ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  22    CAMPO GRANDE 31º

Games

Conheça o polêmico Gizmondo, considerado o pior console portátil da história

Edson Godoy | 08/03/2018 14:06
Gizmondo. (Foto: Divulgação)
Gizmondo. (Foto: Divulgação)

Historicamente, em todas as gerações de consoles vemos empresas nascendo em busca de seu lugar ao seu nesse disputado mercado. Durante a sétima geração, a disputa entre os portáteis prometia ser acirrada: Nintendo DS e Sony PSP mostravam muitos atributos e ambos carregavam o nome de gigantes dos videogames. Foi nesse cenário que a empresa novata Tiger Telematics desejava entrar no mercado, com um console portátil chamado Gizmondo.

Inicialmente a ideia da empresa não era fabricar um console. Em 2002 eles queriam criar um dispositivo de rastreamento para crianças via GPS, a fim de que seus pais pudessem sempre saber seu paradeiro. Mas como fazer com que crianças utilizassem tal dispositivo? Surgiu aí a ideia de criar um videogame portátil. Em 2003 a empresa lança seu site e no ano seguinte começa a mostrar o conceito do videogame em algumas feiras na Europa. Falando em Europa, a base da Tiger Telematics ficava na Inglaterra e a maior parte de seus desenvolvedores era da Suécia.

Chega então 2005, ano de lançamento do Gizmondo. Para divulgar o aparelho, a empresa gasta rios de dinheiro em marketing, como uma festa em Londres que contou com vários cantores famosos, incluindo Sting, que estima-se tenha custado 2 milhões de libras (em valores atuais, algo em torno de 2.78 milhões de dólares). Lembrando que estamos falando de uma empresa até então desconhecida, que jamais havia lançado produto algum no mercado. Outro fato curioso: era comum ver no estacionamento da empresa, veículos de altíssimo valor, como Ferraris, Rolls-Royce, McLarens e por aí vai.

E como a Tiger Telematics conseguia ter tanto luxo? Segundo relatos de ex-funcionários para a eurogamer.pt, a empresa não pagava ninguém com dinheiro. Ao invés disso eles repassavam ações da própria empresa. Reza a lenda que o cantor Sting por exemplo, recebeu para o show que fez na citada festa em Londres o equivalente a 300 mil libras em ações da Tiger Telematics. De fato, uma forma de negócio no mínimo “interessante”.

 Loja oficial do Gizmondo em Londres. (Foto: Divulgação)
Loja oficial do Gizmondo em Londres. (Foto: Divulgação)

Saindo do mundo corporativo e retornando ao mundo dos games, eis que chega então o momento do lançamento do console. Ele foi lançado em três países: Reino Unido / Inglaterra (19/03), Suécia (em algum momento de 2005) e Estados Unidos (22/10/2005). Na Inglaterra o lançamento foi pomposo: foi aberta uma loja oficial do console em local nobre de Londres. Ele também era vendido através do site oficial, diversas outras lojas online e também lojas físicas espalhadas pelo Reino Unido. Na Suécia o console também foi vendido em lojas físicas. Já nos Estados Unidos, somente era possível adquirir o console através do site oficial e alguns quiosquers localizados em shoppings.

Outra coisa interessante do Gizmondo era seus pacotes iniciais de venda. Existiam duas versões do console: a normal, que custava 400 dólares (229 libras) e a que tinha o chamado “smart add”, por 229 dólares (129 libras). Essa versão mais barata funcionaria de forma semelhante aos vídeos no YouTube: no máximo três vezes ao dia, apareceria uma propaganda no console. Por mais estranho que seja, a ideia é bem interessante pois dava a opção para o consumidor pagar mais barato pelo produto. Agora o mais interessante de tudo é que o “smart add” nunca funcionou nos Estados Unidos e na Suécia. Então nesses países, quem comprou a versão mais barata “se deu bem”.

Bora conferir a especificações técnicas do Gizmondo?
Tela de 2.8 polegadas;
Resolução de 320x240 pixels;
CPU: Processador Samsung ARM9 de 400MHz;
GPU: Nvidia GoForce 3D 4500;
Memória RAM de vídeo: 1.2MB 128-bit SRAM;
RAM: 128MB 16-bit-DDR
ROM: 64MB

O console ainda tinha Bluetooth, GPS, algumas capacidades de telefone celular (conseguia mandar SMS, mas não fazia ligação), Rumble, rodava MP3, MP4, tinha câmera de 3.6 MP e seus jogos vinham em cartões tipo SD.

As vendas iniciais foram catastróficas. Especula-se que isso aconteceu em razão de pouco tempo antes do lançamento do console, a empresa ter anunciado que iria lançar uma versão widescreen, o que fez com que os interessados no Gizmondo esperassem o lançamento da nova versão. Além disso, apesar do forte investimento em marketing na Europa, o mesmo não pode ser dito nos Estados Unidos, onde a campanha publicitária foi quase inexistente.

Outro problema enfrentando pela Tiger foi a dificuldade na montagem dos consoles em razão da falta de alguns componentes. Isso fez com que o estoque para o lançamento fosse extremamente baixo. Mas como o console vendeu muito pouco, acabou que não fez muita diferença. Porém, junto isso com o estranho meio de financiar a operação e a gastação desenfreada de dinheiro , muitos especulam que o Gizmondo não passou de um golpe.

Ainda soma-se a tudo isso o fato de que os executivos da Tiger Telematics recebiam salários volumosos, não compatíveis com o tamanho da empresa. O golpe final aconteceu em fevereiro de 2006, quando um dos executivos da empresa, Stefen Eriksson bateu uma Ferrari Enzo nos Estados Unidos e tempos depois acabou sendo preso por isso. Descobriu-se também que Eriksson tinha ligação com a máfia sueca. Então, menos de um ano depois do seu lançamento, o CEO da empresa, Carl Freer pede demissão e a Tiger Telematics abre processo de falência, com dívidas que chegavam à casa de 189 milhões de libras! Estima-se que foram fabricadas apenas 25 mil unidades do console, não havendo número exato de unidades vendidas. Interessante dizer que o Gizmondo é figura carimbada em diversas listas de “piores consoles da história”.

A grande maioria dos jogos que foram anunciados nunca chegaram ao mercado. Jogos como Chicane, que estrelaria o Campeão Mundial de Formula 1 Jenson Button, que inclusive chegou a fazer anúncios do Gizmondo, nunca saíram do papel. Porém, algumas franquias famosas como FIFA Soccer, SSX e Worms chegaram a ser lançados, de um total de apenas 14 jogos – um 15º jogo, Hit & Myth, foi lançado depois de forma independente). Inclusive um jogo que usaria realidade aumentada através do GPS (tecnologia semelhante ao usada em Pokémon Go) estaria sendo produzido, mas também acabou nunca vendo a luz do dia.

E assim terminamos mais um capítulo do nosso espacial “História do Videogame”. A qualquer momento voltamos trazendo mais obscuridades desse fantástico mundo dos jogos eletrônicos. Conheça o Vídeo Game Data Base, o museu virtual brasileiro dos videogames.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram.

Nos siga no Google Notícias