Na cozinha com bisneta 80 anos mais nova, Fidelina leva adiante receita de nonna
São oito décadas que separam a primeira da terceira geração dos Santin. Dona Fidelina tem 89 anos e vê com gosto a bisneta de 9, Mariana, aprender suas receitas. Mais que ocupação e diversão para a senhorinha, é também um alento saber que a massa italiana aprendida com a mãe passará adiante.
Dona Fidelina tem os olhos na ponta dos dedos. É assim que explica a quem lhe pergunta como foi costurar e cozinhar durante tantos anos sem enxergar direito. Em consequência da toxoplasmose tida na adolescência, Fidelina é quase cega. E suas receitas, não vem do papel. "Para escrever, até escrevo, mas depois não leio. Então é tudo de cabeça. É fazendo que se aprende", explica Fidelina Santin.
Nascida no Rio Grande do Sul, neta de italianos, ela carrega e coloca o sotaque gaúcho em cada palavra ou expressão. O aprendizado na cozinha veio da grande mestra, sua mãe. "Uma cozinheira..." diz como quem quer falar "daquelas" ou de "mão cheia".
E não tem nada no fogão que não seja especialidade da bisavó. "Tudo que é negócio de massa, de carne, não tem para ninguém" brinca modestamente. Mas do negócio que hoje vende suas receitas como encomenda, ela se esquiva e diz que dali é só a "mentora. Ou metida mesmo". No menu, as opções vão do fettuccine, rondelli, canelone, tortéi, lasanha, entre outras massas coloridas.
Dos seis filhos, nasceram 13 netos e nenhuma das gerações têm a aptidão para a mesa. O talento só foi despontar mesmo na bisneta, fazendo assim se calar o receio que ela tinha, de que quando partisse, levaria junto todas as receitas.
A filha de Fidelina e avó de Mariana, Rosana Santin, entrega que a família sempre se reuniu para fazer massa. Ela, no caso, para comer mesmo. Sem a mesma paixão que mãe e neta pela cozinha, ela aproveita para degustar o que sai das quatro mãos.
Dona Fidelina já passou por três infartos, tem dificuldade para andar e não dormia bem. Voltar para a cozinha como uma tarefa profissional a fez remoção pelo menos 30 anos, garantem as filhas.
As receitas viraram negócio quando a tia Marcia Hanisch, e a avó de Mariana, Maria Solange Verengia Pedro, - que não têm parentesco sanguíneo com Fidelina, resolveram abrir para encomendas. "Ela não ganha nada, mas dorme a noite toda", brinca Rosana.
Mariana é pequena, mas ágil nos dedinhos e tem os olhos atentos a tudo que a bisavó faz. Pequenina, começou a brincar na cozinha com 2 aninhos. "Fazendo biscoito, demos uma massinha para ela e quando vimos ela amassava com o joelho, porque não tinha força com as mãozinhas", conta a bisavó.
A menina continuou na brincadeira e os biscoitos que fazia, alimentavam os passarinhos. "Eu gosto de cozinhar, quando eu era pequena, já ajudava a bisa", conta Mariana Silvestrini de Almeida, de 9 anos.
Da massa, dona Fidelina não faz mistério. "Não tem segredo, vai farinha, ovo e água. Do recheio, desse do tortéi, é abóbora, queijo, pão, ovos, temperos", descreve. De olho na bisnetinha, ela orienta na hora do recorte do tortéi. "Isso, com força aqui", ensina.
Para a menina, não tem lição maior do que passar as tardes com a bisavó assim. "Acho importante, porque eu estou ajudando a vó e no futuro, quando eu crescer, vou saber fazer a receita que ela me ensitou e vai ficar mais gosto assim", diz.
O desenho preferido dela na massa é quando a bisavó a deixa fazer o agnoline, uma espécie de anelzinho, parecido com o capeleti. "E eu fico super feliz, não sei explicar, é a tradição italiana. Tu quer me ver feliz? É estar lidando com isso aqui", resume Fidelina.
As massas são vendidas congeladas, em pacotes de 500g com molho, a partir de R$ 25,00. O contato para encomendas é o: 9-9152-1143.