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Diversão

Febre no TikTok, live NPC é a nova ‘banheira do Gugu’ da internet

Lives onde perfis imitam NPCs viralizaram e pessoas compararam TikTokers com 'mendigos virtuais'

Por Jéssica Fernandes | 21/09/2023 07:32
No Brasil, influenciador 'Felca' foi um dos que aderiu a live NPC no TikTok. (Foto: Reprodução/ Redes sociais)
No Brasil, influenciador 'Felca' foi um dos que aderiu a live NPC no TikTok. (Foto: Reprodução/ Redes sociais)

As lives NPCs saíram do TikTok para ganhar a timeline de outras redes sociais. Na última semana, os vídeos de usuários brasileiros da plataforma foram compartilhados no Instagram e Twitter (recentemente nomeado para ‘X’) provocando debate e gerando discussão. De um lado está quem defende o conteúdo, enquanto do outro quem vê a situação como humilhante.

Mas afinal o que são os NPCs e por qual razão esse é um dos assuntos do momento que ‘furou’ a bolha do TikTok? O Lado B conversou com a jornalista campo-grandense, Lyra Libero, que é consultora especialista no aplicativo desenvolvido pela empresa chinesa ByteDance.

O formato de transmissão ao vivo não é novidade no TikTok, porém virou tendência no País após influenciadores, como Felipe Bressanim o ‘Felca’ aderirem ao fenômeno. O youtuber conseguiu conquistar 1 milhão de seguidores em quatro dias de live onde imita um NPC (Non-Playable Character), que significa ‘Personagem não jogável’.

Veja o vídeo:

Através do conteúdo ao vivo, os TikTokers conseguem monetizar. Em cada live, o público que acompanha pode enviar ‘presentes virtuais’, sendo alguns deles: Rosa, milho, chocolate, café e outros que são convertidos em dinheiro para quem realiza a transmissão.

Lyra Libero fala sobre esse formato de live que começou antes do TikTok e o que configura um NPC. “Já existiam lives fora do Tik Tok. Alguma pessoa teve a ideia de imitar um NPC e fazer lives imitando. O que são os NPCs? Quando você joga um jogo, por exemplo, The Last of Us, os NPCs são os personagens do jogo. Eles são como se fossem robôs, eles têm uma carga de texto que eles falam, um limite de interações com você quando você está jogando. Tem NPCs em vários jogos, quase todos praticamente”, diz.

Antes do Felca popularizar esse estilo há uma semana, Lyra conta como a live NPC chegou ao Brasil e o motivo delas serem monetizadas. “Tem uma gringa chamada Pink Doll, que ela imita meio que um anime com NPC. Ela ganha muito dinheiro no Canadá e isso começou a chegar no Brasil. O TikTok é uma plataforma de entretenimento onde existem vários programas de monetização. As lives também são monetizadas no TikTok, só que é diferente do Instagram”, diz.

Uma das razões desses vídeos terem dominado a plataforma de entretenimento, segundo ela, é pelo próprio algoritmo. “No Instagram, as suas lives são suas e ficam ali no seu perfil e quem recebe a notificação são só os seus seguidores. O TikTok tem um algoritmo impecável, é uma plataforma que prioriza muito o SEO, a busca. As lives do TikTok são entregues para todo mundo que está ali na plataforma naquele instante e os usuários podem te pagar por essas lives”, comenta.

Ao verem o quanto o youtuber brasileiro estava lucrando imitando um NPC com gestos e falas repetitivas, as pessoas decidiram fazer igual. A partir disso, Lyra fala como ocorreu o 'boom' de lives no TikTok.

“O Felca fazia live e recebia muito presente. Alguém parou para calcular quanto que ele ganhou com esses presentinhos de live e viram que era 30 mil reais, 5 mil reais, então o povo ficou doido financeiramente e começou a fazer a mesma coisa. Quando o Felca explode essas lives muita gente entrou para fazer esse negócio”, explica.

