Sorte de quem ainda faz “cartaz raiz” é ter spoiler de ofertas
Na profissão de cartazista, Joãozinho não nega que assim que vê uma promoção "daquelas" até já se programa para o dia de mercado
Aos 28 anos, João Batista Farias Alves é paraense de nascença, mora há pouco mais de dois anos na Capital e foi aqui, distante 2.754 quilômetros da sua cidade natal, que pode realmente se descobrir "mestre dos anúncios". Trabalhando com o que gosta e levando o maior jeito, ele fica sabendo tudo que é promoção e oferta "daquelas" nos supermercados de Campo Grande, isso antes mesmo dos próprios consumidores.
Por causa da profissão, Joãozinho – como é conhecido – pode programar de antemão o melhor dia de mercado para ir na companhia da esposa Juliana, fazendo juntos a comprinha da semana e economizando a rodo.
"Tem vezes que 2 dias antes eu já fico ciente de tudo que vai veicular na terça da carne ou quinta verde, porque preciso dos preços com antecedência. Não vou negar que quando vejo uma boa promoção já programo a minha ida ao mercado para garantir a oferta. Fora que até dá para eu e Juliana compararmos os preços com outros estabelecimentos. É o lado bom da minha profissão!", brinca.
Confeccionando cartazes, faixas, banners e demais materiais de comunicação para uma rede de supermercados da Capital, Joãozinho exerce a atividade de cartazista, isto é, o propagandista visual que faz à mão os anúncios "amarelos-vermelhinhos" que serão lidos e procurados por toda a clientela da compra.
Mesmo que de forma informal, a história dele na função já vem de longa data. Quando criança, costumava mais desenhar na carteira da escola do que prestar atenção nas aulas. Aos 13 anos, seu primeiro trabalho foi no cemitério municipal de Capanema, cidade onde nasceu e foi criado.
"Em datas muito significativas, como por exemplo o dia de Finados, eu perguntava aos familiares se gostariam que eu reescrevesse na lápide os nomes dos seus entes queridos, principalmente quando já estava bem apagadinho. Muitos elogiavam minha letra e eu até ganhava uns trocados, às vezes R$ 10 ou R$ 20 pelo serviço", relembra.
Já em 2013, ainda no Pará, Joãozinho foi trabalhar em uma loja de utilidades que tinha o costume esquisito de não marcar os preços nos produtos. Foi aí que o lado cartazista entrou em jogo: resolver ser proativo e fazer por conta própria etiquetas e cartazes que mostrassem de forma atraente os valores aos clientes.
À procura de novos ares – até mesmo porque o emprego em Capanema estava escasso –, tomou uma atitude de fé e veio, na cara e na coragem, caçar trabalho junto com a família. Em 2018, à convite da cunhada, veio parar em MS.
"Chegando aqui não foi todo esse mar de rosas, não. Passamos por muitas dificuldades. Até 'apertei' um pouco minha barriga para não ver minhas filhas chorarem de fome. Quase desisti de tudo e pensei em retornar ao Pará, mas essa não foi a vontade de Deus", opina.
Seu primeiro emprego em Campo Grande foi justamente em um supermercado, mas na função de operador. Fazia serviços gerais, repunha estoque, limpava e organizava o que era solicitado. Passado algum tempo, se entregou novamente no talento de cartazista nato, mesmo não sendo pago como um profissional da área.
"Ganhava um salário baixo e ainda exercia 2 atividades. Quando questionei isso ao gerente, ele disse na minha cara que essa 'coisa de cartazista' não existia e que tudo não passava de uma mentira. Dali em diante vi que não ia mais rolar ficar por lá", ressalta.
Passados 3 meses, Joãozinho conseguiu a indicação de uma vaga justamente na área que mais procurava: de propagandista visual. "Hoje atuo numa rede que inclusive leva o mesmo nome que o meu. São 3 lojas que escrevo os anúncios, onde estou fixo há 9 meses. Agora, minha função é só de cartazista mesmo", se alegra.
Nas ferramentas de trabalho, basta apenas um cartaz e uma caneta na mão de Joãozinho para que ele escreva preços, ofertas e o que mais for de interesse na divulgação. As "folha" são especiais, inclusive as faixas de polietileno. No "kit escrita" – onde são guardados os instrumentos – tem de canetão preto/vermelho até canetinha permanente e caneta marcador tipo poster. Todas elas têm refil, ou seja, são reutilizáveis. Estilete, régua e outros materiais também são usados por Joãozinho.
"Apenas limpo tudo para 1 vez por mês para que não estraguem. Tem que ficar guardada certinha no kit escrita, para que fiquem úmidas dentro do recipiente", alerta.
Sobre o sentimento de finalmente ter se tornado um artista na área, Joãozinho assegura que seu sonho é ainda maior. "Quero crescer junto da empresa que estou para que cada vez possa escrever mais cartazes e, quem sabe, até abrir um negócio próprio no ramo da propaganda visual. Não somente o dono de lá me ajudou, mas também reconheceu a importância do meu trabalho. Deus é bom, né?", finaliza.
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