Quando o afeto fala mais alto, até o mais durão se rende à cartinha de Natal
Quem passar pela rodoviária pode escrever uma carta especial e o envio é gratuito
Que tal parar e escrever uma cartinha desejando boas festas? Fim de ano é o momento de lembrar e agradecer as pessoas que foram importantes na sua vida e te ajudaram a chegar até aqui. O Terminal Rodoviário Senador Antônio Mendes Canale está com uma campanha gratuita e oferece cartões em branco para preencher ou se preferir têm recados prontos, basta escrever o endereço para que o bilhete seja entregue antes do Natal.
Campanha Cartão Social Socicam começou no dia 9 de deste mês e continua até amanhã (20), na parte de dentro do terminal, perto da árvore natalina. Os recados e bilhetes em branco ficam em cima de uma mesa, a partir das 14h. O Lado B esteve no local para acompanhar a ação e encontrou duas priminhas, Fabiana Cordeiro e Faila Emanuele Cordeiro super empolgadas na hora de escrever.
Com papel e caneta na mão, Fabiana decidiu escrever perguntando à tia se gosta do Natal. “Eu gosto e estou dizendo que é o feriado mais esperado do ano e todos gostam. Desejo um Feliz Natal e um próspero Ano Novo. Sempre escrevo cartinha de Páscoa, aniversário para meus pais”, conta.
Ela tem 11 anos e aguardava a viagem para Sonora, onde entregará pessoalmente o recado a tia querida. Fabiana estava na companhia da avó Carmem, que revelou nunca ter gostado de escrever recados, no entanto, adora quando as netas fazem isso.
Aos 9 anos, Faila viu a prima sentada na cadeira escrevendo e decidiu escrever um cartão também, mas o recado é para os pais que vão passar o fim de ano sem ela. “Tô desejando Feliz Natal e que tenham muitas festas. Gosto muito da minha mãe, mas as vezes gosto de viajar também”, explica. Ela aprendeu a escrever aos 7 anos e desde então gosta de expressar seus sentimentos através da escrita.
Gecier Pereira quis escrever um recado para a mãe que mora em Maracaju, mas ficou nervoso na hora que pegou a caneta e viu o papel em branco. Sem saber muito o que falar, escreveu o verso “pense em mim quando não puder me esquecer”. Aos 35 anos, ele comenta que veio para Campo Grande há quatro anos, porém sempre que pode viaja.
Ele trabalha de serviços gerais numa loja da rodoviária e desde que começou a campanha estava esperando uma oportunidade de dar uma escapadinha do serviço para escrever. A mãe foi a única pessoa que passou por sua cabeça, já que é a mais importante de sua vida. “Ela é tudo pra mim. Ensinou-me a sorrir até nos momentos difíceis”.
Para Gecier, os tempos mudaram, mas o sentimento não. “Antes o Natal era mais romantizado, com recadinhos e hoje está esquecido. É importante escrever porque é um recado de coração para que tudo seja positivo na vida dela”, destacou o filho cheio de saudade da mãe.
Depois disso, a mesa ficou vazia e ninguém mais foi até o cantinho natalino. Várias pessoas aguardavam para embarcar e a ansiedade era tanta que não prestavam atenção em nada. A repórter pegou alguns cartões e foi até os passageiros para conversar. Eles estranharam a aproximação, ainda mais oferecendo cartas na época que costumam fazer tudo pelo WhatsApp.
Os mais antigos não curtiram a ideia, talvez por não saber escrever e ter vergonha de pedir ajuda, ou talvez por vergonha de expressar o sentimento. Recebemos cinco “não”, até que o sexto se rendeu a cartinha. “Sou durão, não gosto dessas coisas, mas minha esposa está doente e vai achar legal”, diz Paulo Borges.
Ele é de Lucas do Rio Verde – MT e aguardava o ônibus para ir a Curitiba, onde pegaria um caminhão do trabalho e tentará voltar a tempo para a casa. Paulo comenta que todas as datas comemorativas do calendário perderam a graça após o falecimento dos pais. “Antes era uma delícia, mas hoje perdeu o encanto. Tenho dois filhos que também são assim”, fala ele sem saber o motivo, mas imaginando que a “culpa” pode ser de sua influência.
Para ficar mais fácil, escolheu um cartão com recado pronto e só acrescentou os dados pessoais para a entrega. Na rodoviária, aguardava a viagem para Curitiba, onde visitaria os filhos e pegaria um caminhão do trabalho para voltar pra casa a tempo das festas. “Vou tentar. O recado deve chegar antes de mim e ela vai a adorar porque é romântica”.
Numa mesa distante da aglomeração do embarque estava o casal, Thiago Cabreira e Rhangelma Gracie, com o filho Pedro de 4 anos. São de Aquidauana, mas estavam aguardando o ônibus para Mato Grosso onde reveriam a família da esposa. Ao oferecer a cartinha o marido aceitou e a primeira pessoa que passou na sua mente foi a sogra, Janair. “É minha segunda mãe, queremos mostrar que sempre lembramos dela, que é uma pessoa importante”, afirma.
Uma vez por ano costumam revê-la, mas este mês é especial por conta do Natal. Rhangelma ficou feliz ao ver a reação do esposo e disse. “Ela é tudo pra gente, pra mim. Me ensinou a cozinhar e agora sempre quando faço a receita do escaldado lembro dela”.
Vanessa Padilha é estudante de medicina e escreveu para uma amiga de Goiás, que é foi sua vizinha por 12 anos. “Tem dois anos que sai de lá, mas mantemos a amizade. Ela sempre me ajudou a criar meus filhos, é muito importante na minha vida”.
Na hora de colocar o recado no papel ficou sem assunto, mas logo uma luz acendeu e preferiu um recado mais simples, desejando boas festas. “Devo chegar antes do recado e vou matar a saudade por dois meses”, comenta.
Após terminar de preencher entregou o cartãozinho para uma pessoa que está responsável em cuidar dos envelopes e foi aguardar o ônibus. Quem ainda não escreveu e estiver passando pela rodoviária pode pegar um cartão na mesa no período vespertino. Lembrando que a campanha encerra amanhã, assim todas os recados serão entregues a tempo.