Rotina nas ruas mostra que comprar moto vem antes de tirar a Habilitação
Cultura de adquirir o veículo para depois conseguir a habilitação potencializa o perigo
Nos últimos 12 meses, mais de 25 mil pessoas se tornaram aptas para pilotar motocicletas em Campo Grande, mas isso é uma parcela muito pequena perto das 145,5 mil motos ativas na frota. Para especialistas de trânsito, muitos aprendem a pilotar com os amigos e apostam nos ganhos econômicos, mas não fazem ideia dos riscos que estão expostos.
De acordo com o painel de informações digitais do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), a Honda Biz 125 cilindradas é a preferida, com 35 mil exemplares no Estado. E quando falamos de acidentes de trânsito, os motociclistas correspondem a 70% das vítimas fatais em 2023.
Para a diretora de Educação do Detran, Andrea Moringo, os números são reflexo da cultura de adquirir a motocicleta para facilitar o transporte de forma econômica, mas demoram para passar pelo processo de habilitação.
“Algumas vezes as pessoas priorizam a aquisição e só depois pensam na habilitação. Nesse sentido, aprendem a pilotar sozinhos ou com amigos, sem ter o conhecimento necessário para enfrentar os riscos que se apresentam no trânsito das cidades e rodovias. Falta de percepção de risco, acham que não estão se expondo aos riscos, mas é um grande engano”, alerta Andrea.
Outro fator, ainda segundo a diretora, é a facilidade para compra e a demora para terminar todas as etapas exigidas no processo para ter a CNH (Carteira Nacional de Habilitação).
“Os motivos principais são: o custo da CNH, o tempo de duração do processo em si, que dura alguns meses. Sendo que o processo de obtenção da habilitação compreende várias etapas importantíssimas para que o condutor aprenda os conhecimentos necessários para pilotar ou conduzir com segurança”, conclui.
É exatamente o alto custo da carteira de habilitação, que ainda traz exigências de escolaridades, que forçou um trabalhador de 46 anos, vindo de Alagoas, sem saber ler ou escrever, aprender a pilotar sozinho.
"Comprei minha primeira moto tinha 25 anos, não tinha habilitação, não tenho até hoje. Sou alagoano, não tenho estudo. Fazem 26 anos que moro aqui, vim do nordeste, não consegui tirar, não sei ler. Aprendi sozinho a andar lá no nordeste. Tinha um patrão que trabalhava com ele e não tinha ninguém pra levar, aí aprendi. Vim pra cá porque aqui é um lugar bom, tem serviço", compartilha.
Ele tem consciência do quão perigoso é não ter passado pelo processo, pois quer viajar sobre as duas rodas. "O meu sonho é tirar habilitação, pra poder viajar. Tenho moto mas não posso ir pra longe, ai fica essa velhinha, tem que ficar em casa. Queria comprar uma moto melhor, tenho condições, mas não tem habilitação, não compensa. Sei que estou errado, mas só vou pro serviço e ando de bike".
Já um entregador de gás do bairro Serradinho, de 42 anos, assume que aprendeu a pilotar aos 15 anos, mas só tirou a CNH dez anos depois. "Aprendi sozinho, montei e fui andando. Tenho duas filhas, não deixaria ela fazer isso. Antigamente era mais tranquilo, hoje o trânsito é muito pesado", observa.
Para tentar diminuir os índices desses acidentes, onde as vítimas têm menos de 25 anos, o Detran está promovendo campanhas maciças de educação em parceria com vários outros órgãos e Centros de formação de condutores. Também estão reforçando equipes de fiscalização nas ruas.
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