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Comportamento

Todo homossexual já tentou a tal cura gay, mas é claro que não deu certo

Lucas Arruda | 20/09/2017 08:10
Junior chegou a se relacionar com garotas no início da adolescência, mas logo se aceitou homossexual (Fotos: Marina Pacheco)
Junior chegou a se relacionar com garotas no início da adolescência, mas logo se aceitou homossexual (Fotos: Marina Pacheco)

Ser diferente é algo que torna único todo ser humano. O problema é quando nossa diferença perturba os outros e vira preconceito. O último equívoco dessa equação bizarra é a volta da cura gay ao debate, após um juiz liberar o tratamento atendendo o pedido da psicóloga em processo aberto contra o Conselho Federal de Psicologia, no Distrito Federal.

Mas com base na experiência de todo homossexual, uma coisa é certa: não há tratamento para o que não é doença. O que se percebe é que todos, mesmo que na infância, já tentaram se enquadrar por pressão de quem defende padrões. Ou se esforçaram para se apaixonar por uma mulher ou se esconderam. Independente da estratégia, o resultado sempre foi o sofrimento.

Diego orou bastante para ser hétero. Depois de adulto largou a religião e se tornou ateu
Diego orou bastante para ser hétero. Depois de adulto largou a religião e se tornou ateu

O servidor público Diego Rodrigues, de 30 anos, tentou a autocura gay na adolescência, diante de uma criação rigorosa, dentro da igreja Testemunhas de Jeová. Ele entendeu que não tinha os mesmos sentimentos por meninos e meninas no início da puberdade, quando começaram os desejos sexuais.

“Não sentia atração por meninas, então guardei pra mim e quis mudar isso aqui dentro. Não consegui, claro, mas não me relacionei com ninguém até meus 18 anos. Eu achava que era errado, não era natural, ia contra Deus, orava bastante para que ele mudasse isso dentro de mim”, recorda.

Depois de completar 18 anos, ele resolveu viver o que sentia, sem contar isso para a família ou amigos. Quando estava com 22 anos todos descobriram, e Diego acabou expulso da igreja e também de casa. Um dia, a solução que pareceu menos sofrida foi o suicídio.

“Os Testemunhas de Jeová até aceitam homossexuais, desde que eles não tenham relações sexuais. Nessa idade descobriram que eu já havia me relacionado e rolou tudo isso. Tentei me suicidar depois disso, mas tudo acabou dando certo. Só não tenho contato com minha família porque pela religião eles não podem conversar com quem tem relações homossexuais”, pontua.

Sobre a cura gay ele é enfático em se dizer contra. “Meu marido chegou a ser medicado pela família quando era adolescente, sendo que nem mesmo entedia o que estava acontecendo. Isso prejudica a autoestima, o desenvolvimento no trabalho, nas relações pessoais”, avalia.

Bruna chegou a namorar dois homens até aceitar que era homossexual
Bruna chegou a namorar dois homens até aceitar que era homossexual

As histórias de quem descobre a homossexualidade são sempre parecidas e assumir nunca é fácil, mesmo com o apoio da família. O auxiliar administrativo Júnior Matarazzo percebeu que era homossexual aos 14 anos e tentou ter relações com mulheres. “Fiquei com garotas para tentar me adequar, mas logo vi que não era isso e me libertei. Foi muito melhor assim, toda minha família me aceitou sem grandes problemas”, declara.

Já para a professora Bruna Nogueira, de 26 anos, foi um pouco demorado até entender corretamente seus sentimentos em relação às mulheres, por conta de não ter convívio com homossexuais até então. “Percebi que não era heterossexual por volta dos 15 anos. Cheguei a namorar dois homens, mas vi que não era isso que eu realmente queria”, conta.

“Fiquei com garotos para tentar me adequar, mas logo vi que não era isso e me libertei. Foi muito melhor assim, toda minha família me aceitou sem grandes problemas”, declara.

Bruna se casou e até fez uma tatuagem com sua companheira para simbolizar a união com a estilista Aline Macário. Uma desenhou um coração e outra um diamante, ambas com frases dizendo “Mutant and Proud”, no português "mutante e orgulho".

“Pegamos essa fala do X-Men, que desde o início foi inspirado na luta das minorias, é algo que uma mutante diz para outro que sempre tentou a cura de sua mutação. Ela diz que ele deve ter orgulho de ser ele mesmo”, enumera.

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Bruna fez uma tatuagem para celebrar a união com sua companheira (Foto: Arquivo Pessoal)
Bruna fez uma tatuagem para celebrar a união com sua companheira (Foto: Arquivo Pessoal)
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