Em clube que do porta-malas saem 5, povo leva até forno para assar carne
De tudo um pouco. Não teria outras palavras para definir o que é o Praia Clube, na BR 163, saída para São Paulo. Neste fim de semana, o Lado B foi conferir quem vai e como resiste clube que este ano comemora três décadas, um dos mais antigos em funcionamento por aqui. E foi uma surpresa desde a entrada: muitos e muitos carros no estacionamento, mesmo sendo "fim de mês" e tempo de nem sinal do salário.
Até chegar às piscinas e à praia artificial, o público precisa passar pela recepção, apresentar carteirinha ou pagar pelo passaporte "day use", que custa R$ 30,00 para o dia de diversão, e seguir para o exame médico, uma espécie de triagem de pele que pode permitir ou não a entrada do banhista.
Nos bosques, é debaixo das árvores que o "fervo" acontece. As pessoas são super animadas e parecem se divertir bastante na praia campo-grandense. As churrasqueiras feitas de tijolos tem sempre a carne assando. Nos troncos, redes armadas e no chão de terra, até colchão de ar. Por mais que seja liberado levar o próprio som, deve ser um acordo entre eles para que apenas um estilo predomine. Na tarde em que o Lado B visitou o local, era uma caixa de som no centro do espaço tocando pagode.
Na segunda geração, o Praia Clube foi inaugurado em outubro de 1985, pelo pai do atual presidente, Arlei de Oliveira, de 46 anos. A ideia veio do interior de São Paulo, onde a família já havia trabalhado na área. "Meu pai veio para cá e sentiu a necessidade de ter um clube de campo, que saísse do tumulto da cidade e pegasse a área verde. O nosso diferencial é a praia artificial, não é lago. É praia", define Arlei.
A praia artificial tem um sistema próprio de captação o que torna a água do local sempre renovada. Embaixo, onde se pisa, é uma camada generosa de areia acima do cascalho. "Começa do zero e vai afundando, mas tudo tem placa indicando a profundidade e salva-vidas", pontua o dono.
A praia tem 180 metros de cumprimento por 80 de largura, o que equivale a 50 piscinas dentro da área total de 5 hectares do clube. "Aqui podemos receber 2 mil pessoas", afirma Arlei.
É evidente uma comparação ao Piscinão de Ramos. Criado em 2011, no Rio de Janeiro, o piscinão nasceu como alternativa à praia de Ramos, na zona norte banhada pela Baía de Guanabara, poluída e imprópria para banho há décadas. O lago salgado do Rio tem 26 mil m² e é preenchido com 30 milhões de litros de água do mar tratada. Também é conhecido pelo público mais popular e já foi retratado em novelas.
"O nosso público aqui varia, nós temos desde associados que são juízes de Direito, médicos, até garis. Como a manutenção é barata, ele pode ser sócio só com R$ 50,00 e aí vem marido, mulher, filhos e até sogra", descreve Arlei. Em outro momento, ele usa a comparação de carros no estacionamento, mas prefere dizer que o clube é "democrático". "Você pode ver que tem de Fusca a Mercedes".
Das histórias pitorescas, Arlei conta que já viu gente sair do porta-malas. "O carro já estava lotado, abriu o porta-malas e saíram cinco. O pessoal se vira, vem gente até de bicicleta e olha que são 10 quilômetros da rotatória", pontua.
Os isopores tem de tudo um pouco. De pão com mortadela à ostentação de um arroz carreteiro e vinagrete ou até mesmo o forno elétrico que vai assar o almoço. Do Parque do Lageado, a dona Maria Aparecida Evangelista, de 53 anos, responde de pronto que vai todo final de semana que tem folga ao clube. Funcionária pública, ela sustenta que o lugar é pertinho e onde as crianças podem ficar à vontade.
"Dá para se divertir sim, vem todo mundo. A gente só não traz cachaça porque não bebe, mas quem quiser pode trazer. Aqui tem suco, refrigerante e frutas. Só não vem quem é bobo", brinca.
Só da família do motorista João Correâ, de 44 anos, eram mais de 15 pessoas esperando o churrasco ficar pronto. Eles chegaram já tarde, depois do horário de almoço e até as 3h da tarde ainda não haviam almoçado. "E vocês, já almoçaram?" Acho que dali viria um convite.
O motorista defende que o lugar é bem familiar e pronto para se divertir. "É próximo a Campo Grande, muito bom, quem vem cuida da carne, os outros vão e voltam", explica a dinâmica do churrasco. Por morar bem pertinho dali, no bairro Chácara das Mansões, ele fala que não tem muita programação não. É decidir e já por tudo no carro.
"Na maioria dos finais de semana a gente vem pra cá, só acho que tem que melhorar as churrasqueiras, as mesas. Mas é o melhor clube, esses dias fui em outro, mas não gostamos", diz.
Professora e acadêmica de Direito, Nilza Nantes, de 51 anos, chegava ao clube pela primeira vez neste domingo. "Me lembra praia sim, sabe a hora que você está descendo, me lembrou", conta. Classificada como 'chata' entre os amigos, ela fez questão de olhar a transparência da água. 'Fiquei olhando, colocava a mão e trazia pertinho e não é suja não, é água corrente. Só falta é um pouco de educação nas pessoas, para não jogar lixo", avalia. No caso, Nilza se referia à sujeira na areia da praia.
Os amigos Dyone de Souza Brito e Simey dos Santos Rosário, ambos de 27 anos, ainda não conhecem a praia de verdade, mas se contentam com a praia do clube. Eles vieram em 15 pessoas, lotados de isopores e também disposição. De cara avisaram que dali só sairiam depois que o clube fechasse.
Moradores do bairro Aero Rancho, foi a primeira vez que eles foram até o Praia Clube. "É o que a gente tem para se divertir, só acho que tipo, os quiosques deviam vir lá de cima para baixo, ninguém nunca quer ficar lá em cima cuidando carne", brinca.
Na saída, ainda presenciamos um segurança se dirigindo até um motorista visivelmente alterado pelo uso de álcool. O moço conversou, tentou argumentar e pedir para que o condutor aguardasse ou não fosse sozinho. O Praia Clube funciona de quarta a domingo, das 7h30 às 18h, na BR 163, saída para Dourados, com entrada à esquerda depois do posto Savana.