Um dia as meninas crescem e escolhem as mães como colegas de trabalho
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Na cadeira do dentista ou nos palcos de dança. Das brincadeiras no expediente das mães, filhas que viram nascer a vocação profissional pelas mãos do exemplo mais próximo e decidiram seguir o mesmo caminho. No espelho, o reflexo revela “tal mãe, tal filha”.
Renata Santos Belchior de Barros já nasceu dentro do consultório da mãe. Odontopediatra, Maria Marizete Santos Belchior dos Reis, sempre teve o trabalho conjugado a casa. O que separava residência da cadeira do dentista era apenas uma parede.
No período de férias da secretária, Renata, hoje com 39 anos passava o dia no consultório entre atender telefones, marcar consultas e receber pacientes. A reação das crianças que não gostavam da cadeira era ouvida de perto. E nem isso lhe causava espanto. Desde menina soube que a vocação era lidar com pequenos.
Ao escolher a profissão, ainda no primeiro ano do que hoje é denominado Ensino Médio, fez a opção por Odontologia. Ao entrar na faculdade, de cara começou a auxiliar a mãe no consultório. Seguir os mesmos passos dela incluiu também cursar a especialidade em Odontopediatria na Universidade onde a mãe se formou, em Recife. “Eu convivi com professores que deram aula para o meu pai e minha mãe”, conta Renata.
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O dia a dia é dividido com a mãe, no consultório na avenida Mato Grosso. Das lições que a filha tirou tendo Marizete como exemplo foi aprender diariamente. “É um aprendizado de vida que você recebe aos poucos. Ela foi me passando a relação com paciente, família, aprender a superar as expectativas negativas dos pais. Ela é uma enciclopédia ambulante, com o título de mãe”, fala a filha Renata.
Marizete diz que já sabia que a filha seguiria os mesmos caminhos desde a quarta série do ensino fundamental, quando Renata descreveu em uma redação, o diálogo entre uma escova e a pasta de dentes. “A escova dizia olá pasta, você quer limpar os meus dentes? Foi uma redação premiada”.
Hoje, com 44 anos de profissão, mãe resolveu dar mais espaço a filha, reduziu o número de atendimentos e sente o maior orgulho ao ouvir a frase “a senhora se importa se eu ficar com a Renata?” vinda dos clientes.
“Eu amo tanto ser dentista, que na verdade é um privilégio de ter uma filha como a Renata sendo dentista e dando continuidade ao meu caminho”, resume orgulhosamente a mãe.
O relacionamento mãe, filha e a dança começou há 10 anos, quando Cláudia, a mãe, colocou Thayná para dar as primeiras piruetas. De início, nenhuma das duas imaginava que hoje mãe e filha dividiriam a profissão de bailarinas e professoras de dança.
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“É engraçado, porque quando a Thayná começou a fazer aula, eu falava ela nunca vai ser bailarina, não tinha um pingo de jeito. Eu via que ela gostava, mas não sentia que era um sonho dela”, conta a mãe Cláudia Ferreira de Moura, de 39 anos.
Quando a menina começou a entrar na adolescência, foi que a professora de dança percebeu um melhor desenvolvimento. “Aí ela começou a ir comigo onde eu trabalhava e me ajudar. Quando a gente viu, foi naturalmente, nada forçado, ela pegou um amor, um gosto pela dança que é o mesmo amor que eu tinha”.
Thayná Moura Matias, hoje com 16 anos, se decidiu por seguir a carreira profissional. Quer fazer Educação Física e continuar a ensinar crianças a dançar. “Fui pegando gosto, pegando amor pelas crianças e formou uma coisa assim, que eu amo”, descreve a adolescente.
A felicidade foi quando aquilo que Cláudia percebeu foi dito em palavras, na frase de que era dançar e ensinar o que Thayná queria fazer da vida. “Não sei de outras profissões, deve ser o mesmo feeling, quando você percebe que sua filha gosta do que faz, é uma sensação tão boa se você faz o que ama, é melhor ainda, porque trabalha, trabalha e não percebe e ela está seguindo isso aí”, finaliza.