Quem vende ao lado do HU “pula cedo” e abraça histórias de dor
Tudo ali abre cedo, já a partir das 6h, para atender quem vem do interior para atendimento no hospital
O trecho da Avenida Senador Filinto Müller ao longo do campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), localizado no Bairro Vila Ipiranga tem desde farmácia à restaurantes e uma variedade de lanchonetes. O público principal são os pacientes e acompanhantes do Hospital Universitário e os moradores dos arredores. Entre altos e baixos dos últimos tempos, quem permanece na região é resistência.
As opções de comida são todas mais simples, mas bem diversificadas. Pamonha e curau, salgados, açaí, almoço com arroz e feijão, sucos naturais, água de coco, cafezinhos, tudo é possível encontrar naquele trecho. Na hora de fazer um lanchinho, é muito fácil começar uma conversa com os comerciantes que, inclusive, também moram no bairro. Há ainda ruas laterais, com lojas de roupas e acessórios.
Tudo abre bem cedo: a partir das 6h da manhã, vários lugares já abriram para atender quem vem do interior para fazer algum procedimento no hospital. De tarde, por causa da pandemia, por volta das 16h, 17h os primeiros já começam a fechar as portas.
Etelvina de Souza Barbosa, de 38 anos, já trabalha na Lanchonete Eskinão há 11 anos e diz que nesse meio tempo, já viu muitos comércios fecharem. “Quem ainda ficou por aqui, é porque tinha comprado o ponto, quem alugava, fechou. Aqui, a gente já passou de tudo, teve greve, paralisação, fogo no laboratório. Mas a gente vai sobrevivendo”, detalha.
Apesar das dificuldades, se adaptou ao bairro. “As pessoas daqui não têm o que reclamar, porque tem de tudo. E é uma coisa bem familiar, a gente senta aqui, conversa, às vezes, até tomava um tereré”, comenta.
Tálita de Almeida Silva, de 32 anos, também tem uma lanchonete e diz que acaba se envolvendo com as histórias que as pessoas contam na mesa. Relata que antes da pandemia, o local, às vezes, nem tinha lugar para sentar na rua e que só agora, há pouco tempo, que o movimento vem melhorando.
“Quando fica um parente internado por semanas, a gente acaba sentido a dor também, chorando junto. Já cheguei até de abrir as portas da minha casa para uma pessoa com quem fiz amizade aqui. A gente se vê aqui como uma família. Quando eu saio de casa, deixo meus problemas do portão para lá, aqui eu sou outra pessoa” detalha.
Passou também por dificuldades quando a lanchonete pegou fogo há anos e quando chegou a fechar o local por um tempo durante a pandemia para manter a família segura. “Ficou um desfalque de uns R$ 35 mil esse tempo que ficou parado e ainda com os preços todos muito altos”, detalha. Ainda assim, não demonstra pretensão de ir embora dali, já que é dona do ponto. “Com nosso cliente, com amor e carinho que estamos de pé até hoje”, expressa.
Adalberto Tavares, de 64 anos, é o dono de um dos estabelecimentos mais antigos na região. O Restaurante Paulista já existe há 32 anos e serve almoço entre 11h e 14h. O negócio é familiar, que começou com a mãe, quando toda a família veio do Paraná. Ao ser questionado sobre momentos memoráveis, não sabe eleger apenas um. “É tanto tempo e tanta coisa que se passa um filme na minha cabeça”, expressa.
O restaurante também passou por dificuldades, ainda mais durante o período pandêmico. Fala que agora, com a flexibilização e ampliação da vacinação, as coisas têm melhorado. E também não vai embora dali. “Depois de todo esse tempo, à essa altura do campeonato, não tem pra onde ir”, ri. “Finquei o pé aqui e agora é só manter a raiz”, finaliza.
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