Após 75 anos, mudar Expogrande e shows de lugar causa mais polêmica
A iminência de a Expogrande mudar de lugar, e passar a acontecer a cerca de 15 quilômetros do perímetro urbano de Campo Grande, não é vista com bons olhos pelo público da festa. A possibilidade surgiu com o anúncio de que a Acrissul (Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul), organizadora da feira, vai construir um novo parque na BR-262, a seis quilômetros do Autódromo Internacional.
O presidente da entidade, Francisco Maia, nega a mudança, mas a guerra travada há anos com a vizinhança e, desde 2011, com o Ministério Público Estadual, e gerou uma série de restrições de horários e, em 2012, chegou a impedir que a realização de shows, dá indícios de que o “Acrissul Campo” é uma alternativa para pôr fim ao impasse.
A dona de casa Aldeni de Moura Souza, 30 anos, acredita que a Expogrande perderá a identidade se a mudança se concretizar. “Desde que me mudei para Campo Grande, há dez anos, não perdi uma edição. Se mudar, as pessoas vão estranhar e vão deixar de ir. Do jeito que ficou combinado com a prefeitura, de acabar até a meia-noite, é justo. É só cumprir e ninguém será prejudicado”, opina. Há 75 anos a festa acontece no Parque de Exposições Laucídio Coelho.
Auxiliar de serraria, Bruno Antunes, 20 anos, considera que “a festa agrada muita gente”, mas pondera que é preciso respeitar as regras impostas para não prejudicar a rotina de quem mora no entorno. “Eu mesmo já tive problemas com vizinhos barulhentos e sei o quanto é incômodo. Não precisa tirar uma festa que agrada muita gente, mas que respeitem o espaço de quem mora ali”.
A dificuldade de chegar ao local é apontada como o maior empecilho pela estudante Karolina Silva, 17 anos. “As pessoas vão ficar sujeitas a acidentes se tiverem que pegar a BR para chegar lá. E a volta será pior ainda, porque as pessoas bebem muito na Expogrande”, acredita.
A aposentada Sara Silva, 53 anos, que conta ter freqüentado a festa por anos, “quando era jovem”, é radical em relação à reclamação dos vizinhos. “O povo é que chegou depois e começou a atrapalhar. Acontece lá há anos, e começou justamente porque não tinha ninguém, era tudo mato. Quem comprou casa lá sabia que teria que conviver com isso, e é só uma vez por ano”.
Os planos – Francisco Maia é taxativo ao negar a mudança. Ele também não descarta que os shows deixem de fazer parte da programação da feira. “Os shows voltaram, mas, amanhã, podem não estar. É uma questão indefinida, que exige esforços que, hoje, não podemos dispensar. Nosso foco é outro. Mas, mudar para lá, isso nunca. Sou contra pegar rodovias para ir a um show. O bom da Expogrande hoje é que o acesso é fácil, tem muitas linhas de ônibus disponíveis, táxis”, resume.
O presidente já antecipou que, no futuro, o Laucídio Coelho pode não comportar até mesmo os eventos agropecuários. “Quando entramos na temporada de leilões o fluxo de caminhões que transportam animais é muito grande, é um entra e sai toda hora. Hoje, ainda comporta, mas vai chegar um tempo em que não comportará mais”.
A tendência, explica, é que o Laucídio se transforme em um shopping do Agronegócio e, o Acrissul Campo passe a abrigar os leilões e demais eventos.
Por ora, apenas a Federação de Clubes de Laço de MS, que vai dividir o espaço com a entidade, vai tocar o projeto. “Em maio vamos começar as obras da pista coberta para provas de Laço Comprido e pavilhões para animais. A idéia é estar tudo pronto em dezembro, quando Campo Grande vai sediar a Copa do Laço”, explica o presidente da Federação, Elvio Garcez.