Folião aproveita até o último segundo e reclama de Carnaval curto demais
Cerca de 40 mil pessoas passaram pelo Cordão Valu nesta terça-feira, mas muito folião ficou insatisfeito com "toque de recolher" exigido pelo poder público e falta de banheiros.
Nesta terça-feira (5), o último dia de Carnaval levou cerca de 40 mil pessoas à Esplanada Ferroviária, em Campo Grande. Uma prova de que a história que campo-grandense não está nem aí para a folia é pura conversa fiada. A festa terminou com muito samba e alegria, mas foliões foram para casa com gostinho de “quero mais” e insatisfeitos com a exigência de deixar o local cedo, pontualmente às 22h.
Essa é uma das regras do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul que “garantiu” a realização da festa na área histórica da cidade, porque parte dos moradores foram contra a festança alegando entre os problemas a depredação, lixo nas ruas e cheiro de urina.
Partes dos problemas foram minimizados neste ano, os moradores da Esplanada amanheceram após a folia com as ruas quase limpas, o som acabou todo os dias entre 22h e 22h05 e nenhuma ocorrência grave na porta de casa, o que deixou a fundadora do bloco Silvana Valu parcialmente satisfeita.
“A gente conseguiu cumprir todo TAC, mas tem algumas coisas em relação ao poder público que a gente precisa melhorar e que a gente não conseguiu. Mas acho que temos avançado bastante nos últimos anos pela nossa persistência, luta e insistência junto ao poder público de entender que não tem mais essa história de que Campo Grande não tem Carnaval, colocamos 40 mil pessoas nas ruas, então está na hora de mudar o disco”, avalia Silvana.
Apesar dos desejos, nada muda a emoção em ver o público cantando e se divertindo em mais um ano de Cordão. “Fizemos um Carnaval grandioso, sem nenhuma ocorrência grave, então o saldo foi bastante positivo. Conseguimos mostrar que o campo-grandense gosta e puxa o Carnaval com responsabilidade, a gente sabe se comportar e o que a gente precisa é de apoio para ter mais festas como essas”, pontua.
Fantasiado, o professor de História e Sociologia Alcel Dreslau, de 59 anos, deu uma passada rápida no Cordão Valu desta terça-feira antes de ser jurado no desfile das escolas de samba na Praça do Papa. Orgulhoso da lotação, ele é um dos foliões que pede para que o horário seja melhor avaliado no próximo ano. “Eu acho que a festa foi um sucesso, é uma pena que há um grupo em Campo Grande que ainda tenta acabar com essa festa. Somos a única capital do país com horário limitado para se divertir. Então estamos em uma terra que reprime um pouco a nossa festa popular”, destaca.
Os amigos Hélio Crespão e Mauro Guimarães, fantasiados de “irmão gêmeos” brilharam fazendo graça com a turma na Esplanada, mas também pontuaram o desejo de melhorias. “Uma delas é a iluminação pública, encontramos várias lâmpadas queimadas e para quem vem com criança isso é uma preocupação. Outro detalhe é o som, apesar de um investimento maior em caixas, ainda há pontos da Esplanada que o som não chega e quanto ao horário acho que deveria estender um pouco mais já que é Carnaval, é festa e alegria. Porque na hora de colocar tantos guardas para espantar a população é fácil, agora na hora de proporcionar a segurança é complexo, não entendo essa lógica”.
E foram essas exigências que levaram o palhaço Pepa Quadrini a sair na última quinta-feira no cortejo do bloco Evoé Baco sem avisar o poder público. “Porque se a gente avisasse era capaz deles cercearem a gente. Eu acho que realmente é preciso organizar, mas está tudo tão burocrático que os blocos independentes sofrem muito para ir às ruas. A Valu só conseguiu porque ficou muito atenta às exigências e foi muito sofrido. Então acho que Campo Grande tem que rever essa postura, porque nós, enquanto artistas e foliões, não vamos deixar o Carnaval acabar”.
Além dos moradores, há também foliões que se dizem satisfeitos com o horário, como o casal Larisa Oliveira, de 36 anos, e Raphael Martinez, de 35. “Eu senti que foi mais organizado do que ano passado e achei o horário excelente. A gente vem no Valu desde 2013 e uma das coisas que estragou no ano passado foi o som paralelo, então acho que acabar cedo é uma boa opção”, diz Raphael.
Banheiros, um dilema sem fim - No último dia de festa o cheiro de urina também foi um dos maiores incômodos para os foliões, não só dos banheiros químicos, mas das ruas, em locais que o público escolheu para fazer “xixi”.
Sem nenhum pudor, especialmente, os homens, urinavam em muros e cantos da Avenida Mato Grosso, Calógeras e 14 de Julho. Um problema que está longe de ser solucionado se não houver a união de banheiros suficientes com a educação dos mijões.
“Eu mandei um ofício pedindo 200 e veio 85 banheiros. Não é suficiente porque atendeu apenas a região da Esplanada, mas a gente sabe que o entorno merece atenção e, nos grandes centros, por exemplo, há banheiros por todas as ruas que recebem foliões”, explica Silvana.
Ao folião, também é preciso consciência, sugere a fundadora. “Não pode, né. Ninguém ficaria satisfeito se isso acontecesse na sua casa, então é preciso colaborar. A gente tem pedido, orientado a população, mas também é preciso um investimento maior em banheiros”.
Folia garantida – Apesar de tantos detalhes a serem solucionados, não existe tempo que impeça folião de aproveitar até o último minuto de festa. Muitos aproveitaram o último dia para se fantasiar e cair no samba. “Que ano que vem a gente consiga solucionar tudo e colocar nosso bloco na rua com alegria e muito amor”, descreveu Valu.
Mas a festança ainda não acabou, no próximo sábado, a Esplanada Ferroviária recebe o bloco Capivara Blasé, das 14h às 22h, para o Enterro dos Ossos.
Confira algumas fotos do último dia de Cordão Valu.
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