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Diversão

Mesmo com 45 mil pessoas na rua, Carnaval não acha patrocinador

Há anos, blocos dão jeitinho de fazer a felicidade do campo-grandense nas ruas, mas festa cresceu e necessita de apoio

Thailla Torres | 07/01/2020 06:30
Capivara Blasé e Cordão Valu são os dois maiores blocos de Campo Grande e reúnem mais de 40 mil pessoas por dia. (Foto: Helton Perez)
Capivara Blasé e Cordão Valu são os dois maiores blocos de Campo Grande e reúnem mais de 40 mil pessoas por dia. (Foto: Helton Perez)

A poucos dias do Carnaval 2020 nas ruas de Campo Grande, os principais blocos, Capivara Blasé e Cordão Valu, até agora, não contam com patrocinador. Nos bastidores, a explicação é dupla: estão em negociações e é preciso um novo olhar dos empresários sobre o fenômeno que se tornou a festa popular na cidade.

Desde o crescimento do Carnaval de rua campo-grandense, que hoje reúne mais de 45 mil foliões por dia, passou da hora de fazer uma revisão nas dimensões e importâncias que cercam o evento que, geralmente, dura cinco dias, dizem produtores.

Por aqui nem a crise econômica pode ser usada como desculpa. Há anos o Carnaval de rua é feito com jeitinho de quem sabe fazer festa com pouco porque quase ninguém se interessa em patrocinar os blocos. Até hoje, poucas empresas deram às caras para ajudar nos custos. Mas, depois que a comemoração atingiu números "estratosféricos" dentro de quatro anos, ficou mais evidente que ninguém brinca de Carnaval. É preciso profissionalizar e investir.

Registro do primeiro dia do Cordão Valu em 2019. (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)
Registro do primeiro dia do Cordão Valu em 2019. (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)

Fundadora do maior cordão da Capital, o Cordão Valu, a professora Silvana Valu lembra que botou o bloco na rua há 14 anos com aproximadamente 100 pessoas e investimento de R$ 400,00. Ao longo dos anos, com o crescimento da folia, a festa tomou as ruas da Esplanada Ferroviária e revelou a necessidade de investimento, não só em atração, mas estrutura de som, segurança, banheiros e divulgação. Hoje, colocar o Cordão nas ruas durante dois dias custa em média R$ 50 mil. Desse valor, só 30% recebeu patrocínio ano passado. Os restantes dos custos foram pagos com eventos realizados ao longo do ano, venda de produtos durante o Carnaval e até um almoço realizado pós-Carnaval para garantir que nenhuma dívida ficasse para trás.

Ainda que nos últimos anos Prefeitura e Governo tenham se comprometido em fornecer itens básicos de limpeza de área pública e segurança durante o período de festa, Silvana lembra que não é fácil colocar o bloco na rua e há necessidade de patrocínio, mais do que isso, incentivo.

“Investimento em dinheiro no Carnaval, isso não melhorou ainda, as pessoas ainda estão sendo convencidas do que virou o Carnaval de Campo Grande. Existe uma dificuldade em mostrar para esses empresários a importância de conhecer o que está acontecendo na cidade durante esse período. E também é necessário que haja políticas públicas para que o Carnaval deslanche, a partir do momento que o Estado e o Município compram essa ideia, há possibilidade de abertura para que esses empresários invistam no Carnaval”.

Apesar de ainda não ter conseguido nenhum patrocinador para o Cordão, Silvana se mostra uma produtora cultural otimista. “Eu sinto que o ano 2020 vai ser para mostrar que o Carnaval virou uma potência para Campo Grande”, afirma. “O olhar dos empresários e das pessoas em geral sobre o Carnaval tem mudado. Hoje, a gente consegue circular entre os empresários para mostrar que o Carnaval não é só a Esplanada Ferroviária, é uma cidade inteira e que ela tem a necessidade de se preparar”.

Festa do Capivara Blasé pelas ruas da Esplanada Ferroviária. (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)
Festa do Capivara Blasé pelas ruas da Esplanada Ferroviária. (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)

Numa conta rápida, durante um papo por telefone, o produtor Vitor Hugo Samudio, dono do bloco Capivara Blasé, que em 2019 reuniu mais de 40 mil pessoas por dia na Esplanada Ferroviária, aponta que o Carnaval movimenta mais de R$ 2 milhões por dia. Em razão disso, na visão dele, o movimento prova, há anos, a necessidade de “capitalizar e profissionalizar o Carnaval”, explica. “Capitalizar não no sentido de lucrar horrores, mas de conseguir fazer uma festa bonita e segura para o campo-grandense. Somos um bloco que se criou de forma ingênua nesse aspecto. A intenção não era ganhar dinheiro. Mas com o crescimento nossa responsabilidade aumentou e precisamos pensar na multidão que vai para rua, seja em termos de segurança ou de patrocínio”, explica Vitor.

O bloco também não fechou contrato com nenhum patrocinador. A média de custos para colocar o bloco na rua durante dois dias chega a R$ 80 mil. “Hoje não temos um patrocinador e já começamos a pensar em como melhorar isso. O negócio é cultural, mas é selvagem, é caro. Tem que pensar no aspecto econômico sim, porque somos o maior Carnaval de Mato Grosso do Sul e o que a gente faz para a cidade movimenta dinheiro por todo lado, sejam no comércio local, conveniência, vendedores ambulantes, motoristas de aplicativos, ou seja, não fica restrito ao bloco”, detalha.

Mesmo assim, Vitor também é otimista e, assim como Silvana, não abre mão de investir. “Da estrutura de som às tecnologias, nosso bloco tem buscado aprimorar o Carnaval e trazer novidades. A gente precisa investir no próprio projeto, afinal, Campo Grande saiu de um cenário onde o carnaval de rua não existia para um movimento com números de saltos gigantes”.

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