Com o aumento dessas lives e compartilhamento dos vídeos em outras redes sociais, o público, querendo ou não, acabou tendo acesso ao conteúdo. No ‘tribunal’ da internet cada um assume um posicionamento, defende uma opinião e com a viralização desses vídeos não seria diferente.

Na internet, perfis compararam os TikTokers que fazem essas lives como ‘mendigos virtuais’. Além desses comentários no Twitter, pessoas que tem conta no TikTok também fizeram críticas.  “MT bom ver o povo se humilhando por dinheiro KAKAKAKA (NAO E HATER)”, “A humanidade tá lascada”, “Misericórdia, diziam que os jovens eram o futuro da nação, estamos lascados”, “Gente onde fica esse hospício que deixam seus pacientes com celular?” são alguns dos comentários publicados em diferentes perfis da plataforma chinesa.

A consultora e especialista em TikTok define que o conteúdo faz parte de uma indústria. Ela antecedeu a criação das redes sociais e anos atrás se propagava através de diferentes programas de televisão, por exemplo, a 'Banheira do Gugu'.

Perfis comparam TikTokers que aderiram ao NPC como 'mendigos virtuais'. (Foto: Reprodução/ Redes sociais)
Perfis comparam TikTokers que aderiram ao NPC como 'mendigos virtuais'. (Foto: Reprodução/ Redes sociais)

“Eu acho que a indústria do cringe é uma indústria milionária. A gente fica falando mal de live de NPC agora, mas se a gente lembrar bem no domingo na década de 90 a gente ficava vendo gente se degladiando por sabonete em banheira. A gente não assistia às Olimpíadas do Faustão? Isso aí é a indústria do cringe. Hoje ficar fazendo live de TikTok imitando anime e NPC é meio que o novo Topa Tudo Por Dinheiro”, destaca.

Assim como as 'trends', que são conteúdos que viralizam como desafios, músicas, coreografias, tutoriais ou dublagens, a fase do NPC vai passar. A jornalista comenta que essa é só mais uma febre do momento. “Eu sou especialista em internet há muito anos e as pessoas levam as coisas muito a sério. Esse lance do NPC não é sério. Tem gente defendendo, falando mal, mas não é sério, é uma moda que vai passar”, frisa.

E se depender do TikTok vai passar mais cedo do que muita gente espera. Apesar do próprio algoritmo contribuir para o engajamento dessas lives, a plataforma não tem interesse em manter as mesmas. Lyra expõe que o TikTok tem outros objetivos e mira atrair outro público-alvo.

Plataforma do TikTok começou a limitar entrega das lives NPC. (Foto: Reprodução/ Redes sociais)
Plataforma do TikTok começou a limitar entrega das lives NPC. (Foto: Reprodução/ Redes sociais)

“O TikTok já falou milhares de vezes que quer ser uma plataforma de educação. Eles não querem ser uma plataforma cringe, eles não querem ser a plataforma da dancinha. Na verdade, a dancinha representa só 7% de tudo que tem lá dentro da plataforma. Eles querem que marcas paguem para estar no TikTok, fazer propaganda lá dentro, então eles querem atrair marcas e negócios”, esclarece.

A própria plataforma já começou a dificultar o engajamento e, consequentemente, a monetização das lives NPC. Antes, assim como qualquer outra transmissão ao vivo realizada no aplicativo, o conteúdo chegava para quem estivesse conectado. Agora, a plataforma está criando barreiras entre os TikTokers que promovem as lives e os usuários.

"O TikTok não quer isso, quer ser uma plataforma mais séria. Ele criou agora uma política onde se você faz o gesto de NPC na live, ele pega a sua live e não entrega mais naquela página onde vai pra todo mundo, ele começa a entregar somente para os seus seguidores. Então, ele limita o seu uso da live. Na internet a gente não é nada sem alcance. Pra você vender, pra você fazer qualquer coisa, você tem que ter alcance. Então o TikTok tá usando a melhor arma que eles têm”, finaliza.

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