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Diversão

Os Garotin, da periferia ao Grammy: ‘a gente nem sabia que podia sonhar’

Trio ganhou o Grammy Latino em novembro e veio a Mato Grosso do Sul com dois shows esgotados

Por Aletheya Alves | 23/11/2024 08:22
Os Garotin de São Gonçalo fizeram show de estreia em MS nesta sexta-feira (22). (Foto: Juliano Almeida)
Os Garotin de São Gonçalo fizeram show de estreia em MS nesta sexta-feira (22). (Foto: Juliano Almeida)

Os Garotin de SG esgotaram ingressos para seus dois shows em Mato Grosso do Sul em menos de dois minutos e, uma semana após levarem o Grammy Latino com álbum de pop contemporâneo em língua portuguesa, se surpreenderam com Campo Grande cantando cada detalhe de todas as músicas. Vindo de São Gonçalo (região metropolitana do Rio de Janeiro), o trio conversou com o Lado B e contou sobre como, sendo da periferia, nem sabia que poderia sonhar e ser acolhido em cada canto do Brasil.

“Estão todos sentadinhos, já, já vocês vão levantar”. Leo Guima, um dos integrantes do trio (ao lado de Anchietx e Cupertino) avisou logo que subiu ao palco do Sesc Teatro Prosa, na noite de estreia dos Garotin de SG em Campo Grande, nessa sexta-feira (22). E, cumprindo com o que foi dito pelo cantor e compositor de Soul Music brasileira, a galera deixou os assentos para curtir o show em pé até o fim (até porque, vendo a animação em cima do palco, o caminho não poderia ser outro).

Unindo influências do R&B, MPB e Soul Music, os três fazem, como eles mesmos definem, uma mistura dos repertórios de cada um juntando o passado e o presente. E essa receita estar dando certo, vem sendo a realização de um sonho construído individual e coletivamente.

Show do trio foi realizado no Sesc Teatro Prosa. (Foto: Juliano Almeida)
Show do trio foi realizado no Sesc Teatro Prosa. (Foto: Juliano Almeida)

Os Garotin podendo sonhar

E, falando em sonhos, esse é um tema bastante presente nas falas de Cupertino, Anchietx e Leo Guima. Principalmente pensando no caminho que os três vem trilhando desde que entenderam que estavam conseguindo ganhar espaços além de São Gonçalo.

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A gente vem de uma cidade com poucas oportunidades, poucos recursos. Então, a gente nem sabia que estava sonhando, na verdade. Só fomos vivendo e a gente não sabia que podia sonhar. As coisas foram acontecendo, fomos conquistando e é uma loucura porque agora passa um filme”, descreve Leo.

Para quem ainda não tem dimensão sobre o que significa as conquistas dos três, Cupertino introduz e faz o resumo que completa a fala de Guima.

“Essa é a realidade da galera que vem da periferia: chegar nos lugares que têm mais acesso e se sentir menor, se sentir inferior, ter dificuldade para furar a bolha. A gente foi vendo com a nossa música, se entregando para ela e acabou que a música gerou interesse nas pessoas”, explica Cupertino. “A música ganhou, no final”, complementa Anchietx.

Até por ainda estar entendendo que merecem cada público, prêmio e sorriso, foram surpreendidos com o acolhimento que vêm recebendo em Mato Grosso do Sul e no restante do Brasil.

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A música abriu todas essas portas para a gente e é muito especial você ir para longe de casa e encontrar pessoas que, para além de estarem cantando sua música, fazem com que você se identifique. Nossa música tem atraído muita gente linda”, comenta Cupertino.

E Os Garotin de SG tem receita para dar certo?

Com sucessos que incluem as músicas Queda Livre, Zero a Cem, A Gente Tem Tudo a Ver, Calor do Momento e Curva Escura, a mistura de referências dos três é profunda. Então, como fazer a trajetória e base de cada um dar certo num trio?

