Sarobá... um movimento que deixa a cidade mais interessante
A caminho da segunda edição do Sarobá me perguntava se alguém sairia de casa, mesmo com a chuva e a temperatura de 15º de sábado. Me enganei, a conveniência “Vai ou Racha”, no bairro São Francisco, quase ao lado da igreja do bairro, estava cheia. Isso não quer dizer que o tempo ruim não atrapalhou o evento, planejado para ocorre na rua.
A festa é itinerante, realizada a cada dois meses. Os organizadores buscam sempre um bar ou boteco simples, no estilo “pé sujo”, de preferência com uma praça por perto. A intenção é ocupar os espaços públicos, levar cultura e entretenimento a diferentes pontos da cidade.
A publicidade normalmente acontece na base do boca a boca e do buchicho criado na internet.
Conversando com algumas pessoas, é possível perceber que os frequentadores são todos conhecidos, o amigo do cara da banda, a colega de trabalho do organizador e por aí vai. “Tem de tudo”, conta Fabíola Marques, uma das organizadoras,se referindo ao público.
As apresentações também seguem a mesma linha. Logo na chegada, um grupo de músicos toca Jorge Ben Jor, depois passa por clássicos do samba e termina com blues. Uma senhora dança mais do que animada, é uma das cenas da festa.
Trechos de poesias, escritas em pedaços de pano são penduradas em um fio, próximo de onde é vendida a cerveja. O que mais chama a atenção é o varal de pãezinhos, desses de padaria mesmo, colocados nas portas, representando “o pão nosso de cada dia”, de acordo com um dos organizadores.
O clima é bem de Sarau. A primeira banda começa com três integrantes tocando. No final, outros três já haviam se juntado ao grupo. Existe uma ordem de apresentações programada: poesia, dança e teatro estão incluídos no cardápio da noite. O teatro, inclusive, é o fio condutor de todo o movimento.
O sarau começou anos atrás como um bar e acabou fechando. O desejo dos frequentadores de seguir com a reunião permaneceu até ser abraçado pela companhia Teatro Imaginário Maracangalha. “Tem esse espírito de Campo Grande. Essa coisa de ‘aparece lá em casa para um tereré, e é isso mesmo. Chamar os amigos para dentro de casa”, comenta Fabíola.
O nome, para lá de inspirado, foi retirado de um poema, de 1936, do escritor corumbaense Lobivar de Matos, fixado na porta do ‘Vai ou Racha’. Anotei um trecho:
"Bairro de negros,
mulatas sapateando, parindo sombras magras,
negros gozando,
negros beijando,
negros apalpando carnes rijas;
negros pulando e estalando os dedos
em requebros descontrolados;
vozes roucas gritando sambas malucos
e sons esquisitos agarrando
e se enroscando nos nervos dos negros.
Bairro de negros
chinfrim,
bagunça,
Sarobá."
Enfim, uma festa.