Apesar da chance de lucro muito maior, Márcia decidiu ganhar menos e viver mais
Em um mundo onde crescimento e realização profissional são sinônimos de dinheiro, os poucos empreendedores que mantém o negócio de forma artesanal sem o desejo de transformar em grandes corporações ou franquias são considerados no mínimo, estranhos.
A empresária e jornalista Márcia Chiad, 46 anos, perdeu as contas de quantas vezes precisou desconversar os clientes e amigos que sugeriam constantemente mega transformações ao Recanto das Ervas, restaurante de alimentação saudável, que se mantém do mesmo jeitinho há quatro anos.
“Falaram de tudo, para transformar o Recanto em franquia, me ofereceram duas vezes para abrir um restaurante no shopping e em outros pontos pela cidade. Mas, eu sempre permaneci com o conceito de quando eu abri. No shopping, por exemplo, eles queriam uma alimentação saudável e eu faço questão de colher os alimentos da horta direto para o prato. Perderia um pouco essa qualidade. Fora, que o próprio conceito do shopping é outro, é de uma comida mais fast food”, afirma Márcia.
Jornalista por formação, a empresária trabalhou mais de 20 anos na área e deixou de lado as notícias justamente por buscar uma nova qualidade para a vida, que incluisse o lazer e a proximidade da família.
A paixão pela horta, por mexer na terra fez com que o hobbie crescesse muito mais do que ela imaginava. Logo, surgiu a marca Recanto das Ervas, com mudas de plantas e um tempo depois a lanchonete. “A proposta sempre foi ter um espaço de alimentação natural, comer de forma saudável. Essa ideia começou a crescer nos últimos anos e muitas pessoas buscam isso”, explica.
Claro que neste período muita coisa mudou. O Recanto precisou sofrer adequações, ganhou novas mesas e um café que segue a mesma linha deve ser inaugurado em breve, no fim da reforma em andamento do local.
Mesmo assim, a inclusão de pratos completos no cardápio foi por pura pressão da clientela. “Os clientes pediam muito um grelhado para acompanhar a salada. Acabei cedendo. O conceito do Recanto eram lanches saudáveis e cursos para horta. Mudou um pouco no meio do caminho. Hoje tenho essa horta aqui no espaço e também uma outra em um terreno aqui perto, que abastece o restaurante para as refeições”, indica.
Mas quem pensa que a pressão acabou está enganado. O horário de funcionamento ainda é motivo de reclamação para quem frequenta o ambiente. “Nós fechamos às 19 horas, que é um horário relativamente cedo, e não abrimos domingo e feriados. Uma cliente até falou esses tempos que eu iria ganhar muito dinheiro funcionando no final de semana. Mas, eu não sei. Domingo é dia de ficar com a família, com a minha mãe, de ter um almoço especial, seria uma jornada de trabalho ainda mais corrida”, acredita.
Os anos de jornalismo sem direito a finais de semana e feriados de descanso fizeram com que Márcia valorizasse muito esse benefício. “Eu começo a minha jornada de trabalho às 7 horas, aos domingos eu venho aqui também olhar a horta, claro que é tranquilo porque não tem o movimento. Mas, se eu tivesse um horário de funcionamento diferente seria regime de escravidão, não teria folga, não consigo me sentir confortável pensando dessa forma, ainda prefiro a qualidade de vida”, diz.
O futuro, para ela é incerto. “Eu tenho um filho que faz administração e os jovens costumam ter mais fôlego, não sei qual seria a ideia dele. Mas, enquanto o Recanto for um conceito meu, ele será assim”, acredita.