Folião nega o funk o ano inteiro, mas o Carnaval só termina rebolando até o chão
O funk é um ritmo musical atacado o ano inteiro. Basta surgir a divulgação de um baile na cidade, que os argumentos infundados aparecem. "Lixo", "isso não é música" e "cultura inútil", são os mais comuns. Só que mesmo sendo criticado, no Carnaval o que não falta é gente rebolando até o chão e pedindo replay para o funk de sucesso do momento.
A letra fica na ponta da língua e até quem não dança se solta. Nas rodinhas de amigos, todo mundo improvisa um passinho. No fim de semana, o Lado B resolveu ouvir foliões sobre o Carnaval que sempre termina em funk. Como era esperado, choveram críticas. Difícil é entender aqueles que, mesmo dançando e se divertindo, insistem em desprezar o estilo.
Na Rua 14 de Julho, por exemplo, entre a Rua Dr. Temistocles e Avenida Mato Grosso, a quadra virou um verdadeiro baile por volta das 18h.
Foi graças a Renata Santos, de 32 anos, que o ritmo fez presença, enquanto ela vendia água na rua. "Vim de carro e coloquei o som por alguns minutos, mas na hora que tocou o funk, todo mundo resolveu ficar aqui", conta.
Nesse Carnaval, os músicas "Deu onda" e "Olha a explosão" foram a marca musical da folia. Em coro todo mundo pedia "de novo'' quando a música parava.
Mesmo assim, surgiu olhar preconceituoso sobre o ritmo dançante . "Funk é uma coisa que ninguém gosta, é só pelo momento", afirma o produtor musical, Valdemar Fernandes.
Ele acredita que o ritmo não tem produção. "Eu não considero como cultura, o que vale para mim é a letra da música e geralmente o funk não tem nada que te ajuda. Se colocar qualquer letra agora e mandar uma rima, qualquer um faz funk", despreza.
E alguns dizem que mesmo não gostando, conseguem se soltar, quando olham as mulheres dançando. "Gosto quando as minas vem assim rebolando, mas já viu três machos ouvindo funk dentro de uma casa? Não é sendo machista, mas é porque não cola", diz o autônomo, Alexandre Reveiliau.
A constatação é que todo mundo se sente bem, mas só nos dias de folia, segundo a produtora cultural Raquel Proença, 34 anos. "Eu não gosto de funk, mas é o que a galera gosta de dançar, quando começa, contagia".
Enxergando o ritmo como manifesto cultural, a professora Geovana Pagano, de 23 anos, pede por respeito. "Acho que é um fenômeno comum as pessoas erotizarem o funk só no Carnaval, mas acho que tinha que respeitar o ano todo. Faz parte da nossa cultura sim", afirma.
O músico Jener Netto, de 26 anos, acha que é um hipocrisia, já que o ritmo é uma identificação para muitas pessoas. "É uma forma de expressão e se tantas pessoas gostam, é porque tem sentido para elas. Meus amigos falam, a grande maioria, que o funk é o saco. Mas surgem até atitudes machistas, porque quando as meninas estão lá dançando, as pessoas adoram e acho que é uma hipocrisia tamanha", diz.
O maior incomodo segundo Jeanine Bonini, de 26 anos, é com as letras. "Escuto todo tipo de música e acho que o funk acaba traduzindo um pouco da nossa mistura cultural. Acho que as pessoas criticam por conta das letras, algumas músicas pegam pesado", acredita.