De Minas a São Paulo, caminhar 113km fez Fábio rever a fé e o que é essencial
Aposentar aos 50. Comprar uma casa até lá. Trocar o carro confortável por um mais simples. Viajar só de ônibus. Foram essas as resoluções práticas para a vida que Fábio trouxe do "Caminho da Fé", inspirado do Caminho de Santiago de Compostela, a peregrinação brasileira termina no Santuário de Aparecida. Mas andar 113 quilômetros de Minas Gerais a São Paulo fez com que ele percebesse e revesse muito mais coisa: a fé e o que é essencial nesta trajetória.
Fábio Roque é professor, diretor de escola e tem 43 anos. Dono de um humor que te faz rir só de estar perto, descobriu através dos trekkings mais que um estilo de vida, como é possível fazer grandes amizades.
Há seis, quase sete meses, que ele começou a calçar os tênis, por a mochila nas costas e trilhar caminhos até então desconhecidos, onde o destino final pode ser a mais bela cachoeira da região, mas o que importa mesmo é a caminhada e não o fim.
"Comecei a fazer, a gostar e perceber que o caminhar me faz bem", fala sobre os primeiros quilômetros percorridos lá no começo. O primeiro trekking foi uma caminhada rural pela região do Cerro Corá de 3 quilômetros. "Fui sem conhecer ninguém, meio tímido, mas foi algo meio mágico. Aquele caminho, aquelas pessoas. Porque o que se faz em Campo Grande? Praticamente você vai para um barzinho beber. Eu gosto, só que fazer só isso, faz mal", compara.
E foi assim que ele, mesmo morando há 11 anos na Capital, viu uma nova forma de criar laços de amizade, uma coisa considerada difícil em Campo Grande. Além do físico, o psicológico também mudou com as trilhas. Os hábitos de Fábio foram se adequando ao estilo de quem encara a natureza como mestre e até na comemoração do aniversário do casamento do irmão, ele acampou na fazenda que sediou a festa ao invés de ficar nos quartos.
"Eu levei a minha barraca, porque o trekking é viciante. Cheguei lá e conversando com um primo meu, ele me falou do Caminho da Fé", conta o professor. O roteiro original sai de Águas da Prata e vai até Aparecida do Norte, as duas no Estado de São Paulo.
Na volta, em casa, Fábio foi pesquisar o que era o caminho, seus roteiros e colocou na cabeça que faria. Chamou uma amiga, Veruska, se planejou e encarou os 113 quilômetros agora, em novembro. O roteiro original previa 132, mas percalços fizeram com que a dupla andasse trechos de carona.
"Eu precisava de algumas coisas: resgatar minha religião, que sou católico e estava um pouco afastado, tirar um pouco da ansiedade e aprender algumas coisas na vida. E isso foi, não digo um divisor de águas radical, mas o Caminho da Fé me ajudou como pessoa e ser humano", descreve.
Dos propósitos que ele tinha, a fé foi restaurada, o autoconhecimento redescoberto e a vontade não parar nunca mais de caminhar também. "Até já tenho um novo desafio, o Caminho da Luz", brinca.
Aos 43 anos, sem praticar muita atividade física e sempre torcendo o nariz para academia. Fábio tinha em mente que caminhar é o movimento que lhe faz bem e junto dos bótons que coleciona, levou muita disposição e esperança na mochila para os cinco dias de Caminho.
"Saí de Paraisópolis, em Minas e fui até Aparecida do Norte pela Serra da Mantiqueira. O que ele traz para você? Mostra que existe um mundo além. Para que eu vou querer ter um carro muito bom? Não tem necessidade, vou trocar o meu por um mais simples. Vou andar de ônibus, ficar só com as 20h do meu concurso... Depois vou fazer outras coisas. O Caminho da Fé me trouxe isso: essa questão de desprendimento e de que tem muito caminho ainda a ser percorrido", resume.
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