“Marombas” também comem batata doce e frango nas festas de fim de ano?
Quem leva a sério o estilo de vida afirma que passar vontade, principalmente nas festas de fim de ano prejudica os resultados do treino tanto quanto comer descontroladamente
Ninguém leva a dieta mais a sério que os fisiculturistas. Os “marombas” e ratos de academia tem estilo de vida que é para poucos. Em um caminho cheio de sacrifícios, principalmente na dieta, será que até na ceia o que manda é o tal do frango com batata doce?
O Lado B buscou respostas no habitat natural da galera da musculação, para entender um pouco mais da rotina de que precisa equilibrar alimentação, exercício físico e inteligência emocional enquanto explora os próprios limites para moldar a forma física.
No mundo fitness há algum tempo, a sintonia do casal João Paulo Bózzio, de 25 anos, e Loriany Albuquerque, de 23 anos, é tão grande que até o pedido de casamento foi feito nos palcos, depois que os dois resolveram entrar de cabeça nas competições de fisiculturismo esse ano, ele está na segunda competição, enquanto ela que já era parceira de academia do noivo, resolveu investir pesado mesmo em agosto e acabou de conseguir o 4º lugar já no primeiro concurso.
A rotina pesada, com treinos de 1 hora por dia, 6 vezes por semana. Mas perto dos campeonatos, a preparação chega a durar 2 horas e passa a ser todos os dias, inclusive domingos e feriados.
Matheus Henrique de Oliveira, de 21 anos, também conhece bem essa vida. Atleta desde os 18 anos, ele já participou de 8 competições, levando o 1º lugar na mais recente, que para ele é a realização de sonho, que não foi livre de dor, suor e lágrimas.
Com objetivos muito específicos, eles explicam que mesmo com os treinos intensos, a dieta de quem segue esse estilo de vida faz toda a diferença na hora do resultado, são no mínimo 6 refeições ao dia, com quantidades balanceadas de proteína, gordura, carboidratos, vitaminas, minerais e água, alteradas de acordo com a necessidade de ganho ou perda de massa e personalizada de acordo com a resposta do metabolismo de cada atleta.
Ao contrário do que muita gente pensa, apesar de regrado, o cardápio é bem mais complexo do que ovo, frango, batata doce e whey protein. “Acho que esse pensamento é antigo, quem leva a sério sabe que chega um momento em que aquela comida - o frango com batata doce - não desce mais e as restrições começam a prejudicar o lado psicológico, o que também é uma preocupação durante os treinos, não adianta o cara estar bem fisicamente se a mente não acompanhar”, explica João Paulo, que antes de encontrar a orientação correta chegou a seguir dietas que incluíam comer 30 ovos por dia.
Alimentação é a parte mais difícil para Loriany, que vê na comida um fator influente nas alterações de humor e desempenho nos treinos, com as restrições é impossível manter o foco sem disciplina e determinação, já que desejar comer alguma coisa e não poder se torna um momento crítico. “Comer corretamente foi a parte mais difícil, principalmente quando a competição se aproxima, antes até conseguimos substituir algumas coisas e comer de tudo um pouco, mas cerca de 2 meses para o concurso já fica tudo mais regrado e quando você está no palco, seguir ou não a dieta acaba sendo o diferencial”, conta.
Entre as receitinhas especiais estão os doces como o “bolo de whey”, feito no microondas mesmo com 1 ovo e 1 medida de whey protein, para “dar aquela enganada na vontade de comer açúcar”, além da banana com pasta de amendoim, que depois do bolo é a substituição favorita de Loriany.
Antes de cada treino, o ideal é que a dieta garanta energia o suficiente para que o rendimento de cada exercício não seja prejudicado, como a inclusão de carboidratos complexos, aveia ou batata doce, por exemplo. Proteínas como carne de frango, peixe ou vaca, sem muita gordura e o soro do leite, chegam a cerda de 50% da refeição.
No pós treino a prioridade é nutrir o corpo e repor a energia gasta, onde o consumo moderado de carboidratos simples como arroz branco e o pão francês, para que a recuperação do organismo e crescimento da musculatura.
Ao cardápio, também é importante acrescentar os suplementos para uma resposta mais rápida aos exercícios, como o Whey protein, a glutamina, cafeína e o BCCA, termogênico responsável por manter a temperatura do corpo e é usado antes dos treinos para dar mais energia, principalmente perto das competições quando o carboidrato é reduzido.
Durante a semana, nada de comer fora, ainda mais perto das competições. Saber como a comida é preparada, controlar a quantidade de sódio e gorduras no preparo da comida é tão importante quanto controlar o carboidrato, por isso é tão comum ver quem segue esse estilo de vida carregando a própria marmita, com comida caseira e feita da maneira mais saudável possível.
Hidratação é outro fator fundamental, com o aumento da proteína na alimentação, a água evita a sobrecarga dos rins e o acumulo de toxinas no corpo. Cerca de 10 dias antes da competição, os atletas seguem uma escala rígida, aumentando gradativamente o consumo de líquidos, chegando a uma média de 8 a 10 L por dia e depois, na mesma proporção, ir diminuindo essa quantidade até 24 horas antes de subir ao palco, quando eles não colocam mais nenhuma gota de água na boca.
O truque do Matheus e do João é, nesse períodos de desidratação, tomar uma cerveja ou vinho, bebidas diuréticas que contém carboidratos, para potencializar o efeito de definição dos músculos.
Para quem pensa que tudo é restrição, eles também apostam no “refeed” ou realimentação, de 1 a 2 vezes na semana, quando é permitido trazer de volta os carboidratos, para que o longo período de dieta não desacelere o metabolismo, aumentando a sensação de cansado e estresse muscular que acabam resultando na perda de desempenho do atleta.
Nessa época do ano eles não vão competir, apesar de manter os treinos religiosamente, a dieta é mais liberada e vai, inclusive dar para a aproveitar todas as tentações da ceia de Natal, sem exageros, mas o suficiente para não passar vontade.
Se, mesmo com tantas limitações, a resposta é unanime quando questionados sobre o resultado de tantos sacrifícios: “Quando você está no palco competindo, mesmo antes do resultado, olhar para trás e ver todos os limites que você rompeu, a dor, o suor e as dificuldades só para chegar ali faz tudo valer a pena. O desafio e a realização pessoal de ver todas as barreias que você foi capaz de vencer é inexplicável”, resume Matheus, com que João e Loriany concordam plenamente.