Habib’s não aguentou, mas todo dia alguém abre uma casa de esfiha
Em Campo Grande, a receita que ficou popular com negócios árabes ganhou o coração do campo-grandense
Quando o assunto é esfiha, quem mora em Campo Grande não passa vontade e nem come mal. O salgado que fez muito comércio de origem árabe se estabelecer antes dos anos 2000 segue como carro-chefe de novos negócios.
No dia 14 de julho, o Habib's fechou a terceira e última unidade na Capital após 13 anos de atividade. A rede de fast food pode não ter aguentado, mas a cada dia alguém abre em algum canto da cidade uma casa de esfiha.
O Lado B aproveitou a oportunidade para conversar com empresários que são referências no preparo do salgado árabe e gente que nos últimos anos resolveu apostar tudo na receita para transformar a vida da família.
Na Avenida Guaicurus, Leonir Mendes Rocha, serve esfiha que ficou famosa pelo recheio generoso e sabor original. No estabelecimento são mais de 10 sabores e valor acessível. "Eu já trabalhei em restaurantes tradicionais e entendia o funcionamento, mas nunca havia ido para a cozinha. Foi quando decidi aprender a fazer esfiha e fazer dela um novo negócio para a família”, lembra Leonir, do início do estabelecimento.
Hoje o endereço chamado Ponto da Esfiha é um sucesso na região e virou point do trabalhador que não dispensa a iguaria no café da manhã ou no lanche.
No Centro, a Rua Sete de Setembro também é endereço certo para ir a qualquer hora do dia e saborear uma esfiha. A primeira parada foi na Confeitaria Árabe, que tem 45 anos de história e hoje é administrada pelos irmãos Zuhair Michel Hibrahim, de 58 anos, e Jean Hibrahim.
O negócio da família, segundo Zuhair, nem sempre foi ali, pois o pai trabalhava em outro ponto do Centro. “Quando viemos para esse ponto, já tínhamos outro na Rua 14 de Julho com a Dom Aquino. Ficava no meio da quadra, chamava Lanchonete e Restaurante Árabe. Ficamos lá até 1977 e viemos pra cá no final de 1978”, explica.
Quase na virada da década, a confeitaria administrada pelos pais Michel e Madeleine só tinha um vizinho especializado em esfihas, o Thomaz Lanches. Os salgados não eram tão populares na cidade, mas já agradavam o paladar do público.
Quando a multinacional brasileira chegou na Avenida Afonso Pena, Zuhair já estava à frente do comércio e garante que na época nada mudou. O orgulho dele é que as esfihas seguem o estilo tradicional como sempre foram.
“Não atrapalhou a gente em nada, cada um tem um público. A nossa receita ainda é tradicional, à moda árabe mesmo. A nossa vem de mãe, pai para filho, lá da terra mesmo”, ressalta.
Do número 458, que é o da Confeitaria Árabe, a reportagem seguiu na Rua Sete de Setembro até o 744. Na esquina com a Rui Barbosa, o Thomaz Lanches começou numa portinha em 1978. José Thomaz Filho, o ‘Zezo’ é quem cuida da operação que começou com o pai.
Assim como a receita que continua a mesma, o sistema de atendimento segue na base da confiança, em que ninguém anota o pedido do cliente. Sobre o segredo para fazer uma boa esfiha, o empresário explica que na verdade são três virtudes.
“A gente tem algumas particularidades. Sempre digo que são três pilares: atendimento, qualidade do produto e confiança. Isso fez a gente se consolidar porque até hoje a gente consegue manter o mesmo nível”, diz.
Com a opinião de que cada empreendimento similar não é concorrente por ter o próprio espaço, ele fala que a popularidade da esfiha entre os moradores é reflexo do quanto a cultura cresceu junto com a cidade.
“Essa cultura dos libaneses, sírios, árabes no geral sempre foi muito forte. A cidade cresceu demais, então por conta disso também virou uma coisa tradicional na cidade e cheio de referências nesses sentido”, destaca.
A autônoma Cristina Lemos é uma apreciadora do salgado tradicional. Na visão dela, nem todas as esfihas da cidade são boas, porém em alguns negócios não tem como a experiência ser negativa.
“Não é qualquer lugar em Campo Grande que você come uma boa esfiha, mas o legal é que aqui todo lugar que tem um libanês, um árabe vendendo, você não perde dinheiro porque é bom. Não tem um lugar que seja ruim”, afirma.
No ano em que a multinacional abriu as portas pela primeira vez, ela conta que a propaganda não a convenceu no paladar e no bolso. “Na época que o Habib's inaugurou, as pessoas fizeram fila, muita gente comentou justamente isso: ‘Na terra da melhor esfiha, só campo-grandense para fazer fila e comer no habib's’. O campo-grandense pagava barato na esfiha para chegar lá e pagar R$ 10 no refrigerante. Era uma massa esfarelenta com um fiapinho de carne”, conta.
Casa de esfiha pra dar e vender - Nos últimos anos, o Lado B trouxe várias histórias de empreendimentos que apostaram na esfiha para ganhar dinheiro. Um desses exemplos é o da Giovanna Bispo Silva, que vende na Rua 13 de Maio, 2151, Centro, a receita que aprendeu com a avó.
Outra pessoa que decidiu reproduzir a receita feita por alguém muito especial foi a engenheira Ana Carla, que abriu o negócio de comidas árabes inspirada na mãe. Já no Bairro Vila Carlota, Ângela precisou de 15 tentativas para chegar no ponto ideal da esfiha, que é feita em versões doces e salgadas.
Quem também apostou no salgado para ter o próprio negócio foi Cláudio de Oliveira, que passou 28 anos no Exército antes de preparar a esfiha e outros salgadinhos com a esposa.
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