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Diversão

Parceria entre cunhados virou clube de pesca com 36 anos de histórias pelos rios

Dos 3, dois morreram, mas os filhos assumiram os lugares para continuar a pescaria que começou para comprar 1º barco.

Alana Portela | 26/05/2019 08:25
José com o filho Fernando ainda pequeno na ponta do barco e os cunhados. (Foto: Arquivo pessoal)
José com o filho Fernando ainda pequeno na ponta do barco e os cunhados. (Foto: Arquivo pessoal)

O que começou como uma parceria para comprar um barco entre os cunhados José Fernando, Arindo e Joaquim se transformou no “Clube de Pesca Martim Pescador”, com 36 anos hoje. São oito integrantes da família que se reúnem anualmente para navegar nos rios sul-mato-grossenses e se aventurar nas águas do Pantanal. O que não falta é história para contar, como daquela vez em que pegaram um peixe de 45 quilos. 

Em 1993, Arindo faleceu. Joaquim também se foi e com isso, o clube ficou parado. José Fernando continuou pescando, mas com pouca frequência. A ideia de reativar o Clube de Pesca Martim Pescador veio em 2016, em uma conversa entre José Fernando e o filho, com direito  a regimento e uma regra principal: nunca desmentir o pescador.

Para os mais novos, a ligação entre os três deixou exemplo para seguir não só na pescaria. “Penso no companheirismo deles. Sempre vi meu pai, meu tio Joaquim e meu padrinho Arindo unidos, e na pescaria não se consegue fazer tudo sozinho. Um precisa pilotar o barco, outro vai na poita (âncora), e tem o que amarra o barco. A amizade que eles tinham era forte e foi eterna”, comenta Fernando Campos, filho de José.

O pai relata que desde menino seu hobby favorito é pescar. Nascido em Bauru, José Fernando mudou para Maracaju em 1964, por conta de seu pai que trabalhava na empresa Noroeste do Brasil. Na época, a cidade tinha apenas seis mil habitantes e poucos recursos. “Naquele tempo tinha dez anos e chegava um horário que ficava sem energia. O hobby do povo era jogar futebol, caçar com estilingue e pescar”, conta.

Os membros do clube, Caio, Paulo e Eliézer durante uma pescaria  (Foto: Arquivo pessoal)
Os membros do clube, Caio, Paulo e Eliézer durante uma pescaria (Foto: Arquivo pessoal)

Na cidade, José cresceu e deu a sorte na vida de encontrar os dois cunhados que também gostavam de pescar. Em 1983, os 3 decidiram comprar um barco juntos e começou então a história do clube. “Em pescaria não se pesca sozinho, geralmente são três e nisso falamos em adquirir um barco em sociedade, foi na brincadeira de formar o clube. Queríamos dividir as despesas”, lembra.

O trio conversou e se reunir e não parou mais. “Já fomos para os rios de Miranda, Aquidauana, Rio Brilhante. Íamos pescar e depois de um tempo, levei meu filho com apenas dois anos junto. Os outros sócios também tinham filhos que gostavam de pescar e resolvemos colocá-los e ai foi crescendo”, conta José Fernando que hoje é presidente do clube de pesca.

O nome Clube de Pesca Martim Pescador é por conta da ave do mesmo nome que fica na beira do rio e se alimenta de peixes. “A pescaria é meu hobby principal. Traz paz, tranquilidade, dá para sentir um sossego ao estar na beira do rio. Quem já viu o nascer e o pôr do sol durante a pesca sabe que é algo indescritível. A gente curte e aprende a respeitar a natureza”, destaca José.

Joaquim segurando um peixe ao lado de José Fernando com o Surubim de 45 quilos (Foto: Arquivo pessoal)
Joaquim segurando um peixe ao lado de José Fernando com o Surubim de 45 quilos (Foto: Arquivo pessoal)

Foram várias aventuras que viveu ao longo desse tempo e uma história que ele não esquece, é quando pegou um peixe enorme. “Tem história de pescador que ninguém acredita, as vezes acontece uma coincidência. O nosso recorde no clube foi de Surubim de 45 quilos. Tinha 1,70 de altura”, conta. Geralmente quando não tem fotos para mostrar dificilmente alguém leva a sério o pescador, mas José comprova com o registro que fez na época.

