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Diversão

Ganhando até R$ 20 mil por show, Jóquei não quer mais saber de corridas

Luciana Brazil | 16/05/2013 06:39
Mesmo com lucro dos shows,  jóquei enfrenta a decadência do esporte. (Fotos:João Garrigó)
Mesmo com lucro dos shows, jóquei enfrenta a decadência do esporte. (Fotos:João Garrigó)

Os cavalos já não são as grandes estrelas do Jóquei Clube de Campo Grande há muito tempo. Hoje, as corridas são raras e a última grande competição foi há mais de 20 anos. O espaço, agora, recebe artistas e o negócio parece muito bom. Desde janeiro de 2012, já foram nove eventos.

Como o pagamento de aluguel varia de R$ 10 a R$ 20 mil, segundo empresários, em um ano o local arrecadou, pelo menos, R$ 135 mil, se avaliarmos a média de R$15 mil por evento.

Luan Santana, Tiaguinho, Gustavo Lima, Fernando e Sorocaba, Henrique e Diego, Diante do Trono, além dos internacionais Fat Boy Slim, Tiesto e David Gueta, já se apresentaram no Jóquei.

Apesar do lucro, o espaço sofre com a decadência do turfe. São poucos os interessados pelo esporte.

Quem visita o hipódromo, longe dos grandes eventos realizados, é capaz de absorver e explorar as lembranças de um tempo que declinou com o passar dos anos.

“Isso aqui ficava cheio. Era uma época bem diferente de hoje. As corridas traziam muita gente pra cá”, se recorda o treinador de cavalos, Luiz Fernando da Fonseca, 48 anos.

O turfe em Campo Grande morre lentamente, segundo ele. Há mais de 20 anos, a área destinada às corridas, acolhe alguns poucos profissionais que resistiram ao tempo.

Ultimamente as notícias vinculadas ao espaço divulgam apenas shows: de música eletrônica, sertaneja, e até eventos políticos.

Mais recentemente, o show da dupla Munhoz e Mariano, marcado para o próximo sábado, no Jóquei, foi proibido. De acordo com a Prefeitura, os eventos deste porte ferem a Lei do Silêncio. A montagem da estrutura só continuou devido a uma liminar.

Diante da polêmica do último show, treinadores fazem questão de defender a realização dos eventos. “Fazer os shows aqui não atrapalha ninguém. Isso é um problema político”, disparou Luiz.

Distante das brigas judiciais é possível encontrar o sentido para o que quase ninguém vê: corridas anêmicas, que ainda sustentam o motivo real do local, a paixão por cavalos, ou tudo aquilo que está ligado a ele. “Elas acontecem, mas são poucas e fracas, e ninguém fica sabendo”, explica Luiz Fernando.

Na vida do outro treinador de cavalos, Paulo Vicente Ferreira, o animal apontou desde o início o seu destino. Aos nove anos, o menino já brincava de aprendiz. Trabalhava e aproveitava para praticar o turfe. A profissão de treinador foi a consequência natural. “Estou aqui desde o início do jóquei”.

Hoje, aos 74 anos, o ex-jóquei relembra com gosto dos tempos em que a arquibancada lotava e os prêmios eram boas quantias de dinheiro.

“Não tinha nem onde andar por aqui, de tão cheio que ficava. Era muito dinheiro que circulava. Os prêmios eram bons. Até o Ministério da Agricultura dava dinheiro para as corridas”, contou Paulo.

O último Grande Prêmio de Turfe, que acontecia anualmente no dia 26 de agosto, foi em 1986. Paulo lembra que este foi o último ano de glória das corridas em Campo Grande.

“Em 86 perdeu a força. As corridas até aconteciam, mas eram muito fracas. Os proprietários de cavalo iam morrendo e os filhos não se interessavam mais pelo esporte. Muitos preferiram ir para o clube do laço, ou simplesmente desistiam”.

Em 2011, a tentativa de reacender o esporte, fez o novo diretor-presidente eleito, Jamil Name, realizar um novo GP. Mas a experiência não rendeu frutos. “Ele reformou as cocheiras, gastou um dinheirão. Mas ninguém se interessou”, diz Luiz Fernando.

A pista já não abriga a volta do prado. Eventos substituem cavalos.
A pista já não abriga a volta do prado. Eventos substituem cavalos.

“O esporte acabou em Mato Grosso do Sul. Eu formei meus três filhos trabalhando aqui. Se você hoje, não teria conseguido”, conta Paulo.

Estar perto dos cavalos desde a infância parece ser uma regra. Desde os nove anos, Euclides de Souza Sobrinho, hoje com 49, divide a vida com o esporte. Ex-jóquei, Euclides trabalha como ferreiro e compartilha da mesma opinião de Paulo. “Sou manicure de cavalo e quando tinha bastante cavalo, eu andava de carro. Agora só ando de ônibus”, lamenta.

Das 170 cocheiras do jóquei, apenas 75 estão ocupadas. Nove treinadores cuidam dos poucos animais.

“A realidade agora é que, as pessoas vão para outras cidades para competir. Alguns ainda treinam aqui, mas na hora de competir vão para São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre. A gente treina os cavalos e contrata os escovadores para limpar os animais e as cocheiras. Mas hoje, o trabalho não compensa tanto como em alguns anos atrás”, explica Paulo.

Criado em 1934, no antigo campo do bairro Taveirópolis, o jóquei reunia milhares de pessoas, aos finais de semana, quando as corridas aconteciam. Em 1945, o hipódromo foi transferido para outro endereço, próximo ao Parque Laucídio Coelho, mas a mudança de local, não alterou o público ávido pelo turfe.

No dia 27 de julho de 1981, o jóquei chegou onde está instalado hoje. Mais de 600 sócios compraram o espaço. Hoje, segundo os treinadores, apenas Jamil mantém o local.

Um pedaço da história merece, pelo menos, que seu destino seja acompanhado.

O placar do páreo já não recebe tanta atença.
O placar do páreo já não recebe tanta atença.
Paulo é o mais antigo no jóquei e lembra com detalhes da trajetória do espaço.
Paulo é o mais antigo no jóquei e lembra com detalhes da trajetória do espaço.
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