camila recebeu a instrução de como funcionaria o revezamento, marcado para o dia 25 de junho de 2016 na Capital.
Cada participante iria correr o trajeto de 200 metros, mas antes esperaria sua vez em um ônibus exclusivo com todos os "atletas" uniformizados à caráter. Com a aproximação do trecho de rua, daí sim cada um descia do veículo, pegava a tocha pela primeira vez e fazia o percurso. Na sequência, voltava ao transporte.
"Estava super nervosa. Não sou nenhum pouco atleta, só pensava que poderia deixar a tocha cair. Quando peguei a minha, ela não é super levinha não, me deu um medão. Deus me livre se eu virasse meme!", brinca.
Porém, para Camila, a lembrança dessa época tem o maior dos significados. "Foi um dos momentos mais importantes da minha vida. E olha que eu nem sabia que Campo Grande iria receber o revezamento! Eu era muito mocinha, só de ser selecionada foi super legal, uma ocasião mágica. Realmente, não é qualquer um que consegue ter a oportunidade na vida de segurar a tocha, menos ainda de participar do revezamento na própria cidade onde mora", considera.
Mas porque Camila cogitou vender a tocha? "Precisava do dinheiro. Antes mesmo de completar 18 anos, eu já tinha a vontade de ser independente, de ter uma casinha só pra mim e meu namorado. Quando anunciei em um grupo no Facebook, estava bem ansiosa. Até então eu estava desempregada, e não queria ter que depender dos outros para resolver minha vida, mas também não sabia muito bem como fazer. Ao mesmo tempo, estava com medo de perder algo tão precioso pra mim", esclarece.
Desde que se formou no ensino médio no final de 2019, Camila ingressou no curso de Engenharia de Alimentos na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), campus de Naviraí. Passou apenas 2 semanas tendo aulas presenciais até que veio a pandemia. Morando com os avós e longe da Capital, ficou assim até agosto de 2020, onde fez apenas o primeiro semestre. "Vi que não era muito minha praia. Meu sonho mesmo é fazer Direito e Psicologia, ser psicóloga e advogada".
Quando voltou para Campo Grande, passou alguns meses até conseguir o emprego no frigorífico da JBS, onde atua no setor de embalagens. Agora, ganhando 1 salário mínimo e recebendo cesta básica, vender a tocha ficou no passado.
"Estou há 3 meses trabalhando lá. Fui juntando um pouquinho dali e acolá e já neste próximo final de semana vou mudar de casa junto com meu namorado. Trocamos o São Jorge da Lagoa pelo Tijuca, mas a tocha não. Nunca mais! É a coisa mais valiosa que eu tenho", garante.
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