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Comportamento

Com pesqueiro só para elas, crianças autistas viveram dia de descobertas

Pesqueiro em Campo Grande foi fechado para ação que envolveu crianças e adolescentes autistas e famílias

Por Clayton Neves | 27/04/2025 10:17
Com pesqueiro só para elas, crianças autistas viveram dia de descobertas

Neste sábado (26), um pesqueiro em Campo Grande fechou as portas para um evento pra lá de especial, uma pescaria exclusiva para adolescentes autistas e suas famílias. A manhã de quebra de rotina foi dedicada à conexão, respeito e à descoberta de novas possibilidades.

A ação nasceu no grupo Amplitude ABA, especializado no atendimento de crianças e adolescentes com autismo. De acordo com o psicólogo Wagner Vilas Boas de Morais, um dos organizadores da pescaria, o encontro  faz parte de um trabalho de habilidades sociais desenvolvido no grupo.

"De 15 em 15 dias, temos encontros e fazemos as chamadas 'saídas sociais', onde eles colocam em prática o que aprendem no grupo", explica. Segundo ele, nesse ano a ideia foi usar o hiperfoco de cada um dos adolescentes para organizar os encontros.

Desta vez, a inspiração para o ‘rolê’ foi João, de 15 anos. Autista nível 3, o adolescente tem hiperfoco em pesca.“O João ama pescar. Então pensamos: por que não uma pescaria e levar todos eles para conhecer esse universo?", detalha Wagner.

Com pesqueiro só para elas, crianças autistas viveram dia de descobertas
João, de 15 anos, segurando peixe pescado por ele. (Foto: Juliano Almeida)

Com a ajuda da mãe do João, Naína Dibo, que também virou pescadora por causa do filho, o local foi reservado para a ação. "Tinha mãe chorando porque o filho estava interagindo e feliz com os outros. Infelizmente, essa interação social não é comum com muitas crianças autistas, que acabam ficando reclusas em casa. Muitas famílias enfrentam essa barreira, então, ter esse momento tem uma importância enorme”, relata.

Segundo ela, o diagnóstico do João veio com pouco mais de um ano de idade. "Ele parou de olhar pra gente. Eu até achei que ele estava surdo", relembra Naína. Naquela época, a falta de informação foi um duro obstáculo a ser enfrentado. "Tive que sair do Brasil para ter o diagnóstico, mas com certeza faria tudo de novo pelo meu filho", afirma.

A mesma dificuldade foi vivida pela professora Camila Miranda, que enfrentou um caminho demorado para entender o comportamento do filho mais velho, Samuel, hoje com 15 anos. Segundo ela, a jornada foi marcada pela falta de informação e o esforço para construir, do zero, uma nova rotina para a família.

Com pesqueiro só para elas, crianças autistas viveram dia de descobertas
Momento foi de interação e novas descobertas para crianças. (Foto: Juliano Almeida)

Desde pequeno, Samuel já dava sinais de que era diferente. Gostava de empilhar latas e enfileirar carrinhos, mas, por ser verbal e crescer rodeado de adultos, os sinais de autismo passavam despercebidos. "Na minha percepção, autista era aquele que ficava no próprio mundo", conta Camila.

A primeira desconfiança veio na escola, quando uma professora alertou que Samuel se comportava de maneira diferente dos colegas. A partir daí, começou uma maratona de dois anos em busca de um diagnóstico correto.

Sem encontrar respostas em Campo Grande, Camila precisou ir até Curitiba para confirmar o diagnóstico. “Cada autista tem suas especificidades. Não existe receita de bolo. O que funciona para um, pode não funcionar para outro", pontua.

Em eventos inclusivos, como a pescaria, onde fez questão de levar o filho, Camila vê a importância de abrir espaços para que as crianças com autismo possam conviver, explorar a natureza e criar novas experiências.

Com pesqueiro só para elas, crianças autistas viveram dia de descobertas
Além da pescaria, atividade com caiaque foi opção para curtir o pesqueiro. (Foto: Juliano Almeida)

"Isso ajuda eles a normalizarem situações que, para muitos, são estressantes, como contato com animais, cheiros e barulhos diferentes. Precisamos criar um ecossistema de inclusão envolvendo clínicas, escolas, universidades, empresas privadas... Eles têm capacidade, competências, habilidades. Só precisamos ajudar a encontrar o caminho certo para cada um", defende.

Ao todo, 25 pescadores voluntários e oito caiaqueiros participaram da ação para auxiliar a turma. ”É muito mais que uma pescaria, é uma chance para que eles experimentem algo novo e também se desenvolvam. Porque aqui eles fazem contato visual, perguntam como fazer para pescar, esperam o peixe morder a isca. Tudo isso é muito importante para eles porque desenvolve habilidades e autonomia, finaliza o psicólogo Wagner.

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Wagner é psicólogo e um dos organizadores da ação. (Foto: Juliano Almeida)

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