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Comportamento

Vontade de contar história fez Franco trocar Direito por Hollywood

Rapaz trocou a vida em Campo Grande pela terra do Tio Sam para contar as mais diferentes histórias pela linguagem cinematográfica

Raul Delvizio | 06/01/2021 08:23
Mesmo se formando em Direito, Franco descobriu que seu sonho era mesmo o de ser cineasta (Foto: Arquivo Pessoal)
Mesmo se formando em Direito, Franco descobriu que seu sonho era mesmo o de ser cineasta (Foto: Arquivo Pessoal)

Aos 28 anos, o campo-grandense Franco Lima já era formado em Direito antes mesmo de ir parar na capital da indústria cinematográfica estadunidense, na cidade de Los Angeles. O que antes era uma "paixão de fim de semana" por filmes e produtos audiovisuais se transformou em algo muito maior: a vontade de contar histórias por meio do cinema.

Ele se mudou para Hollywood, na região da Calçada da Fama, para estudar em umas das instituições mais prestigiadas na área. Trocou a possibilidade de virar advogado e continuar morando em Mato Grosso do Sul para seguir o sonho de ser um cineasta.

"Tem algo mais poderoso do que explorar um universo em que você pode criar o que quiser? O cinema te permite isso. Quer entreter, fazer uma manifestação política, analisar a vida humana? Tudo isso você pode achar em um filme. E não precisa ser longa-metragem, não. Um curta também pode apresentar todos esses requisitos. Eu gosto de dizer que o cinema conta histórias porque é exatamente isso que a arte cinematográfica mais trabalha melhor", opina.

Na época da faculdade, o rapaz já fazia experimentações com vídeo (Foto: Arquivo Pessoal)
Na época da faculdade, o rapaz já fazia experimentações com vídeo (Foto: Arquivo Pessoal)

Por mais que considere clichê, o "chamado" para trocar a vida na Capital de MS por LA, e estudar filmmaking (metodologia do processo em que um filme é produzido do começo ao fim) na New York Film Academy veio de forma gradual. No início, era pela rodinha de amigos do ensino médio para assistir os grandes lançamentos. Depois, acompanhar as temporadas de premiações do cinema mundial. Já na metade do curso de Direito, em meados de 2012, começou a notar de fato o interesse em estudar e trabalhar na área.

"Escrevia tudo que era ideia num bloquinho de notas, que aliás tenho até hoje. Quando começaram a ficar cada vez mais e mais detalhadas, mencionei para os meus pais esse desejo. Eles me apoiaram e traçamos um plano juntos, porém, como eu já estava na 'metade' para virar advogado, pediram apenas para que tocasse em frente", relembra.

Aqui, um roteiro dos seus curtas com sua assinatura (Foto: Arquivo Pessoal)
Aqui, um roteiro dos seus curtas com sua assinatura (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando se graduou em 2015, veio a hora da decisão. "Por eu desconhecer sobre o dia a dia prático de um cineasta, seja no set de filmagem ou fora dele, achei mais inteligente fazer um curso de curta duração, apenas para ter uma ideia geral. Eu poderia no final das contas descobrir que não era muito a minha praia", esclarece.

Mas a experiência nessa primeira etapa em São Paula mostrou que sua paixão estava "assegurada". Foi aí que se empolgou a fundo. "Comecei a aplicar em diversas instituições de cinema no final de 2017. Parti de uma lista das melhores e também as que oferecessem bolsas de estudo para estrangeiros. Uma delas foi a NYFA, que me mandou a carta de aceitação em meados de janeiro do ano seguinte. Acabou que até fui selecionado para duas outras um mês depois, mas pesando tudo na balança – custos, status, localização, etc. – optei pela primeira".

Aqui, com elenco e amigos de turma (Foto: Arquivo Pessoal)
Aqui, com elenco e amigos de turma (Foto: Arquivo Pessoal)

Por mais que tenha "New York" no nome, o campus principal fica localizado no distrito de Burbank, cidade vizinha da Grande Los Angeles. Após resolver toda a papelada e burocracia do visto, em setembro de 2018 Franco pegou o avião rumo aos Estados Unidos.

