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Consumo

"Bruta", Lahuanny é a trans que trocou shows pelas unhas de acrílico

Ela encerrou ciclo de shows como drag pouco antes da pandemia e estudou 1 ano para se tornar designer de unhas

Paula Maciulevicius Brasil | 30/04/2021 08:18
Unha de acrílico que leva até 4h para ficar pronta é feita com a garantia de boas risadas com a designer Lahuannyy. (Foto: Kísie Ainoã)
Unha de acrílico que leva até 4h para ficar pronta é feita com a garantia de boas risadas com a designer Lahuannyy. (Foto: Kísie Ainoã)

Gold Nails, que em português significa "unhas douradas", é o estúdio onde Lahuanny Oliveira, de 33 anos, pôde se reinventar como profissional e mostrar que ainda tem muito a vencer em Campo Grande. Mulher trans nascida em Aquidauana, ela deixou os shows e performances como drag em boates depois de ser muito julgada.

À beira da morte, como conta que chegou a estar, Lahuanny foi acolhida por uma amiga e mentora que ensinou a ela as unhas de acrílico. De cliente, Lahuanny passou a ser aprendiz de Werica Medina, nome que a hoje designer faz questão de citar por gratidão. Há 12 anos, quando o acrílico nas unhas nem era moda, Lahuanny já usava unhas que chamavam a atenção de longe.

Cuticulagem era o pesadelo de designer que tremia toda, mas aprendeu a fazer para criar as unhas de acrílico. (Foto: Kísie Ainoã)
Cuticulagem era o pesadelo de designer que tremia toda, mas aprendeu a fazer para criar as unhas de acrílico. (Foto: Kísie Ainoã)

"Conheci a Werica como cliente, tropecei nela e foi amor à primeira vista", conta. As duas passavam por um momento frágil e se ajudaram. "Eu cheguei à beira da morte e ela me disse: 'tô indo embora, mas quero te ajudar, sei que você vai conseguir'", recorda Lahuanny. O primeiro encontro aconteceu um ano atrás, quando ela começou a ter aulas no curso de básico de unhas de acrílico.

"E eu dizia que não tinha talento pra isso, eu sou bruta, mas deu tudo certo", diz. Ao risos, ela fala que deixou a "indelicadeza" para trás e perdeu o medo de tirar as cutículas das clientes. "Era uma tremeção, eu odiava mexer com cuticulagem, mas estou melhorando por causa do acrílico", completa.

O fim do ciclo como artista, quando Lahuanny fazia shows e performances como drag, veio depois de muitos julgamentos e decepções. "Nosso problema hoje não é com heterossexual, com as pessoas cis, é interno, guerra interna dentro da comunidade LGBT. Eu fui muito atacada por ser do interior, até que chegou um ponto que eu não queria mais este caminho", narra.

Relevo é técnica que envolve detalhes minuciosos. Mostruário foi todo feito por Lahuannyy. (Foto: Kísie Ainoã)
Relevo é técnica que envolve detalhes minuciosos. Mostruário foi todo feito por Lahuannyy. (Foto: Kísie Ainoã)

Em Aquidauana, há mais de 20 anos, Lahuanny já sabia que era trans. "Me assumi trans com 18, mas eu falo que sou trans desde os 5 anos de idade. Não tenho plastificação no rosto, mas meu corpo em si sempre foi todo feminino, eu tinha problemas na escola por causa do peito", recorda.

Depois de terminar o curso básico de unhas de acrílico, Lahuanny comprou o primeiro material e foi embora para a cidade natal. O plano era de se estruturar como designer de unhas na cidade. Foram só três meses e logo depois da campanha política de 2020 terminar na região, a trans voltou à Capital.

"Apareceram oportunidades muito boas e eu falei: 'vou voltar para Campo Grande e vencer nessa cidade'. Tenho Campo Grande como um karma, meu problema pessoal mesmo. Aqui que eu comecei a minha vida como transexual e passei trilhões de coisas que ficaram inacabadas", diz.

Estúdio funciona no Bairro Piratininga com duas salas e copa. (Foto: Kísie Ainoã)
Estúdio funciona no Bairro Piratininga com duas salas e copa. (Foto: Kísie Ainoã)

Quando voltou, encontrou a mentora, Werica, de malas quase prontas. Foi o tempo de aprender todas as técnicas possíveis. "Ela me deu quatro cursos, eu comi e bebi acrílico, menina", conta as risos.

E hoje as técnicas feitas vão do relevo ao 3D, passando pelas convencionais como baby boomer, francesa e encapsulada até os formatos extremos, stiletto e piper.

Lahuannyy exibindo todos os seus certificados dos cursos realizados. (Foto: Divulgação)
Lahuannyy exibindo todos os seus certificados dos cursos realizados. (Foto: Divulgação)

Um pouco desacreditada profissionalmente, Lahuanny pontua que foi cabeleireira, profissional do sexo e artista em boate. Dentro do ramo da beleza, teve o próprio salão, também foi sócia e trabalhou para outras pessoas, mas agora, com a nova ocupação de designer de unhas, ela queria arriscar e abrir um estúdio.

"Eu morava num apartamento MRV, queria montar um estúdio, mas alugar um lugar e morar em outro, não dava. Até que andando, apareceu o anúncio daqui", conta. Era uma casa num conjunto no Bairro Piratininga. "Quando eu entrei aqui, eu enxerguei exatamente do jeito que está hoje e senti que era aqui", descreve.

Alugada a casa, o espaço se transformou em moradia e também trabalho. Comprado todo o equipamento e mobiliário, Lahuanny já passou a atender a clientela. A inauguração mesmo aconteceu na última terça-feira, com amigas que foram modelos para a designer exibir seu trabalho e criar portfólio.

"Essa era a vontade de Deus, no tempo de Deus no exato momento da vida da gente. Eu não usaria o título de designer nails até que eu me sentisse preparada para isso, e eu me preparei, me equipei em 1 ano", comemora.

O estúdio de Lahuanny fica na Rua Sertãozinho, 85, na Vila Piratininga. Por enquanto, os agendamentos podem ser feitos pelo Instagram dela @lahuannyy/.

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Modelos foram amigas que compartilharam da vida de Lahuannyy e aqui serviram para criar portfólio da designer. (Foto: Divulgação)
Modelos foram amigas que compartilharam da vida de Lahuannyy e aqui serviram para criar portfólio da designer. (Foto: Divulgação)
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