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Comportamento

Sonho de jogar futebol virou força para salvar crianças da criminalidade

Matheus Nunes, de 22 anos, criou a escolinha Clube Athletico Campo Grande para tirar a criançada das ruas

Por Idaicy Solano | 09/10/2024 07:03
Projeto acolheu 90 crianças e adolescentes; foto mostra parte do time (Foto: Arquivo Pessoal)
Projeto acolheu 90 crianças e adolescentes; foto mostra parte do time (Foto: Arquivo Pessoal)

Assim como boa parte dos meninos, Matheus Nunes, de 22 anos, também já sonhou em um dia ser jogador profissional de futebol. Mas a realidade bateu na porta cedo, e logo o jovem teve que desistir dos seus sonhos para trabalhar.

Sem nunca deixar o sonho de lado, ele viu o antigo desejo se transformar em um propósito ainda maior: transformar a vida das crianças e adolescentes carentes da região norte de Campo Grande e ‘salvá-los’ de cair nos braços da criminalidade, através do esporte.

Pato relata que cresceu cercado pela criminalidade. Ainda criança, detalha que viu muita coisa acontecer, desde jovens sendo presos, até assassinatos. Para tentar tirar o máximo de crianças e jovens das ruas e da ociosidade, ele decidiu montar um time de futebol.

No início, era apenas para a turma se juntar no campinho e se distrair jogando bola, mas a comunidade foi aos poucos abraçando a ideia, e cada vez mais pessoas começaram a procurar ele, querendo participar. Foi então quando decidiu criar a escolinha Clube Athletico Campo Grande, e ‘ver se ia dar certo’.

“Aqui no meu bairro, quando eu era pequeno, passei por muito aprendizado, vi muita coisa acontecer. Já vi pessoas morrendo e vendendo droga, fazendo coisa errada. Eu tinha vários amigos que estava perdendo pra criminalidade e drogas, e aí eu decidi levar eles, e principalmente os mais novos, pro campo.  Alguns não consegui, mas a gente tentou”, comenta.

O clube foi fundado em 2018, sem apoio financeiro algum, e atualmente todos os gastos eventuais são bancados por Pato. Sem emprego fixo, ele comenta que trabalha de forma autônoma, fazendo ‘bicos’, e afirma com tranquilidade que 90% de sua renda é destinada ao clube.

O projeto é gratuito, portanto, ele não cobra nada para treinar as crianças. Apenas o valor do uniforme é custeado por cada aluno, e no caso dos mais carentes, a comunidade organiza eventos para arrecadar dinheiro ou custeiam por meio de doações.

Para participar dos campeonatos, inclusive, é uma força tarefa com uma mão ajudando a outra. Pato relata que os pais que têm carro ajudam no transporte dos jogadores, e quem pode, contribui para pagar o uber. O restante, ele tira do próprio bolso para ‘fazer acontecer’.

“Todo dinheiro que passa na minha mão é direto pro projeto. Faço isso do fundo do meu coração. Ainda não entendi porque faço isso, mas tudo que penso, em primeiro lugar coloco o meu projeto”, declara.

Apesar do perrengue, Pato afirma que não deixa os problemas financeiros ou dificuldades desanimá-lo, e sempre encontra no rosto de cada criança e adolescente do clube, um motivo para continuar com seu propósito.

“Às vezes a gente tá cheio de conta e problema pra resolver e pagar, e às vezes a cabeça tá quente, mas só de chegar no campo e ver uma criança sorrindo e te abraçando, já faz seu dia. Não trocaria nenhuma outra profissão pelo que eu faço hoje. Prefiro servir a eles do que àqueles que não merecem”, expressa Pato.

Treinos acontecem semanalmente, com apoio de espaços públicos da comunidade (Foto: Arquivo Pessoal)
Treinos acontecem semanalmente, com apoio de espaços públicos da comunidade (Foto: Arquivo Pessoal)
Time feminino tem 20 meninas em campo (Foto: Arquivo Pessoal)
Time feminino tem 20 meninas em campo (Foto: Arquivo Pessoal)

O treinador ainda revela que mais da metade dos alunos cresceu em um lar carente, não apenas no aspecto financeiro, mas também no sentido afetivo. O abandono paterno é uma realidade comum entre muitos dos meninos e meninas que fazem parte do time.

O clube não tem sede própria, então Pato conta com o apoio da comunidade para conseguir espaço para os alunos treinarem. Os treinos acontecem às segundas e quartas-feiras no campinho de futebol do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) Vida Nova e às terças e sextas-feiras no campinho do bairro Tarsila do Amaral. Ao todo, são 90 alunos, entre cinco e 16 anos, e um time de 20 meninas, de 13 a 19 anos.

Futuramente, ele sonha em abrir um instituto de apoio e acolhimento, para atender um número ainda maior de crianças, e oferecer mais atividades, além do futebol e atender também a comunidade carente da região norte da cidade.

Pato se orgulha de, neste ano, ter emprestado 10 atletas de seu clube para jogar no campeonato estadual de Mato Grosso do Sul, o que acende a esperança de, algum dia, sair algum jogador profissional da escolinha.

“Eu jogo bola também, mas não tive tanta oportunidade, corri atrás e não consegui. Eu não tive esse apoio quando criança, então quero proporcionar isso pra eles. Meu intuito é transformar a vida deles, incentivar a ter uma profissão, estudar, sair da criminalidade”, finaliza.

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