No Coophavila 2, feira também é balada com funk, vodka e energético
Terça-feira, avenida Marinha, 21h. De longe se ouve o som do pancadão, das conversas e de quem faz o agito em uma das feiras mais populares de Campo Grande. Seja pela balada na qual a rua se transforma ou pelas reclamações dos moradores que não curtem tanto assim o movimento, o fato é que no início da semana, ao som de funk, a feira do Coophavila II é o fervo da região.
As bugigangas, pastel, espetinho e verduras, coisas da feira mesmo, começam a ser vendidas às 4h da tarde na altura da Marechal Deodoro e de barraca em barraca, vai seguindo pela avenida Marinha. Onde termina a feira é onde começa o que para eles é festa.
A avenida fica fechada pelas barracas e pelos carros que chegam trazendo o som. A feira já reuniu mais de mil pessoas e é fácil juntar até mais gente, quando a rua vira balada gratuita. Ao ar livre que eles bebem e dançam até o chão. A maioria são adolescentes, na faixa de 13 a 16 anos e alguns já acima dos 20, que quando veem câmera fotográfica na área logo se juntam em grupos e pedem fotos.
O visual parece casar muito bem com o som. O Funk é essencial na feira, assim como para elas o short curto e para eles, bonés e correntes. O que faz a alegria, além do som, é o copão de bebida. A preferência geral não é por cerveja. O que eles consomem durante a noite é vodka com energético nos copos de 500ml ou nas garrafas mesmo, compradas na conveniência que está estrategicamente no centro da muvuca.
A gente chega perguntando qual é a da feira do Coophavila? Porque para juntar tanta gente em plena terça, é porque o badalo está ali. A primeira resposta vem de uma das adolescentes, de 13 anos. “É diferente, é a quebrada do Tarumã e do Coophavila. Nós que anima isso aqui”, garante.
Lá por 7h da noite eles começam a descer para a feira. O ponto é certo e ninguém nem precisa confirmar que vai. “É assim animado por causa do som alto, mas é até os homem colar. Eu venho para andar com os guris, ver o que o ex está aprontando”, comenta outra adolescente, de 16.
De fato a Polícia Militar não arreda o pé. Policiais se dividem entre fazer rondas no início da avenida, até o meio, onde rola a diversão dos moradores e antes das 22h fazem a batida geral, para dispersar o público. O lugar funciona também como esquenta para a balada. Depois do aquecimento ali, muitos vão até o Empório Santo Antônio ou para chácaras que promovem a festa ao som do ritmo das ruas.
Aos 16 anos, um dos meninos fala que é conhecido no bairro como o ‘di menor’ e diz “pode por aí, é o di menor”. Para ele, a feira é massa pelo sonzão alto. O grupo só enfatiza que ‘mano’ que vem de outros bairros tem que chegar na humildade. Um dos rapazes alerta “a gente não gosta de moleque que vem de outra vila e quer pagar, sabe? Eles vêm do Dom Antônio de moto, dando tiro pra cima?” questiona.
Tio de uma das adolescentes entrevistadas, Cristiano Aquino da Silva, de 18 anos, chega dizendo que a feira é o fluxo. “Pior que Afonso Pena, daqui até lá fica cheio de carro. A gente vem para encontrar amigos, tomar uns gorós”.
O movimento e a fama são tão conhecidos que traz gente de longe. Júlio Fernando de Souza, de 18 anos, veio do Lageado. No bairro dele também tem feira às terças, mas o rapaz prefere trocar a tranquilidade de lá, pelo agito do Coophavila. “Onde você vai, ouve comentários da feira daqui, que não tem igual”, resume. O amigo Rodrigo Roberto Quadros, de 20 anos, é morador da região mesmo e ‘culpa’ a feira por fazer ele ter apenas a segunda de folga.
“Você começa a sair na terça e vai até domingo. O final de semana já começa hoje. A feira é fervo, bagunça, som, mulher”, avalia. E olha que os dois têm batente no outro dia cedo, trabalham como auxiliares de laboratório e acordam entre 5h30 e 6h da manhã.
Às terças, a feira se torna divisor entre quem fica acordado na balada e quem quer dormir mas não consegue. A fama do evento é também pelo barulho, incômodo e brigas. Apesar de que, no período em que o Lado B esteve por lá, não viu sair um empurrão sequer.
Maria Clenilda Terra, de 36 anos, responde que sair para feira e comer espetinho é coisa rara. “Tem briga”. Ela resume a só falar isso e ir embora antes que o relógio marque 22h.
A cabeleireira que mantém um salão na avenida fala que a paz vem só quando a Polícia chega. “Acontece o que acontece em fim de balada. Incômodo, barulho, briga. Os moradores não podem ficar na frente de casa e nem facilitar o portão, porque se tem briga, pode sobrar”. E a balada no Coophavila acaba às 23h, no máximo 23h30.