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Diversão

Por que, quando algo novo abre, as pessoas abandonam outros bares?

Futuro da "muvuca" na 14 de Julho é incerto, mas um mês de experiência fez espaços alternativos se preocuparem

Por Aletheya Alves | 01/10/2024 06:20
Bar 'Uatahell?' abriu as portas em março deste ano. (Foto: Juliano Almeida)
Bar 'Uatahell?' abriu as portas em março deste ano. (Foto: Juliano Almeida)

É só um espaço interessante abrir, ou outro movimento ganhar repercussão, que o campo-grandense esquece o rolê anterior para conferir a novidade. Com tantas discussões envolvendo a experiência noturna da Rua 14 de Julho, cabe aqui mais uma: em um mês de testes, os outros bares “alternativos” que costumavam encher viram a casa esvaziar. O jeito foi até recorrer às redes sociais para pedir à clientela que não se esquecesse e valorizasse o que já existia.

Conversando com os proprietários de três bares da região central, que investem em atrações culturais, a perda da receita varia entre 15% e 75%. Para os dois que viram uma diminuição maior, a palavra que define o movimento é realmente “esvaziamento” dos bares fora da 14 de Julho, enquanto o que notou uma redução menor vê a história de um outro jeito.

Independente do que aconteça com a vida noturna na principal rua do Centro, também é necessário pensar como fica o “restante”. Tendo inaugurado seu espaço neste ano, Sanderson Jorgensen é quem decidiu ir para as redes sociais e falar sobre o assunto nas últimas semanas.

Proprietário do Uatahell?, localizado na Rua 15 de Novembro, San explica que todo o movimento da 14 é bonito de ver e que ele mesmo participava de um grupo com objetivo de ocupar a área central. Pensando no início do ano, ele descreve que tudo ocorria de forma “ordenada e natural”, apesar de represálias.

Com esse ritmo, a “competição”, como ele diz, era saudável e natural. O problema passou a existir durante o último mês com o fechamento da rua e, em sua interpretação, com uso para campanhas políticas.

“Qualquer um poderia abrir um bar lá, bem como vender qualquer coisa. Virou um grande Carnaval e quem não estava lá foi fortemente impactado. No mês de agosto, vimos uma perda entre 40% e 50%, aproximadamente”, diz Sanderson.

Do outro lado do quarteirão, na Rua Pedro Celestino, o proprietário do Capivas vê o contexto de uma forma diferente. Para Luis Sakate, o que vem ocorrendo com os bares fora da 14 nãos se relaciona com um “esvaziamento”.

“Entendo que há um movimento inovador nascendo na cidade, onde as pessoas e empreendedores se encontram na rua e que quando fechada opera como se houvesse um Carnaval permanente. Os bares fora da 14 estão se adaptando a isso”, argumenta Luis.

Espaço que integra o Capivas Cervejaria. (Foto: Divulgação/Eder Nobre)
Espaço que integra o Capivas Cervejaria. (Foto: Divulgação/Eder Nobre)

Assim como no bar de Sanderson, o Capivas também registrou uma perda nos lucros, mas menor. Segundo Luis, houve uma diminuição média do público em 25% e, falando de receita, a porcentagem é de 15%. Interpretando dos dados, o empresário destaca que o comportamento do cliente mudou e isso refletiu, por exemplo, no aumento de pedidos para a cozinha, algo semelhante aos últimos dois carnavais.

Já na Euclides da Cunha, Duan Munhoz tinha alguns pensamentos sobre o “êxodo” para a 14 de Julho, mas o encerramento do mês trouxe novas opiniões. Proprietário do Quiçá Gastrobar, ele explica que seu espaço leva outras questões para o jogo, já que o formato do bar sai da ideia de muita gente acumulada, por exemplo.

“Observamos um impacto significativo na queda do movimento, o que reflete uma variação comum no cenário de consumo dos estabelecimentos em Campo Grande, especialmente com a inauguração de novos concorrentes. No caso específico do meu bar, essa queda de receita foi expressiva, chegando a 75% neste mês, o que resultou em cortes financeiros substanciais para o negócio”, pontua Duan.

