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Comportamento

Quantos encontros você já marcou para depois da quarentena?

Seja um café, churrasco ou até uma cervejinha no bar, agora é o momento de não deixar as pessoas importantes saírem de sua vida

Alana Portela | 26/04/2020 08:41
Poliana e o marido Rafael (casal à direita) eternizaram um dos encontros que fizeram com os amigos antes da quarentena, o casal Sarah e Diego. (Foto: Arquivo pessoal)
Poliana e o marido Rafael (casal à direita) eternizaram um dos encontros que fizeram com os amigos antes da quarentena, o casal Sarah e Diego. (Foto: Arquivo pessoal)

Se tem uma coisa que esse isolamento por conta do coronavírus em Campo Grande tem ensinado, é dar valor às amizades. Já tem mais de um mês que tudo paralisou e que devemos ficar em quarentena, sem contato social, para evitar a propagação do vírus. Mas, que tal aproveitar esse momento e marcar encontros para depois que a epidemia passar?

Sim, ainda não se sabe quando tudo isso vai acabar. Nem os médicos e nem as secretarias de saúde do Estado e da Capital estipularam um prazo para isso acontecer, apesar da flexibilização acontecer aos poucos. No entanto, em algum momento, você já deve ter se visto num canto da casa, revendo as fotos dos rolês que fez e relembrando os momentos bons. A saudade aperta o peito cada vez mais e saber que poderá estar novamente perto das pessoas que gosta, dá esperança de dias melhores.

Seja para um café, churrasco ou até para tomar uma cerveja no bar, só o convite já serve como alento para o coração. Foi com essa esperança que Poliana Felix Araujo combinou vários encontros para depois que isolamento acabar.

Poliana e a amiga Sarah, as duas não se encontram há seis meses. (Foto: Arquivo pessoal)
Poliana e a amiga Sarah, as duas não se encontram há seis meses. (Foto: Arquivo pessoal)

“Marquei comemoração com as mulheres que fiz o curso de doula. Quando a quarentena passar, vamos nos encontrar em algum bar para comemorar nossa formação. Combinei cerveja com uma amiga bem próxima, que estamos morrendo de vontade e contando os dias para poder beber juntas novamente. Tem o café com as mães de um grupo da pediatra do meu filho, para nos conhecermos”, conta.

E as anotações da agenda não param por aí. Ainda tem o churrasco com os amigos mais próximos e uma viagem que deseja fazer com três amigas fotógrafas para Costa Rica, 327 quilômetros distantes de Campo Grande, onde desejam aproveitar as cachoeiras para relaxar.

Poliana tem 33 anos, é bióloga e fotógrafa de parto e família. Esperançosa, ela acha que os compromissos poderão ocorrer em junho. “Está pré-marcado para esse mês, porém, só iremos nos encontrar mesmo se já tiver tudo tranquilo”, afirma.

Ela sempre gostou de estar próxima de quem ama. Costumava marcar os encontros antes mesmo da quarentena começar. “Sou uma pessoa que necessita, pelo menos uma vez por semana, ver os amigos, ter uma reunião, ou ir num bar, churrasco, o que quer que seja”.

“Ficar em quarentena tem me deixado bem ansiosa. Dá uma vontade maluca de abraçar todo mundo, de olhar no olho, e valorizar ainda mais esse contato com os amigos”, destaca. “O abraço, toque, essa coisa do calor humano, da gente se sentir livre, de rir, não viver essa tensão diária”.

Poliana relata que até tentou fazer um vídeo chamada em grupo, mas não foi a mesma coisa que estar presente no mesmo local, com várias pessoas e conversando sobre assuntos diversos. “Sinto falto do ar livre, de sentir a liberdade e estar rodeadas de amigos”.

Dos encontros mais esperados, está a cervejinha que marcou com uma amiga que conhece há seis anos, mas não vê há seis meses. “Ela é super amorosa, cheia de vida, energia, alto astral, sorridente. É daquelas que faz bem ter por perto”.

A psicóloga e psicanalista, Isangela Lins Almeida relata que conviver com pessoas é o que nos humaniza. “Só uma mãe pode dar vida a uma criança, no sentido de gerar e, após isso, alimentá-la e cuidar para que o filho escape da morte. É com o outro que me constituo. Estamos falando de amor. Quantos por ques você quer para justificar rever uma pessoa que é gostada/amada? Até a resposta porque sim é suficiente”.

Ela atende na Parlêtre – Espaço de Psicologia e Psicanálise da Capital. Isangela conversou com o Lado B e explicou alguns comportamentos que temos em relação ao sentir necessidade de estar com pessoas queridas. Durante o bate-papo, lembrou que o período de isolamento não terminou.

Combinar um café com o amigo também pode ser uma forma de matar a saudade. (Foto: Marcos Maluf)
Combinar um café com o amigo também pode ser uma forma de matar a saudade. (Foto: Marcos Maluf)

“Algumas atividades voltaram e só devemos voltar ao que for extremamente necessário. O ideal ainda seria mantermos o isolamento. Essa saída deve ser feita lembrando-se de tudo que foi aprendido nesse tempo, como a importância da higienização e do lavar as mãos”.

O isolamento é importante e tem feito algumas pessoas gostarem de ficarem sós. Porém, é importante se abrir para o mundo. “Sem ele, seriamos apenas uma pedra, que nada pode modificar, criar ou gerar”.

Quando se tem contato com outra pessoa, a gente deixa aquele mundo particular. “Sai do meu espelho narcísico e o outro me questiona, me indaga, me causa, faz eu me mover. O amigo é aquele em que supostamente nos unimos por nossas semelhanças, mas as nossas diferenças nos fortalecem muito mais. O amigo acolhe o nosso melhor e pior. Como é popular dizer, ele é aquele irmão que a vida deu, um presente dado pelo acaso dos encontros da vida”, destaca.

Apesar de ter celular, computador ou televisão em casa para se distrair durante o distanciamento, ainda assim falta algo que faz querer o contato visual, o toque. “Saudade de ouvir vozes de verdade, não vozes mecânicas dos aplicativos, das trocas espontâneas, dos olhares indiscretos, do aconchego que um abraço que só um amigo pode dar, mesmo que sem palavras. É isso que a tecnologia não substitui, o corpo”.

Para Isangela, qualquer um que já teve um abraço, um beijo, um olhar, ouviu aquela risada ou o coração disparou quando sentiu o cheiro de quem se ama, sabe a importância desse encontro tão desejado. “As coisas são formas de demonstrar amor, para que se atinja o objetivo do encontro com esse outro ser que é amado.  Só pensar nos filmes de ficção científica, de inteligência artificial (Black Mirror, Her, entre outros). As máquinas podem superar a inteligência, mas jamais irão superar o abraço”.

Retornar ao convívio social após essa turbulência pode acalmar o coração e fazer refletir sobre o que realmente importa. “Os corações estão saudosos. Provavelmente, as pessoas puderam reavaliar algumas prioridades, reavaliar a importância das coisas e pessoas”, diz.

Assim como a presença é importante a solidão também é. A partir desse momento, cada qual terá a oportunidade de saborear melhor esses momentos. “Também que as pessoas mantenham os sentimentos de solidariedade que surgiram na ajuda ao próximo, dando valor a vida, fazendo sim que ela valha todo esse esforço político, social e pessoal”, finaliza Isangela.

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Poliana, Pamela e Renata, se tornaram amigas num curso de doula e estão à espera daquela cervejinha. (Foto: Arquivo pessoal)
Poliana, Pamela e Renata, se tornaram amigas num curso de doula e estão à espera daquela cervejinha. (Foto: Arquivo pessoal)


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