Há 23 anos, Ivan vende churros no parque onde já viu coco “voar”
No Parque das Nações Indígenas, ele fez fama e garante não abrir mão do emprego por nada
No dia 26 de agosto de 1999, Ivan de Lima, de 74 anos, arrastou o carrinho de churros até uma das entradas do Parque das Nações Indígenas e nunca mais saiu do ponto. Naquele dia, o homem lucrou R$ 130 em vendas e descobriu que tinha encontrado a “ponta da meada” para fazer dinheiro e sustentar a família.
Aos sábados, domingos e feriados, Ivan chega no parque pontualmente às 15h30 e só fecha o carrinho por volta das 20h. Nas opções doce de leite, chocolate e nutella, os churros têm uma massa saborosa, nada gordurosa e, por isso, conquistaram uma clientela assídua nas redondezas.
Com tanto tempo trabalhando com churros, perguntei para o vendedor o motivo dele ter entrado no ramo. “Minha vida daria um filme. Já fui dono de farmácia, carreteiro, já fui instalador de telefone, sou corretor de imóveis e fiz até o quarto semestre de Direito. Se for pra ir pro céu por causa do trabalho, acho que vou”, conta.
Há 23 anos, a história de Ivan poderia ter sido diferente caso ele tivesse voltado para casa após um dia ruim de vendas. Porém, o homem não ficou abalado, saiu do Centro de Campo Grande e foi em busca de um ponto melhor. “No dia 26 de agosto, teve o desfile na cidade, fiquei todo faceiro, arrumei tudinho e fui lá. Na época, vendi dez reais, mas como não sou desanimado vim para cá. Nesse mesmo lugar, vendi R$ 130. Depois, falei para minha mulher: achei a ponta da meada”, lembra.
Enquanto conversávamos, o vendedor ia esquentando o óleo, depois modelando as massas e as fritando uma a uma. Sem interromper a produção do churros e o assunto, ele relata que a situação era diferente no tempo em que chegou no parque. “Isso aqui era uma zorra desgraçada, parecia o Vietnã. Eu nunca vi coco voar sem asa, mas aqui vi. Juntou uma quadrilha de um lado, outra ali e passava coco para lá e pra cá. Já vi gente ser esfaqueada, tudo que você pensar de roubo”, fala.
Além dele, outra pessoa muito especial também ganhava a vida com os churros, mas em outra localização. A segunda mulher dele, Maria Inês Gomes, teve durante dez anos um carrinho na Feira Central. A história de amor dos dois durou 27 anos e só teve ponto final em setembro do ano passado. “Minha mulher adoeceu, no final das contas, acabei a perdendo, porque ela faleceu”, revela.
De certa forma, a mulher continua acompanhando a rotina de trabalho do vendedor, pois a máquina que ele usa para fazer os churros, antes, pertencia a ela. É no equipamento que ele prepara as massas e armazena os recheios que conquistaram a freguesia. Das três opções de sabor, a favorita da galera é o doce de leite. Os churros custam R$ 5, exceto o de nutella, que sai a R$ 7.
O homem que garante que adora o ofício e não abre mão dele por nada e por nenhuma proposta. “Eu vivo disso e se me oferecerem um salário de R$ 3.500 por mês, eu mando guardar”, enfatiza. Modesto, Ivan responde que “depende do gosto” após ser questionado se o churros dele é o melhor que existe no parque.
Depois de ficar no meio de uma briga entre gangues, ver homem ser esfaqueado sete vezes, cocos voarem e presenciar outras confusões, hoje, Ivan vive dias tranquilos. Faça chuva ou sol, ele sempre aparece nos finais de semana e feriados para adoçar o dia de alguém com churros. Sobre o motivo de gostar tanto do mesmo ponto, ele afirma: “Gosto muito da freguesia, tenho muitos amigos aqui”.
Quem quiser experimentar os churros, Ivan administra o carrinho na entrada do Parque das Nações Indígenas, que fica de frente com a AGU (Advocacia-Geral da União), na Avenida Afonso Pena.
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