Como nasce e sobrevive um bloco de Carnaval em Campo Grande?
Muita gente fala mal, diz que preferia nem ver qualquer manifestação de Carnaval, mas a prova de que nem todo campo-grandense é tão de ruim de humor, é que a cidade tem pelo menos 15 blocos e cordões prontos para desfilar neste ano.
Os que começaram a festa nas ruas já não estão na ativa. Os de hoje, são jovens, como no máximo 8 anos. O Bem-te-vi é o veterano, graças ao maquinista aposentado Waldomiro de Almeida, de 63 anos. Ele cansou de ficar em casa, não se intimidou com a idade e fundou o bloco em 2005.
O gosto pelo Carnaval já era antigo. O ex-ferroviário ajudou a criar a escola de samba Igrejinha. Como via muita gente abandonar a agremiação por conta do preço da fantasia, Waldomiro buscou a alternativa. “A cultura do bloco é diferente, é espontâneo, do jeito que quiser, de colombina a Batman”, explica.
O bloco nasceu na casa de Waldomiro, que fica na vila dos Ferroviários. “Os blocos se tornaram os grandes xodós em Campo Grande e este ano o nosso carnaval vai se resumir a isso”, comenta, sobre a força que blocos e cordões têm conquistado a cada ano.
No bairro Estrela do Sul, um grupo de amigos animados conversava na praça quando pensou em criar o bloco Quero-Quero. O barulho dos pássaros nas redondezas garantiu o batismo.
Glória de Paula mantém a união pró-folia há 3 anos, ao lado de cerca de 250 pessoas. Corumbaense, cresceu dando valor ao Carnaval como manifestação cultural brasileira. Em Campo Grande, logo recorreu à escola Acadêmicos do Cruzeiro e depois de ajudar a criar o bloco, a dedicação ficou ainda mais séria.
Como a prefeitura repassa dinheiro para ajudar os grupos oficiais, não há gastos com camisetas ou decoração, mas a vaquinha sempre é feita para garantir bebida para os foliões durante o desfile. “Mas tudo é muito sadio, ninguém exagera. Desfilamos porque é divertido e não vamos deixar o carnaval acabar”, diz a senhora de 53 anos.
Há seis anos o bloco “Tereré” arrasta foliões e profissionais da Santa Casa pela avenida em Campo Grande, são cerca de 200 pessoas fiéis ao grupo.Para Rafael da Silva, de 50 anos, presidente do bloco, Carnaval sempre foi uma brincadeira de criança "que se estendeu até hoje. A paixão por ela só aumentou".
Professor de música, o envolvimento com a festa faz com que Rafael relembre famosas marchinhas, como Cachaça, Cabeleira do Zezé, Jardineira, de Chiquinha Gonzaga...Todas entraram no repertório da bandinha formada por componentes da banda do Exército e da PM. É uma forma de fazer com que não se percam no tempo, justifica.
“Na juventude, passei meus carnavais em clubes como Suriam e Sírio Libanês, e com o fim dos carnavais em clubes resolvi formar um bloco”.
Na véspera da folia, a rotina de quem comanda os grupos fica mais acelerada. "Hoje mesmo estou comprando os enfeites para os instrumentos", conta Rafael. Mas o que vale é contribuir para a festa continuar viva na cidade. "Não é fácil fazer Carnaval aqui, mas a gente gosta", explica.
Quem quiser participar tem de aparecer dia 11 na Esplanada Ferroviária e escolher o bloco ou cordão.
O desfile de blocos e cordões será na segunda-feira de Carnaval. A concentração começa às 19h00 na avenida Calógeras entre a Rua General Mello e a Mato Grosso, na esplanada Ferroviária.