Dono do 1º telefone celular de MS ainda atende com mesmo número, 24 anos depois
No segundo toque, seu Benedito atende a ligação: 'Alô'. A voz é de um senhor, mas a risada é de mocinho. Ele tem 62 anos de idade e carrega o título de ser oficialmente o "dono" do primeiro número de celular de Mato Grosso do Sul, o mesmo que usa até hoje.
Motorista do então governador da época, Pedro Pedrossian, quando a tecnologia chegou aqui, o primeiro celular foi dado de presente pela Telems ao chefe e como Benedito andava para cima e para baixo com Pedrossian, era na cintura do funcionário que o aparelho Motorola PT 550 ficava.
"Acho que foi em 1992, era um tijorola. Você falava que andava armado, com a pistola na cintura", brinca seu Benedito Rodrigues Martins. Como o patrão era muito discreto, o celular ficava sob a guarda dele. E quem ligava? O motorista responde que isso é "segredo de Estado", mas confessa que as ligações se resumiam ao secretariado do governo mesmo.
"Eu que ficava e estou até hoje cuidando da relíquia", afirma. Benedito não sabia que era dono do primeiro número de celular. "Eu achava que era só por ser fácil de decorar, que era prioridade dele", comenta. À época, eram poucas as ligações e a bateria, durava mais. "Funcionava pouco, porque quase não tinha uso. Não tinha muita gente, a linha custava até 4 mil reais, era muito caro. Então só as autoridades tinham", explica.
Nas palavras do motorista, Pedrossian nunca gostou muito desse negócio de celular e depois de 18 anos trabalhados com a família, o presente foi o número. "Isso foi meu trunfo, pela confiança em mim e sabe que até hoje tem gente que liga perguntando por ele? Mas está comigo há mais de 20 anos".
A operadora, Benedito diz que continua a mesma: Vivo, que na época era Telems, até passar para TCO. O que mudou no telefone foram apenas os acréscimos de "9". "Primeiro era 981, depois 9981 e agora 99981...", narra.
Do "tijorola", Benedito já mudou dezenas de vezes de aparelho, através de planos no decorrer dos anos. A diferença para hoje é que, além de toda tecnologia, Benedito aderiu ao pré-pago. Na última década, ele tem sido motorista do deputado Paulo Corrêa (PR) e nas andanças pelo Estado, é que sente o quanto a tecnologia mudou.
"Nesse momento eu estou esperando o ministro em Ponta Porã. Às vezes faço a foto e já mando na hora pelo WhatsApp, foi isso que melhorou muito e também o sinal, antes só funcionava em Campo Grande, saía daqui, não tinha celular", compara.
Se a tecnologia estivesse presente naquele primeiro telefone, Benedito acredita que teria feito várias fotos do governador numa de suas obras. "Ah, seria no Parque das Nações Indígenas, ele acompanhando as obras lá... Isso seria muito importante de registrar", avalia.
Primeiros donos - Para ter celular, o campo-grandense teve de enfrentar horas e até dias de fila. Sabe o que acontece hoje para a compra de Iphones nas lojas Apple, nos Estados Unidos? Era mais ou menos assim.
Entre os primeiros proprietários de aparelho celular da cidade, está o fotógrafo Antonio Mazeica, conhecido como "Fumaça". À época ele trabalhava com os contadores pelo Estado, no tempo em que o sistema de telefonia era analógico. "Eu paguei alguns vizinhos para ficar na fila e pegar senhas", lembra Fumaça.
Ele conseguiu pegar cinco números, doou quatro para amigos e ficou com um para si. "Era 981-1448, meu primeiro aparelho, um tijorola, era o Motorola PT 950 com flip. Havia quem dissesse que era 'chic' aquilo", ri.
Como fotógrafo, trabalhou no registro do lançamento da Telefonia Celular Rural Fixa, que foi a antecessora da telefonia celular e que contou, inclusive, com a presença do ministro das comunicações. "As linhas começaram a ser implantadas a partir de 1991 e começou a funcionar aqui em 1992. Aqui teve celular primeiro que São Paulo", conta.
De cabeça, Fumaça recorda que a implantação do sistema ocorria em regiões onde as companhias tinham melhor estrutura. "Senão me engano primeiro foi o Rio de Janeiro depois Campo Grande, acho que Belo Horizonte e Goiânia", palpita.
Fila - Gerente de fazendas, Anilton Freire Nogueira, de 50 anos, lembra como se fosse hoje da fila que enfrentou. Trabalhando com a família Dibo, assim que soube que no dia seguinte começariam as vendas, foi para a antiga sede da Telems, no bairro Monte Carlo, com ainda mais duas pessoas para guardar lugar.
"Era muita gente e comprava por ordem de chegava. Era 7h da manhã e já tinha gente na fila", recorda. Quem comprava direto da loja, pagava entre R$ 550 até R$ 1 mil, mas quem revendia, subia o preço para R$ 3 mil, até R$ 3,5 mil.
"Era grandão, eu punha no bolso e não cabia mais nada. Eu mais ligava para o pessoal da fazenda e era o único que eu conseguia falar lá", descreve. O maior incômodo era a bateria grossa e o carregador dela, também era uma espécie de trambolho. Bem diferente de hoje, não é mesmo?