Pra fugir do óbvio, chipa vendida em ônibus ganha recheios de 5 sabores
Nem mesmo o técnico em segurança do trabalho, Luiz Carlos Barbosa, 61 anos, dono da ideia que será descrita a seguir, poderia imaginar que uma receita criada há mais de dez anos, na tentativa de fugir do óbvio, como ele mesmo diz, daria tão certo. Após diversas tentativas, fornadas e mais fornadas, Luiz conseguiu chegar ao ponto ideal e para um toque especial à chipa “tradicional”. Ele resolveu rechear o maior clássico do Estado e não é que deu certo!
Essa variedade já é comum no Paraguai, tem até franquias em Assunção. Por aqui, também há quem venda as versões recheadas. Mas Luiz levou a ideia para a rua. Hoje, a chipa é comercializada com cinco tipos de recheio em um Food Truck estacionado na Avenida Lúdio Martins Coelho, próximo a Base Aérea de Campo Grande. Além da comum, há de franco, presunto, cheddar, goiabada e catupiry.
Mas, o dono conta que já enfrentou tempos difíceis.
Ele lembra que a ideia de vender chipa surgiu depois que ficou desempregado. Com idade avançada, como ele faz questão de ressaltar, as portas do mercado se fecharam. Foi então que ele decidiu buscar alternativas e encontrou um meio e um caminho na venda do salgado típico paraguaio, que aprendeu a fazer com a mãe.
“Há uns 30 anos, minha mãe já vendida chipa na Universidade Federal, aqui em Campo Grande, ela ajudou muito em casa com isso. E aqui no Estado todo mundo gosta, é uma coisa simples que saí muito, então eu decidi começar a fazer pra vender”, disse.
Luiz conta que no início começou a fazer apenas a chipa tradicional e passou a vender de porta em porta, em frente de casa no Conjunto União e até congelada para alguns comerciantes conhecidos.
Mas, com o passar do tempo, decidiu que deveria inovar. E começou a pensar uma forma de fazer isso. Foi então que entre uma tentativa e outra pensou em rechear a chipa, com objetivo de dar “status” à iguaria.
“Eu decidi fazer ela (chipa) recheada para fugir do óbvio. Mas, até chegar no ponto da massa ideal pra moldar foi difícil. A receita de chipa tradicional é mais seca e quebra muito. Então eu tive que ir adaptando até chegar no ponto que eu pudesse rechear, sem quebrar a massa e sem perder o sabor”, comenta.
Ele ressalta que teve a preocupação em achar uma forma de não descaracterizar o sabor da chipa tradicional. “Eu já vi vendendo por ai o pão de queijo recheado, mas a massa é diferente. Aqui é massa de chipa mesmo, tradicional. E as pessoas se surpreendem hora que provam dela”, diz.
Há pouco menos de dois anos, Luiz decidiu investir na compra de um ônibus que foi transformado por ele em um Food Truck. Investimento de cerca de R$ 60 mil. Uma verdadeira padaria móvel.
“Quando fiz isso aqui eu tinha intenção de vender. Mas, como demoraram pra procurar, eu decidi ficar com ele. E hoje, ele me ajuda a ganhar o pão de cada dia”, comenta.
Ele prefere não comentar o quanto vende de chipa por dia, mas afirma que consegue sustentar a casa e ainda sobra um “dinheirinho” que manda para um dos filhos que estuda Medicina fora.
O único problema é quanto a burocracia para se legalizar o negócio. Segundo ele, hoje há um dilema, sob o risco de ter que deixar o ponto, na Lúdio Martins Coelho a qualquer momento.
“Eu já tentei tirar alvará pra ficar aqui, mas é uma burocracia muito grande, fora a demora. A prefeitura não dá resposta, não mexe nada. E enquanto isso a gente vive nessa insegurança. E desse jeito a gente vive. Vai lutando e procurando ganhar a vida”, finaliza.