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Comportamento

Primeiro juiz negro do Estado, Aleixo Paraguassu é símbolo da consciência negra

Ele nasceu em Minas Gerais, mas vive em Campo Grande há 44 anos com a família e hoje se considera sul-mato-grossense

Lucas Arruda | 20/11/2017 06:15
Aleixo Paraguassu nasceu em Minas Gerais, mas se considera sul-mato-grossense (Foto: Paulo Francis)
Aleixo Paraguassu nasceu em Minas Gerais, mas se considera sul-mato-grossense (Foto: Paulo Francis)

Hoje ele é um senhor caseiro, de 80 anos, que fica a maior parte do tempo ao lado da esposa que tem alguns problemas de saúde. Mas o juiz aposentado Aleixo Paraguassu é um grande militante do movimento negro de Mato Grosso do Sul, uma inspiração lembrada por muitos neste Dia da Consciência Negra.

Aleixo nasceu em Minas Gerais, teve infância e adolescência bem difíceis, com extrema dificuldade financeira. “Até uma parte da vida adulta também, quando me casei e estava com dois filhos, também tínhamos bastante dificuldade. Foi só quando passei no concurso que fui tendo melhores condições”, afirma.

Antes de se tornar juiz, ele era militar e foi até delegado de polícia. Chegou aqui há 44 anos, ainda no Mato Grosso uno. Determinado e estudioso, derrubou a primeira barreira racial quando passou em primeiro lugar no concurso para juiz. Na época, o País ainda vivia sob regime militar e a ditadura não permitia que se falasse de racismo, já que a propaganda era de um país “igual”.

Foi só quando os militares saíram do poder que ele pôde levantar a bandeira e lutar por mais direitos. “Acredito que o negro no Brasil já nasce militante, já atuava contra o racismo antes do regime militar terminar, mas foi só depois que podíamos nos manifestar abertamente”, conta.

Ele sempre lutou por espaço na sociedade e afirma que, pelo menos no Judiciário, nunca sofreu algum tipo de racismo. Depois que se aposentou, chegou a ser secretário de Segurança Pública do Governo do Estado. “Uma vez, durante uma entrevista, me perguntaram se eu achava que realmente existia racismo mesmo por aqui, já que eu tinha bastante espaço, era secretário do governo. Respondi perguntando quantos secretários de segurança negros haviam no Brasil. Não houve resposta e foi então que confirmei quando a exceção faz a regra”, lembra.

Da vontade de diminuir as exceções, surgiu uma instituição para ajudar jovens sem condições financeiras a estudar. “Eu passei por muitas dificuldades, foi muito difícil eu conseguir estudar, então decidi ajudar quem precisa disso”, ressalta.

Turma do Instituto Luther King. (Foto: Reprodução/Instagram)
Turma do Instituto Luther King. (Foto: Reprodução/Instagram)

Foi assim que em 2003 nasceu o Instituto LutherKing, que hoje atende 140 adolescentes com curso pré-vestibular anualmente. “Quando começamos formávamos a metade disso, conseguimos aumentar com o tempo”, frisa.

Para ter acesso ao curso os estudantes têm que comprovar uma renda menor que um salário mínimo e meio por família, ter estudado em escola pública. Como a maior regra é a igualdade, 45% dos estudantes de cada turma devem ser brancos, 45% negros, 5% portador de alguma deficiência e 5% indígena.

“Fico muito feliz quando eu fico sabendo que um antigo aluno de lá estudou, se formou, fez mestrado, concluiu um doutorado, que eu nunca consegui fazer, e se tornou professor universitário. Me sinto realizado no sucesso deles”, conclui.

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