“Pernambuco” trouxe o frevo e criou bloco para os “amigos do Mercadão”
Comerciante veio de Recife há 12 anos e criou bloco que distribui caldos de graça até para moradores de rua
O nome dele é Ademir José da Silva, tem 54 anos, mas gosta mesmo de ser chamado de “Pernambuco”, como é conhecido pelos mais chegados do entorno do Mercado Municipal de Campo Grande, o “Mercadão”. Pernambuco é também o nome do bloco que ele criou em 2013 e que pelo segundo ano consecutivo fecha a Travessa José Bacha e une foliões “saudáveis”, em busca de um ambiente carnavalesco, mas também familiar.
Há 12 anos “Pernambuco” deixou o Recife, o frevo e o tradicional “Galo da Madrugada” pernambucano para viver em Campo Grande, cidade que ele adora, mas cujas pessoas considera mais fechadas. Unir amigos e “abrir” o coração de quem chega na travessa é um dos objetivos do “Bloco do Pernambuco”.
Vestido com a camiseta tradicional do bloco e com um chapéu de cangaceiro, Pernambuco não para quieto. Vai de um lado a outro atender os amigos, um grupo de 80 pessoas, que se juntou ao bloco na tarde deste domingo (3). A folia por ali vai até às 19h e ele espera reunir por ali 150 pessoas. Do Recife, trouxe o frevo, que estampa a camiseta junto com araras e tucanos, uma maneira de simbolizar a união das duas “terras”.
Por ali, garante, só se toca marchinhas tradicionais e frevo. Além da música, há cama elástica para as crianças e alimentação de graça. “É só chegar”, afirma. Caldo de bucheiro, de mocotó e de peixe são distribuídos a quem se juntar ao bloco.
Pernambuco criou o bloco em 2013, sem lugar fixo, e com outro nome: bloco do pateta, uma homenagem a um amigo do mercadão que segundo ele, lembra o personagem da Disney. “Em Pernambuco eu era de dois blocos, não perdia um ‘galo’. O primeiro ano que fechamos a rua foi o ano passado”, conta ele, que conseguiu pelo segundo ano consecutivo as licenças para fechar a travessa.
“É um bloco familiar, quem quiser pode vir, não tem confusão, brigões são expulsos”, diz Pernambuco, que conta com a amizade do 11º Batalhão da Polícia Militar que fica ao lado de onde a folia acontece. Esse ano, o bloco conseguiu vender quase 200 camisetas.
A escolha do local, afirma, aconteceu pela acessibilidade. A proximidade com o ponto de ônibus, conta Pernambuco, deixa o local livre para quem quiser participar. “A diferença daqui é que é tranquilo e gostoso. É um estado que me recebeu de braços abertos e estou amando”, conta ele.
Bianca Vargas, 30, levou a mãe, o marido e o filho. “É a primeira vez que venho. A gente é amigo e ele convidou. É muito bonito e as crianças gostam”, diz.
Christiane Rhoana dos Santos Pereira, 26, compareceu pelo segundo ano, dessa vez com a camiseta do bloco. “No ano passado fizemos o caldo. Hoje minha irmã veio e é um lugar que posso trazer minha filha. É um carnaval mais saudável. Eu acho bom porque ele fecha a rua, traz brinquedos para as crianças. Falta muito disso na cidade. É um lugar que você pode confiar”, relata.
A cabeleireira Clara Diniz, 35, conferiu o bloco pela primeira vez, convidada pelos donos do bar que participam da organização. “Até ajudei na cozinha”, afirma. “Eu sou de Corumbá, aqui é bem diferente o Carnaval, é mais familiar, mas é muito bom, a comida está boa e a cerveja está gelada”, comenta.
Dividindo a mesa com os amigos de festa e de copo, Afonso “Diamante”, 74, é presença marcada no bloco, oportunidade, para ele, de rever os amigos. “É uma reunião, aqui somos todos amigos. Sempre gostei de Carnaval, sempre gostei do ritmo”, diz.
O funcionário público Vandirson Fabrício de Jesus, 52, aproveita a proximidade com a casa onde vive para caminhar até o bloco, beber tranquilo a cervejinha e ir a pé embora, “sem dores de cabeça”.
“Sou morador próximo, conheço o pessoal do mercadão. Frequento desde o primeiro, quando era em outro lugar. A gente dá uma força para o Pernambuco, que é esforçado. É familiar, consegue angariar fundos, até morador de rua vem comer aqui. É boca livre. É a grande família”, resume.