Para Cupertino e Leo Guima, a receita parece ser entender o passado, aprender com os ídolos e não se esquecer do presente para garantir algo que é próprio dos Garotin.

“Têm coisas que já foram feitas no passado e, realmente, no momento que tá rolando agora, às vezes as pessoas focam em outras coisas que são mais contemporâneas. Revisitar o passado é delicado, é difícil. Você vai trazer algo de uma outra geração para a geração de agora, mas é a música que a gente ama”, defende Cupertino.

Misturar as referências dos três partindo de uma longa amizade tem sido o caminho (Foto: Juliano Almeida)
Misturar as referências dos três partindo de uma longa amizade tem sido o caminho (Foto: Juliano Almeida)

Para o músico da MPB, os três se alimentam do passado e daquilo que está sendo produzido hoje. O resultado é uma mistura que inclui o vocabulário de sua geração, as ideias de hoje com aquilo que foi feito lá atrás.

“Acho que essa mistura é a receita porque se você focar só no passado, vai entregar uma coisa que já entregaram. Nossos ídolos já ensinaram para a gente como tem que ser feito, a Tropicália misturava música internacional com brasileira, o antigo com o novo. Silk Sonic, agora, é a mesma coisa de misturar o antigo com o novo. Acho que essa é a receita. A gente volta para o que foi feito lá atrás, mas estamos antenados para o que está acontecendo agora, é uma mistura”.

E, explicando melhor sobre o que cada um traz, Cupertino cita a representatividade de Leo enquanto um músico da Soul Music Brasileira atual, ao mesmo tempo em que tem em si referências de Tim Maia, Jorge Benjor e Cassiano. O mesmo acontece com Anchietx no R&B brasileiro e do rap.

Anchietx é uma das referências atuais no cenário do RB brasileiro. (Foto: Juliano Almeida)
Anchietx é uma das referências atuais no cenário do RB brasileiro. (Foto: Juliano Almeida)

“Ele tem um canto do rap e vai para os melismas, juntando muita coisa. Como vai misturar ele com um mano que canta MPB. Mais baixo, e com outro que vem de uma Soul Music mais brasileira? Como mistura isso? É a vontade de fazer dar certo, é a nossa amizade. Quando a gente vai fazer as músicas, cada parte vai para um cantar. Não tem ego, não tem aquele que quer cantar uma parte específica porque é o refrão ou porque vai aparecer mais. É o que a canção pede”, pontua o representante do MPB no trio.

Inspirando quem vem por aí

Durante este sábado, além de mais uma apresentação no Teatro Prosa, o trio irá se encontrar com as crianças e adolescentes que participam dos cursos de música no Sesc Lageado. E esse tipo de ação é algo que enche o coração dos Garotin.

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Quando mistura aquela pureza da infância com a pureza da música, é demais. Estamos ansiosos para conhecer essa molecada, levar música para a galera e entender deles, que são tão verdadeiros, o que querem, o que sonham, se já admiram alguém”, diz Anchietx.

Se vendo na criançada, o músico explica que, assim como os alunos do projeto social, ele também já esteve nesse lugar de admiração durante a infância e a adolescência. E, olhando para trás, nunca imaginou que anos depois poderia ser a pessoa que pudesse inspirar.

Falando de criança, Os Garotin de São Gonçalo é sucesso garantido entre os pequenos. O motivo? Nenhum deles sabe explicar, mas é só falar do assunto que o sorriso de cada um aparece ainda mais.

“Acho que os pais ouvem em casa, a criançada acaba ouvindo, mas eles estão curtindo muito mesmo e tem criança que chora de verdade quando vê a gente. Todos os dias, nós recebemos fotos e vídeos de crianças curtindo nossa música, nos shows ficam emocionados querendo tirar foto, é demais”, comenta Cupertino.

E, pensando nos caminhos que o trio vem tomando, o gosto pelas músicas não ter barreiras de idade é mais um ganho na lista que inclui conquistar lugares dentro e fora de São Gonçalo, entender que podem continuar sonhando e viver esse baile bem brasileiro.

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