Há vida após o diagnóstico de TDAH: se sentir um peso é caminho cruel
"Antes de tudo, essas crianças precisam se sentir amadas e não que são um peso", resume a psicopedagoga Ivete
Antes, a falta de foco e ações aceleradas da criança eram traços de personalidade, mas o laudo veio para definir que o motivo de tudo é o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade): e agora? Como é a vida após o diagnóstico? Dedicada a estudar o transtorno, a psicopedagoga especializada na área, Ivete Goldoni Moreti, está acostumada com questionamentos do tipo e, antes de tudo, acende um alerta sobre o que vem com a chegada do laudo.
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Especialistas alertam que o diagnóstico de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) não deve ser visto como uma sentença, mas como um ponto de partida para mudanças positivas. A psicopedagoga Ivete Goldoni Moreti e a psiquiatra Silvana Konradt destacam que o sucesso do tratamento depende de uma rede de apoio que inclui família, escola e profissionais especializados. As especialistas enfatizam que crianças e adolescentes com TDAH precisam ser acolhidos e amados, não apenas medicados. O tratamento deve ir além dos remédios, incluindo adaptações na rotina escolar e familiar. Segundo as profissionais, é fundamental combater o bullying e a baixa autoestima, frequentes nesses casos, e entender que cada cérebro funciona de maneira diferente, sem que isso seja algo negativo.
Apesar de ser extremamente importante, obter o resultado só passa a significar mudanças caso o cotidiano da pessoa diagnosticada ganhe com isso (veja mais sobre o diagnóstico clicando aqui). Caso contrário, a baixa autoestima e as perdas são grandes. Isso é o que resume Ivete.
Tendo passado mais de 20 anos no ambiente escolar entre cargos de docência e orientação, a psicopedagoga acompanhou diversos casos de crianças atípicas. Agora, ela se dedica a desenvolver ações com famílias, professores e interessados no assunto para mostrar que é necessário construir um caminho em que o diagnóstico de TDAH não seja uma sentença.
Então, para as famílias que se sentem perdidas após o diagnóstico, a profissional diz que o primeiro passo é entender que essas crianças e adolescentes (assim como os adultos) precisam ser acolhidos e se sentir amados.
Com isso em mente, o processo começa com todas as pontas da rede de apoio precisando aprender e entender sobre o assunto.
“O entender sobre o TDAH, junto com o tratamento, é o que vai fazer diferença. Então, o sucesso da criança depende da família, da escola e de toda a rede de apoio”, diz Ivete.
Quando a criança é diagnosticada por um médico (com ou sem os testes elaborados pelo neuropsicólogo), um tratamento costuma a ser desenvolvido no âmbito dos medicamentos. Mas, para além disso, uma série de profissionais também é ativada para que tanto a pessoa quanto a família entendam que a vida precisa ser repensada.
Falando especificamente sobre crianças, Ivete descreve que o bullying é um dos pontos que costumam surgir no desenvolvimento das crianças e que isso não pode ser deixado de lado. Além disso, as próprias reações da família e da escola também podem ser prejudiciais.
“Enquanto o adulto só consegue enxergar dificuldade na atenção e na impulsividade, a criança vai sofrendo por dentro. Quando falamos de escola, o professor precisa entender isso, acolher, organizar a sala, verificar formas de avaliação, enfim, precisa respeitar as particularidades”.
E, quando se trata da família, brigas e castigos podem piorar o cenário. Também atuando na área, a médica especialista em psiquiatria, Silvana Konradt conta que as crianças e os adolescentes diagnosticados costumam ter uma baixa autoestima em virtude da forma com que pensam e agem. “Eles se sentem frustrados, a autoestima fica péssima e quando têm comportamento inadequado, são colocados de lado. A consequência é que o emocional vai despencando”.
Seja antes ou depois do laudo, os sinais vão aparecendo e, conforme Ivete e Silvana, o alerta acende para conversar sobre como essas pessoas não são um peso.
Para entender isso e conseguir melhorar o cotidiano, uma série de ações são tomadas. Psicólogos podem ser acionados, assim como profissionais como os psicopedagogos.
No caso do ramo de Ivete, desde planos específicos para as crianças na escola quanto a organização de uma rotina em casa precisam ser desenvolvidos. “Muitas vezes, a rotina escolar não conversa com a rotina de casa. A família precisa estar envolvida e disposta a aprender, assim como os profissionais da educação. São coisas simples que podem ser aplicadas e que mudam os rumos”.
Falando da escola, Ivete cita que muitos alunos entendem dos conteúdos, mas sofrem nos momentos de avaliação. Por isso, é importante que as provas sejam adaptadas e a forma com que cada aluno aprende seja contemplada de algum modo.
Já dentro de casa, pensar em uma organização para diminuir a falta de foco e elaborar rotinas que contribuam redirecionar a hiperatividade podem mostrar que as crianças e os adolescentes conseguem construir novos caminhos. Tudo isso, a partir de suas possibilidades.
“Bato na tecla de que ela precisa ser amada, precisa ser entendida e não basta só o laudo. É necessário o tratamento acompanhado dessa atenção, de todos entenderem que o cérebro funciona de um jeito diferente e que isso não é ruim, só é um aprendizado”, completa Ivete.
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