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Consumo

Sem circo, família faz malabarismo para sobreviver com pipoca doce

Sem trapézio e palhaço, o jeito foi se reinventar na pandemia para sobreviver à crise e garantir o ganha-pão dentro de casa

Alana Portela | 30/07/2020 06:31
Elenita Cristina Cruz Fernandes separando as pipocas doces e maças do amor para vender. (Foto: Kísie Ainoã)
Elenita Cristina Cruz Fernandes separando as pipocas doces e maças do amor para vender. (Foto: Kísie Ainoã)

A pandemia do coronavírus interrompeu as atividades do Top Circo, parado no Bairro Itamaracá, na Capital. Sem apresentações circenses, agora o malabarismo da família Perez é nas ruas, se virando nos 30 para vender algodão-doce, maçã do amor e pipoca doce por R$ 2,00. Desta forma eles correm atrás do respeitável público e tentam garantir o ganha-pão dentro de casa.

“Com a pandemia a gente ficou desnorteado e não sabia o que fazer porque a nossa renda era o circo. É um trabalho de uma vida inteira e já está na quinta geração. A família não sabe fazer outra coisa. Sei que não está fácil para ninguém, porém, pra quem vive disso e não tem muita escolaridade é difícil”, diz Elenita Cristina da Cruz Fernandes, 30 anos.

Ela é casada com Hugo Leonar Perez, 45, um dos proprietários do circo, e relata que há oito anos passou a trabalhar no local. “Fazia números aéreos, dança do ventre, números usando o tecido. Meu esposo ficava na portaria, fazia as propagandas”, recorda Elenita sobre como era o local antes do isolamento começar.

Elenita realizando um número aéreo durante um show no circo, antes da pandemia. (Foto: Vaca Azul)
Elenita realizando um número aéreo durante um show no circo, antes da pandemia. (Foto: Vaca Azul)

No entanto, em março deste ano, o cenário mudou. O local marcado por alegria e diversão, ficou sem o respeitável público, o show não pode continuar. “Antes do coronavírus chegar aqui, tínhamos desmontado o circo para mudar de lugar. Mas, veio o isolamento e não deu para ir para sair daqui e nem reativar o ponto”.

Com tudo paralisado, menos as contas, a situação começou a complicar e o pior é que não dava para o casal pedir a ajuda da família, pois todos estão no mesmo “barco”. “Daqui dependem 20 pessoas, entre crianças e adultos. Temos nossas despesas pessoais”.

Elenita e a filha Yasmin Perez fazendo a apresentação da dança do ventre. (Foto: Vaca Azul)
Elenita e a filha Yasmin Perez fazendo a apresentação da dança do ventre. (Foto: Vaca Azul)

Foi quando a família resolveu vender doces na rua. “Dentro do circo tínhamos uma lanchonete, onde vendia algodão-doce, maçã do amor, pipoca doce. Então, pensamos em continuar as produções, mas vender fora”, comenta ela.

A ideia deu certo e há dois meses, a família passou a preparar os doces de forma individual para vender. “A lanchonete era dividida entre eu, meus cunhados e minha sogra. Eu com algodão-doce, minha cunhada com a maçã do amor e a sogra com pipoca doce. Agora, cada um faz a sua venda”, explica.

Sem alternativas, o jeito de Elenita foi apostar nas produções. Enquanto isso, Hugo fica responsável por dirigir pelo bairro e vender as mercadorias. “Passa pelas ruas do Itamaracá anunciando”, diz a esposa.

Tem opção de algodão-doce rosa e azul. (Foto: Kísie Ainoã)
Tem opção de algodão-doce rosa e azul. (Foto: Kísie Ainoã)

Quando o movimento está fraco no Itamaracá, Hugo percorre outros bairros, como Guaicurus, Colúmbia, Nova Lima, Vila Nasser e Aeroporto, na tentativa de ganhar uns trocados e não retornar de mãos vazias para à casa.

“Minha produção começa cedo, às 6h. Tem coisas que a gente faz no dia, como a maçã do amor. O algodão-doce preparo a noite e a pipoca depois. Agora é disso que estamos tirando nossa renda. O preço é simbólico, R$ 2,00 cada”, destaca.

As tendas do Top Circo que ficavam montadas no bairro Itamaracá. (Foto: Arquivo pessoal)
As tendas do Top Circo que ficavam montadas no bairro Itamaracá. (Foto: Arquivo pessoal)

Elenita relata que as vendas estão sendo realizadas todos os dias da semana. Contudo, de vez em quando, ela e o esposo deixam de produzir na segunda para comprar as mercadorias. Além disso, o casal também está aceitando encomendas dos doces e até doações em alimentos ou dinheiro.

As cunhadas de Elenita; Leidiany Perez, Nayara Gimenes e a sogra Suely Campos também estão produzindo os doces. Na rua, além de Hugo, seu cunhado César e o irmão Wagner Hugo estão vendendo mais doces pelos bairros da Capital.

Hugo Perez vendendo algodão-doce dentro do carro. (Foto: Kísie Ainoã)
Hugo Perez vendendo algodão-doce dentro do carro. (Foto: Kísie Ainoã)

Eles passam dentro de uma caminhonete, anunciando os doces e é só chamar que param e realizam o atendimento. Longe do circo, o jeito é fazer malabarismo nas ruas, sem o trapézio e palhaço, mas com o sorriso no rosto.

Ajuda - Aqueles que tiverem interesse em ajudar a família com doações de alimentos podem levar as mercadorias até a Rua Padre Mussa Tuma, em frente ao nº 910, no Itamaracá. Doações em dinheiro podem ser feitas na Caixa Econômica Federal, na agência 0017. 023, conta poupança: 00026354 -2, em nome de Elenita Cristina da Cruz Fernandes.

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O veículo passando por uma rua do bairro Itamaracá, com alto falante que anuncia às vendas. (Foto: Kísie Ainoã)
O veículo passando por uma rua do bairro Itamaracá, com alto falante que anuncia às vendas. (Foto: Kísie Ainoã)


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