Quiçá Gastrobar fica localizado na Rua Euclides da Cunha. (Foto: Divulgação)
Quiçá Gastrobar fica localizado na Rua Euclides da Cunha. (Foto: Divulgação)

Pensando sobre a “migração”

Para San, o movimento em busca das novidades é natural, mas Campo Grande acaba sendo mais intensa nesse sentido. “Entendo que isso se deve à necessidade que temos de nos mantermos atualizados e estar sempre postando nas redes sociais o que estamos fazendo. Mas isso não foi como normalmente acontece quando um novo bar abre, foi 10 vezes maior”.

Já tendo um histórico com bares, o proprietário do Uatahell? conta que já viu o movimento de migração acontecer. A consequência é o “abandono” dos espaços antigos, como ele define.

“Quando o espaço fecha, as pessoas ficam indignadas. O que precisam entender é que nós nos esforçamos muito para oferecermos um ambiente que seja agradável para quem frequenta”, destaca San.

Ao olhar de Luís, proprietário do Capivas, o desafio é para que quem trabalha no setor consiga adaptar sua empresa ao ponto de fazer o negócio viver as diferentes fases da vida. “Assim mantendo a cena cultural viva com diversas opções para clientes. Temos focado em melhorar nossos produtos e serviços, incluindo ter uma produção cultural mais vívida e consistente”.

Analisando seu cenário ao considerar até a localização do bar, Duan destaca que estar fora da região de movimentação intensifica o que costuma ser “perdido” quando novos locais surgem.

“Acreditamos que toda novidade gera expectativa e euforia, atraindo o público. Todos os bares de Campo Grande já tiveram seu momento de inauguração, e cabe a cada um fidelizar seus clientes de maneira única. Entendemos a importância da experiência do cliente, especialmente ao trabalhar com a cena cultural da cidade”, relata Duan.

Movimentação na Rua 14 de Julho durante a última sexta-feira (27 de setembro). (Foto: Juliano Almeida)
Movimentação na Rua 14 de Julho durante a última sexta-feira (27 de setembro). (Foto: Juliano Almeida)

Como seguir?

No caso do Uatahell?, o bar ainda enfrenta as dificuldades de um espaço novo, já que está com as portas abertas há apenas seis meses. “Lutando para pagar as contas fixas altíssimas para manter uma estrutura de funcionamento ampla, aconchegante e sem falar na qualidade que servimos”.

É ao pensar sobre a estrutura, considerando os sete banheiros, espaços para sentar, quadra de basquete, cozinha, bar com drinks, cerveja, chope e atrações, que San continua acreditando no potencial do seu espaço. Isso porque quando o movimento caiu, o empresário foi até à 14 para entender o cenário.

Em suas observações, ele entendeu que a rua não tem estrutura para comportar o público. “Foi aí que eu decidi fazer o vídeo no intuito de mostrar para as pessoas que temos um ambiente incrível e para que quem gostava do bar pudesse vir prestigiar. Isso para podermos manter as portas abertas”.

Luis, responsável pelo Capivas, reforça que o foco no atendimento e seguir com uma agenda cultural ativa tem sido a estratégia para seguir.

Para o proprietário do Quiçá, a chave tem sido pensar em um ambiente com conforto e segurança para que o cliente seja ele mesmo. Além disso, o marketing e criação de promoções também entram no jogo.

Ainda não conhece? Dá uma olhada 

Quiçá Gastrobar 

  • Endereço: Rua Euclides da Cunha, 488
  • Funcionamento: terça a domingo, a partir das 19h

Uatahell?

  • Endereço: Rua 15 de Novembro, 797
  • Funcionamento: quarta e quinta-feira, das 18h às 23h; sexta e sábado, das 18h às 00h; domingo, das 18h às 22h

Capivas

  • Endereço: Rua Pedro Celestino, 1079
  • Funcionamento: terça a quinta-feira, das 17h às 23h; sexta, sábado e véspera de feriado, das 17h às 23h59mn; domingos e feriados, das 17h às 23h

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