"No começo era só estudando porque o curso era bem puxado, especialmente no primeiro semestre. Criei seis curtas em menos de 3 meses. Depois que me adaptei, pude aproveitar as amizades e descobrir a cidade, que na verdade se parece muito com a nossa São Paulo", considera. Conheceu o Letreiro de Hollywood e até, em 2019, foi morar bem ali do lado com outros dois colegas, no Calçadão da Fama.

Em 2019, Franco morou bem próximo do Letreiro de Hollywood (Foto: Arquivo Pessoal)
Em 2019, Franco morou bem próximo do Letreiro de Hollywood (Foto: Arquivo Pessoal)
Aqui, em um set de filmagem no berço da indústria cinematográfica (Foto: Arquivo Pessoal)
Aqui, em um set de filmagem no berço da indústria cinematográfica (Foto: Arquivo Pessoal)

No finalzinho daquele ano, Franco se formou na NYFA e foi aprovado com um visto de trabalho temporário pelo governo, com a permissão de ficar nos EUA por mais um ano. "Meu foco era achar um emprego estável, mas esses são bem disputados na indústria, especialmente em Los Angeles, então nesse meio tempo trabalhei em diversos sets de filmagem até mesmo para fortalecer meu currículo. Quando chegou março de 2020, finalmente consegui um emprego fixo, porém veio a pandemia".

Assim ficou "trancado" em um apartamento no meio de Hollywood, segurando as pontas por mais ou menos três meses. "Dei o baita azar – fora o resto do planeta – de tudo entrar em lockdown por conta do coronavírus. Ainda, teve o caso dos protestos anti racistas do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) que estouraram no país inteiro, um desses enormes inclusive aconteceu bem perto do prédio em que eu morava. Foi um período no mínimo bizarro, o mundo estava de cabeça para baixo".

Preso em casa na pandemia, jeito foi adaptar a produção audiovisual (Foto: Arquivo Pessoal)
Preso em casa na pandemia, jeito foi adaptar a produção audiovisual (Foto: Arquivo Pessoal)

No meio de junho, a coisa deu uma "acalmada" e Franco voltou ao emprego, onde ficou até o mês de novembro – acumulando a experiência que tanto sonhava. Porém, o visto estava perto de expirar e ele não tinha os requisitos que precisava para poder ficar. "Já sentia que muito provavelmente regressaria ao Brasil. O último prego no caixão foi quando conversei com diversos advogados de imigração, que infelizmente foram bem pessimistas".

Para ele, sem sombra de dúvidas, voltar à vida em MS não foi nada agradável. "A pandemia jogou esse balde de água fria nos meus planos. Mas a sensação que tenho é apenas de ter o sonho interrompido, não cancelado", garante.

Aqui, em outro set de filmagem, desta vez no seu último emprego fixo (Foto: Arquivo Pessoal)
Aqui, em outro set de filmagem, desta vez no seu último emprego fixo (Foto: Arquivo Pessoal)

Agora, trabalha em um portfólio mais robusto aqui para aplicar a um visto definitivo lá na terra do Tio Sam e – quem sabe um dia – voltar muito em breve à Los Angeles. "Quero colocar o meu trabalho final do curso da NYFA no circuito de festivais no Brasil e também internacionais. Neste novo ano, com o mundo inteiro adaptado ao 'novo normal', vejo que isso vai ser algo importante para o meu novo visto", acredita.

"Tem dias que fico desanimado e pensando como eu estaria se tivesse continuado por lá. Mas no fim do dia é preciso ter foco e paciência. O processo é longo e demorado. Até lá, não vou ficar parado e continuarei a executar meus projetos. Quem sabe, paralelamente, não arranjo um freela na área. É impressionante a gama de opções que se tem à disposição. O futuro é promissor", finaliza.

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