Aos 80 anos, João é fisiculturista e voltou à faculdade para realizar sonho
Foi após ver uma revista na infância que despertou o interesse pelo corpo "ideal", e sempre quis se formar em Educação Física
João Sidney de Figueiredo é a prova de que para ter sucesso é preciso perseverança. Aos 80 anos, ele é fisiculturista e voltou à faculdade para cursar Educação Física. “É o meu sonho, desde a adolescência. Tinha passado na Marinha e ia entrar para estudar, seria meu trampolim. Mas meu pai mandou mudar de ideia”, lembra.
Ele é corumbaense, mas mora em Campo Grande há alguns anos. É formado em Contabilidade e atuou na área até se aposentar. No entanto, em 2017 decidiu correr atrás do prejuízo e faz valer o ditado “antes tarde do que nunca”. “É a mesma dificuldade para todos os alunos. Hoje estudo bastante e o exercício ajuda a mente”, diz.
Instalou uma pequena academia num cômodo da casa onde mora e todos os dias faz seus exercícios. A semana começa com atividades para fortalecer a parte superior do corpo, como braços e peitoral, e no dia seguinte as pernas. São atividades pesadas para manter a boa forma, não demonstra cansaço e nem se intimida com os pesos que pega. “Os músculos crescem nesses intervalos. Nunca me machuquei. Sempre busquei conhecimento, tudo era empírico no começo e depois passei a estudar sobre o assunto”.
O gosto pelo esporte surgiu ainda na infância, após ver uma revista em 1956, com um modelo de fisiculturismo mostrando o sistema “Hércules”, que são as posições que fazem durante a apresentação. Na época era pequeno, magrelo, tinha 47 quilos, e ver tudo aquilo de músculos despertou seu interesse pelo corpo ideal. “Não é pelo peso físico, é pela beleza, equilíbrio de linhas, definição. Aí entrei para o boxe e aos 16 anos, fui parar no peso galo com 53 quilos”.
Quando completou a maioridade, como desistiu da Marinha, resolveu entrar no Exército. Lá, fez amizades e conseguiu um “treinador”, que o ajudava com as atividades para ganhar massa. “Comecei a treinar com barras improvisadas de 35 quilos. Esse amigo me acompanhava e consegui o peso que queria”.
Ficou um ano no quartel e depois fez um curso técnico em contabilidade para trabalhar no banco. Com o dinheiro que recebeu, comprou aos poucos equipamentos de exercícios e montou a academia “Hércules”, no quintal da casa onde vivia.
“Foram cinco anos lá. Comecei a treinar e apareceram mais pessoas para usarem os aparelhos. Eu conhecia os exercícios que precisava fazer para ficar no fisiculturismo. O local foi declaro como utilidade pública”, conta João.
Cinco anos depois mudou a academia para outro local mais espaçoso, onde permaneceu por mais sete anos. “Depois mudamos para o Rio, levei meus filhos para estudarem. Na época, me inscrevi para participar do meu primeiro campeonato de fisiculturismo, mas fiquei decepcionado pois, devido a uma briga entre São Paulo e Rio, anteciparam o concurso e eu perdi a data. Publicaram uma notinha no jornal”.
Desiludido, ele abandonou as competições e passou a treinar apenas por gosto. Decidiu se graduar em Ciências Contábeis e dar continuidade a carreira no banco, onde ficou até se aposentar. “Mas nunca deixei de treinar em casa, pois tinha minha academia. A minha intenção é difundir o esporte, pois sempre gostei disso e qualquer pessoa que apresentava uma dificuldade, eu ajudava”.
Os anos se passaram e João decidiu se dar uma nova oportunidade de concorrer aos campeonatos já com mais de 30 anos. Estava em boas condições, peso, músculo estavam proporcionais ao corpo e representou Mato Grosso do Sul em muitos campeonatos pelo Brasil. “Não parei mais. Participei de vários, incluindo concurso nacional e o mundial no Rio Grande do Norte, onde ganhei em primeiro lugar na categoria Master”.
Retorno e saúde - João retornou ao Estado natal, ficou algum tempo em Corumbá até que conseguiu comprar uma casa na Vila Alba, na Capital. Conforme João, já são 62 anos de dedicação ao fisiculturismo, com uma rotina corrida. De manhã treina, a tarde vai para a faculdade e a noite faz os estágios. “Isso na terça, quarta e quinta. Nas sextas são as aulas práticas no polo esportivo Dom Bosco, onde acompanhando pessoas especiais, deficientes visuais, com problemas físicos e outros”.
Ele mantém a boa forma e afirma que o segredo para estar inteiro nessa faixa etária é uma alimentação balanceada, paciência e persistência. “Não tomo nenhum remédio e não tenho problemas de saúde. Sempre me cuidei, era tudo o mais natural possível. Eu mesmo fazia minha dieta a base de proteína, carboidrato, vitaminas e um pouco de gordura”.
Agora, quase encerrando 2019, ele está treinando para ganhar massa e competir em um campeonato de fisiculturismo que deve ocorrer no Estado. “O último que participei foi em 2017, mas fui convidado para disputar um agora em dezembro. Estou me preparando para isso, quero ganhar 43 centímetros de braço, o treino está mais pesado por isso. Mas, ainda não sei onde é a competição”.