Com feijoada e bisteca, casal abre confraria para quem quiser ouvir boa música
A vontade de ouvir boa música é tanta, que ao perceber cada vez mais espaços fechando em Campo Grande, o advogado Alfredo Gomes, de 58 anos, decidiu abrir ele mesmo um lugar para os amigos tocarem, no bairro Tiradentes. Para a festa ser completa, a esposa dele faz uma bela feijoada e o endereço vira sarau aos sábados.
“Nós íamos muito ao bar da Madah da Vila Carvalho, mas ai fechou e não restou opção a não ser abrir um espaço similar. Não é um bar constituído. É um lugar para os amigos chamarem os amigos, para resgatar a música popular", explica o dono do Sarau do Alfredão.
Além da vontade de ter um lugar para a música ao vivo, o cuidado com a qualidade do som também foi levado a sério. “Aqui nós temos trombone, saxofone, bateria... Essa qualidade musical que você não encontra nos bares por ai. A gente não vive disso, mas é uma possibilidade dos músicos da Capital se encontrarem”, comenta Alfredo.
A esposa dele é musicista, o que foi fundamental na hora de abrir a casa. Lane Ferreira, de 46 anos, lembra que a “festa não é de hoje”, começou na Vila Progresso. “Costumávamos fazer sarau há 2 anos em casa. Começamos com 30 pessoas. De 30, foi para 50, depois para 60... Quando chegou a 120 pessoas, o Alfredo falou que não queria mais o sarau em casa porque virou uma bagunça, tinha muita gente e ai já vinha o amigo do amigo e foi lotando. Às vezes chegava a ter 15, 16 músicos para se apresentar”, detalha.
Mas os dois não sossegaram e encontraram uma solução para continuar com o espaço aberto à música e, ao mesmo tempo, garantir privacidade. “Nós tínhamos esse prédio que estava abandonado. Eu canto, faço aula de canto, estou envolvida com músicos e falei para o Alfredo que não podíamos parar o Sarau. Agora, na verdade, temos uma confraria. Vem músico de tudo quanto é lugar, como Marcelo Loureiro, Lenilde Ramos, Maria Claudia e Marcos Mendes...”, conta Lane
A herança veio de Renata Christóforo, ex-proprietária do Madah. “Depois que meu bar fechou, o público ficou meio perdido, mas ainda bem que surgiu este espaço. Eu e o Alfredo fechamos uma parceria mesmo, eu sou amiga dele, sempre venho aqui prestigiar, mas também não fico parada, sirvo mesa, atendo, faço de tudo um pouco”, comenta.
O imóvel também pertence ao casal, mas estava abandonado. O lugar ganhou uma reforma e acabamento acústico para o som não incomodar os vizinhos. No teto, há mantas de isolamento e na parte de baixo, para não propagar o som, foram usados isopores de geladeira.
Na decoração, muito surgiu com reciclagem, inclusive, os lustres. Pneus servem como floreiras e os porta guardanapos são feitos de jornais e revistas.
Aos sábados, é servido o tradicional joelho de porco e feijoada acompanhada de bisteca, por R$ 40,00, que serve bem duas pessoas.
Aos domingos o cardápio tem comidas típicas, como arroz carreiro, "Franguinho na Panela" e petiscos especiais da casa. A "Mandioca do Alfredão", por exemplo, é salpicada com bacon. Alguns pratos têm nomes de artistas que frequentam o lugar. Há, por exemplo, o Caldo Juci Ibanez (R$ 16,00).
O espaço funciona só no fim de semana, no sábado ao som de MPB, samba e Bossa Nova, e no domingo com sertanejo, sempre das 11h às 20 horas.
Para evitar aglomeração, os donos resolveram estabelecer consumação mínima, de R$ 30,00 e também cobrar couver de R$ 5,00, quantia que vai para os músicos.
“Nossa ideia é trazer cultura para Campo Grande, dar mais espaços para os músicos da cidade e oferecer um boa comida aos clientes”, diz Alfredo.
O empresário Holland Bem Asher, de 33 anos, já elegeu o lugar como o “melhor sarau de Campo Grande”. “A feijoada é perfeita até para mim que sou judeu e não como carne de porco. Eles preparam do jeito que eu quero, o atendimento é personalizado, nos tratam como da família mesmo”, justifica.
O Sarau funciona aos sábados e domingos na Rua Rouxinóis, número 544, bairro Tiradentes, a partir das 11h.