Jogo com DNA brasileiro, Pixel Ripped 1989 é a junção de nostalgia e tecnologia
Quando a servidora pública Ana Ribeiro decidiu largar seu cargo estável e seguro para estudar desenvolvimento de jogos, nem imaginávamos que essa decisão pessoal iria influenciar também a vida de jogadores em todo o mundo. E tudo começou com um sonho: Ana estava de frente à TV jogando um game da geração 16-bit em um quarto todo pixelado, à medida que o jogo avançava, a estética do quarto evoluia junto com os gráficos do game, até o ponto em que ambos tinham o mesmo nível de realismo.
Assim nasceu a ideia do título o qual Ana iria se dedicar por quatro anos, e que evoluiu para o game que iremos avaliar hoje: Pixel Ripped 1989. Desenvolvido pela softhouse brasileira ARVORE, o jogo foi lançado em 22 de maio deste ano para Oculus Rift e HTC Vive e 31 de julho para PlayStation VR, que é a versão que avaliamos. Neste jogo de realidade virtual carregado de nostalgia, você assume o papel da heroína Dot cujo nome reflete a forma da protagonista: ela é um “ponto”, assim como era o herói do clássico Adventure de Atari 2600. Dot precisa salvar seu mundo que está sendo ameaçado pelo terrível Lorde Cyblin.
Lorde Cyblin ameaça não só o mundo pixelado da heroína, mas também o mundo real, onde vive Nicola, uma levada estudante da segunda série que irá ajudar Dot a enfrentar os perigos do jogo nos dois mundos. E quando falo em dois mundos, é de forma literal, pois você joga ao mesmo tempo no mundo real de Nicola e no mundo da aventura de Dot.
Como na primeira fase, em que Nicola está dentro da sala de aula e precisa continuar jogando seu Gear Kid – uma referência misturada de Game Gear e Game Boy – sem que sua professora veja. Ao mesmo tempo em que você precisa superar os desafios do portátil, há a necessidade de distrair sua professora. Se ela te flagrar três vezes com seu Gear Kid, é game over. Já no console portátil em suas mãos, você joga o incrível jogo de aventura 2D em plataforma que usa elementos dos melhores do gênero.
Lembra que falamos que Dot é um ponto? É claro que superar Lorde Cyblin como “apenas um ponto” fica muito mais difícil, né? Então durante o jogo, a personagem pode comer pixels e à medida que vai comendo ela vai evoluindo, até se tornar a imponente heróina da capa do jogo, que tem clara inspiração na Samus Aran da série Metroid. E se Dot for atingida, ela perde os pixels, igual Sonic perde as argolas.
Já falei de várias referências a jogos clássicos. Isso é só o começo. O título é um prato cheio para retrogamers. Há referências em todos os cantos do game, como uma fase em que você dirige o veículo voador do Alex Kidd, ou outra em que você precisa atirar em monstros usando seu Gear Kid como se fosse um Game Pad do Wii U, e quando consegue um power up você escuta a voz dizendo: “heavy machinegun”, igual ao game Metal Slug. Aliás, nesse lance do Game Pad, é como se fosse um jogo de realidade aumentada dentro de um jogo de realidade virtual. Sensacional!
São ao todo 4 fases, todas com boss battles e dificuldade muito bem ajustada. A curva de aprendizado do jogo está excelente, começando naquela mamatinha suave e culminando na última fase com um desafio e tanto.
O jogo consegue ser um fanservice de primeira para os apaixonados por videogame. Receita quase infalível para agradar, não? Eu disse quase porque nostalgia sem qualidade, não chega a lugar nenhum. E Pixel Ripped não decepciona nem um pouco em todos os demais quesitos técnicos. O trabalho de arte do game é incrível: tudo nele foi pensado de forma a ambientar de fato o jogador com toda a atmosfera de final dos anos 80, em meio aos consoles de 8-bit.
As músicas e efeitos sonoros são excelentes e tudo foi feito utilizando sons existentes nos sintetizadores da época. Os gráficos são super bem trabalhados e a jogabilidade é excelente, com controles que respondem sempre muito bem, o que é ainda mais difícil de conseguir se levarmos em conta a quantidade de gêneros diferentes existentes dentro da aventura, como ação 2D em plataforma com elementos de run and gun, jogo de tiro, shmup e por aí vai.
Além de todas as qualidades citadas, a história é criativa e super bem amarrada, tornando o game uma experiência extremamente prazerosa, principalmente para aqueles gamers que viveram a gloriosa terceira geração com seus consoles de 8-bit. Por enquanto o jogo está disponível apenas em mídia digital, mas a produtora está estudando a viabilidade de um lançamento também em mídia física no futuro. Estamos torcendo.
Outra coisa legal é que a própria Ana Ribeiro já declarou que o objetivo é tornar Pixel Ripped uma série, onde cada jogo seria ambientado em uma época diferente, passando pela segunda geração, com gráficos no padrão do Atari 2600 e ambientado na década de 70, quarta geração com os fantásticos jogos de 16-bit, até a quinta geração, no início da popularização dos jogos 3D, com gráficos no padrão de PlayStation e Nintendo 64.
Por tudo o que vi nesse game, torço para que os planos dêem certo. Pixel Ripped 1989 é uma aula de inovação, que mistura a nostalgia e o retrô com a alta tecnologia de uma forma inusidatamente deliciosa.
Confira abaixo o vídeo que fizemos mostrando Pixel Ripped 1989. Conheça o Vídeo Game Data Base, o museu virtual brasileiro dos videogames. A coluna de games do Lado B tem o apoio do Expo Video Game