Como em todo grupo de pesca, tem sempre aquele que gosta de levar vantagem. “Quando o pescador diz que pegou um peixe grande, não desmente ele. Temos isso no clube. Ou o pessoal fala que pegou um do mesmo tamanho ou diz que fisgou outro maior”, destaca José sobre a regra principal da equipe.

José se aposentou e veio para Campo Grande há quatro anos. Nesse período, seus sobrinhos também quiseram participar do Clube e as funções foram divididas por igual, com presidente, vice-presidente, tesoureiro, etc. Uma regulamentação da associação foi criada informando as novas regras e punições, nisso ficou acordado que a pescaria iria acontecer anualmente no segundo semestre.

José Fernando segurando um peixe (Foto: Arquivo pessoal)
José Fernando segurando um peixe (Foto: Arquivo pessoal)
O amor pela pescaria começa cedo. Eliézer ensinando a neta Melissa pescar (Foto: Arquivo pessoal)
O amor pela pescaria começa cedo. Eliézer ensinando a neta Melissa pescar (Foto: Arquivo pessoal)

Para participar do clube é preciso ser da família e, para garantir que a pesca realmente aconteça, ficou combinado que os membros pagariam R$ 200 a cada trimestre e o valor arrecadado é usado durante as pescarias. “Realizamos uma reunião a cada bimestre e os integrantes levam o kit, que é um quilo de carne e cerveja. No começo de junho nos reuniremos para combinar a pesca do ano”, conta José.

A atividade em família, realmente, parece bem organizada. “É tudo pago pelo clube. Vamos capitalizando e fazemos ações, jantares entre os amigos mais íntimos. Não temos uma sede em Campo Grande, é tudo organizado por nós. Durante as viagens, se precisar ficar em hotel, alugar barco, comprar comida é tudo com o dinheiro da mensalidade”.

O clube realiza a pesca esportiva. “É pega e solta. Fazemos trabalho de preservação e em Mato Grosso do Sul já fomos pescar em todos os lugares. Aquidauana, Miranda e outros. Quando vamos, geralmente ficamos na beira do rio. Pegamos um feriado para poder aproveitar três ou quatro dias de pesca. A programação de 2018 foi em outubro”, disse.

Um dos primeiros registros de José Fernando e Joaquim após a pescaria (Foto: Arquivo pessoal)
Um dos primeiros registros de José Fernando e Joaquim após a pescaria (Foto: Arquivo pessoal)

Apesar da pescaria do grupo ocorrer anualmente, José relata que não sai da beira do rio. “Estava em Miranda na semana passada, meu filho estava junto. Ele fisgou uma piranha e quando estava puxando um jacaré comeu o peixe e ficou preso no anzol. Pegou o jacaré, tiramos fotos e soltamos. Isso foi bem atípico”, afirma.

O amor pela pesca é tanto, que um dos sobrinhos de José Roberto participa das reuniões do clube pelo webcam. “Ele vem para a pesca. Outra coisa importante é que todos os integrantes precisam tirar fotos arquivar na memória do clube”, conta.

A pesca também é amor incentivado sempre que alguém chega à família. “O primeiro presente que dei para meus dois primeiros netos foi um molinete e uma varinha”, comenta José.

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Fernando tirando selfie durante a pesca com Dhiego e Eliezer atrás (Foto: Arquivo pessoal)
Fernando tirando selfie durante a pesca com Dhiego e Eliezer atrás (Foto: Arquivo pessoal)
Os oito membros do clube de pesca reunidos (Foto: Arquivo pessoal)
Os oito membros do clube de pesca reunidos (Foto: Arquivo pessoal)
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