Aos 37 anos, Luciana achava ser invencível, até que um AVC provou o contrário
A designer levava uma rotina de trabalho intensa, sem cuidar do sono e da alimentação
Há 1 ano a designer Luciana Duailibe passou a comemorar um novo aniversário. Ela sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) aos 37 anos enquanto levava uma vida, aparentemente, normal. Mas ela só reconheceu a rotina intensa de trabalho e o estresse após o susto. Hoje ela ainda se recupera, agradece pela segunda chance e tenta todos os dias trabalhar a rotina pensando mais na sua saúde. Como foi esse momento e os desafios até agora ela conta no Voz da Experiência.
"Dia 1º de setembro comemorei uma segunda chance. Porque? No ano passado, em um domingo, eu assistia Netflix em casa quando minha mãe foi ao sacolão. De repente senti pontada com dor de cabeça e apaguei.
Quando voltei não consegui levantar da cama. Me desesperei. Tive uma sensação de impotência, incapacidade, ao mesmo tempo que não conseguia entender o que estava acontecendo. Suei de tanto lutar para levantar.
Quando minha mãe chegou, consegui chamá-la e foi aquela correria. Sem plano de saúde, chamamos o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e fui encaminhada para UPA (Unidade de Pronto Atendimento). A descoberta: tive um AVC. No meu caso não foi hemorrágico, mas isso não significa que foi leve.
Meu lado direito ficou totalmente sem movimento, em palavras simples foi porque neurônios que transmitiam os impulsos elétricos do cérebro para o corpo morreram nessa brincadeira, ou seja, minha cabeça teria que aprender a encontrar novos caminhos para o movimento.
Foram 10 dias na UPA esperando uma vaga no hospital. SUS (Sistema Único de Saúde) é foda. Chega a ser um absurdo o que fazem com a gente. Depois de muita luta da minha mãe que chegou a ir à justiça em busca de uma vaga, finalmente fui transferida para o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
Os desafios dentro de uma unidade de saúde foram muitos como, por exemplo, sentir vontade de fazer xixi e a enfermeira dizer que não tinha comadres, normalmente usadas em hospitais, para eu usar. Queriam até colocar uma sonda sem a mínima necessidade.
A sorte que nesse momento eu já havia conseguido recuperar os movimentos do braço e mãos. Um alívio. Mas ver tudo aquilo dentro de um hospital não é fácil. Lotado e muitas pessoas nos corredores, nunca tinha presenciado situação tão degradante e triste. É uma sensação de aperto imensa.
A noite no hospital é uma vergonha. Os enfermeiros se "revezam" para dormir no plantão. Deixam 2 ou 3 acordados para cuidar de todos que estão na enfermaria e corredores.
Fiquei 15 dias no hospital até ser liberada. Em seguida passei a ser atendida pelo Cotolengo e lá, em uma semana, tirei as muletas. Fui melhorando e reaprendi levantar do chão, depois subir e descer escadas, a pegar objetos.
Em seguida precisei lidar com a frustração de não conseguir desenhar imediatamente. Nessa caminhada os amigos foram muito importantes.
Hoje, minha musculatura ainda está frágil. Ao caminhar sinto dores e meu pé direito ainda não recuperou o movimento, deixando o caminhar mais difícil. Isso altera o equilíbrio, mas tudo é revertido com paciência e dedicação.
Mas o que causou um AVC? Ainda estamos descobrindo. Mas sei que eu levava uma vida “insalubre” Porque? Sou viciada em trabalho, até consegui durante um período diminuir a carga, mas depois o vício voltou.
Hipertensa desde os 24 anos, eu administrava meu tempo com a minha marca de roupas, dando fazendo consultoria no interior do Estado, fazendo freelas de design gráfico, cursando faculdade de Artes Visuais e dando assistência no meu local de trabalho, uma verdadeira loucura.
Assim esquecia de tomar os remédios da pressão no horário certo, esquecia de me alimentar corretamente, descontava o estresse no cigarro o stress, que consequentemente me causava mais estresse.
Hoje eu comemoro esse tempo, esse um ano em que consegui recuperar meus movimentos ficando apenas com uma pequena sequela no pé direito. Hoje estou em busca de levar uma vida mais leve. Não é fácil para quem gosta de correria. A busca maior é por uma alimentação saudável e exercícios permitidos, mas garanto que já diminui 40% das minhas atividades.
O AVC foi transformador, no susto, mas transformador. Me levou ao entendimento da minha própria fragilidade. De que não somos invencíveis e saúde é o bem mais precioso que temos, já diziam nossos avós. Que os amigos também são tudo nessa vida e que ter paciência é uma verdadeira arte. E que no meio do caminho a vida é muito maior do que os problemas que nos apegamos e pedir ajuda não é uma vergonha. Isso tudo ainda estou aprendendo".
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