Na Itália, brasileiro foi investigado por ganhar 2X na raspadinha em 20 dias
Rede britânica BBC revelou que o apostador faturou 3 milhões de euros, mas "sorte chamou atenção da polícia
Já imaginou faturar 3 milhões de euros, cerca de R$ 18 milhões, em apenas 20 dias e com um "golpe de sorte"? Pode parecer uma história encantada, alguma fábula infantil ou mesmo um discurso de algum mega empresário. Nenhuma dessa opção, no entanto, está correta. O sortudo da vez é um brasileiro que vive no norte da Itália, e cuja misteriosa história poderia render um filme.
A história de André, nome fictício usado para tratar do brasileiro, foi narrada em reportagem pela rede britânica BBC. De acordo com o relato, André tem 40 anos e vive na Itália desde 2018. É um trabalhador da construção civil e que até fevereiro deste ano trabalhava como pedreiro na pequena cidade de Garda, próximo a Verona. Ele não sabia, mas a sorte dele bingo online valendo dinheiro. Não a raspadinha online, que também está na moda, mas a tradicional, de papel mesmo.
Segundo a reportagem, André raspou o primeiro bilhete da loteria italiana, conhecida como "Gratta e Vinci", algo como "Raspa e Vence", que ele havia comprado na cidade de Modena, também nas redondezas de Verona. Logo na primeira raspada, já veio o primeiro de 1 milhão de euros, mais de R$ 6 milhões na atual cotação da moeda em relação ao real.
Como se não bastasse tamanha sorte, o brasileiro, então, resolveu comprar mais um bilhete vinte dias depois de faturar a primeira bolada. Em um golpe de sorte, quase um empurrão do destino, André faturou mais 2 milhões de euros, quase R$ 12 milhões. Vida feita e futuro garantido, certo? Tamanha sorte começou a chamar a atenção das autoridades italianas.
Nos jornais, como o tradicional Corriere della Sera, começaram a pipocar histórias de que o brasileiro fraudou os bilhetes. Segundo a publicação local, o brasileiro teria ido à instituição financeira da região para sacar um dos prêmios e, de quebra, avisou que receberia um terceiro prêmio, no valor de 5 milhões de euros (R$ 32,4 milhões).
A notoriedade do caso fez com que a Procuradoria de Verona abrissem uma investigação sobre o caso, em parceria com a Guarda de Finanças, responsável por averiguar e investigar crimes financeiros no país.
De acordo com procedimentos iniciais do órgão de investigação, o brasileiro havia solicitado ao banco italiano uma transferência de 800 mil euros (R$ 5,2 milhões; o valor integral do primeiro prêmio, descontado os impostos) para uma conta do Brasil. Além disso, doou 80 mil euros, cerca de R$ 518 mil, para um conhecido na Itália, o que também levantou suspeitas das autoridades.
André teve a conta bloqueada por suspeita de lavagem de dinheiro,com a suspeita de que o dinheiro era oriundo de "crime abusivo ao sistema de informática da loteria e consequente divulgação de sigilo". A decisão judicial destacou que o brasileiro venceu os prêmios na raspadinha em um intervalo muito próximo, algo difícil de acontecer quando o assunto são jogos de azar.
O Corriere della Sera, jornal de Milão que cobriu o caso, disse em uma reportagem, supostamente baseando-se nas informações dos investigadores, que a suspeita é que André, na verdade, "sabia onde eram vendidos os bilhetes premiados".
O advogado que defende o brasileiro disse à BBC que "a Itália sempre coloca tudo em dúvida, ainda mais num caso assim", disse Giovanni Chincarini. Passados dois meses, no fim de julho deste ano, André e seus advogados conseguiram provar que não houve fraude nas vitórias, tampouco nos depósitos feitos às contas brasileiras.
A transferência para a conta no Brasil, explicou o advogado, foi destinada aos seus familiares. E a fala sobre o terceiro prêmio não passou de "brincadeira". Seus representantes também explicaram que ele comprou o bilhete em cidades diferentes porque se deslocava muito trabalhando na região do norte da Itália.
De acordo com a BBC, André não quis aparecer e negou qualquer chance de entrevista à rede britânica. Certamente não quer revelar qual o segredo para ter tanta sorte assim.