Vendendo pastel, Vivi aprendeu que melhor é sorrir e dançar na chuva
Após marido ter derrame, ela fez de tudo um pouco e hoje na feiras vende pastel com recheios diferentes
Viviane Fernandes de Aquino, de 60 anos, aprendeu a dançar na chuva quando o tempo fecha obrigando os feirantes a voltarem para casa mais cedo. A mulher, que não cede lugar à tristeza, vende pastéis em diversas feiras de Campo Grande e saídas de festa. O menu tem desde sabores tradicionais a aqueles feitos para agradar vegetarianos e veganos, como os recheados com casca de banana, jaca ou abobrinha.
Cabeleireira há 40 anos, ela começou a vender pastel antes da pandemia, mas foi durante o período de crise sanitária que Viviane focou completamente na área. “Com a pandemia o que eu ia fazer? No salão ninguém mais estava indo e como eu tinha muitos anos de salão, meus clientes eram idosos”, diz.
Vivi, como é conhecida, relata que os pastéis eram especialidade da nora e que ela mesmo não sabia nada. “O pastel começou como bobeira, digo de bobeira, porque minha nora mexe com essas coisas. Um dia, ela chegou falando que na Casa do Papai Noel haveria um evento. Corri atrás de uma pessoa até que consegui arrumar uma carteirinha pra ela”, recorda.
Após a nora abdicar do ponto, Vivi decidiu assumir o posto e desde então não largou mais os pastéis. “Comecei a ir, o pessoal começou a gostar dos pastéis, porque faço os comuns e comecei a fazer com recheio de jaca, berinjela, casca da banana, fui fazendo. [...] Os organizadores começaram a me ver, me chamar, o negócio começou a ficar maior que eu”, afirma.
Para quem nunca imaginou que venderia pastel, Vivi foi além e criou recheios para ninguém com restrição alimentar passar vontade. O menu da ‘Vivi Pastel Gourmet’ tem de tudo um pouco e opções doces também.
Entre os sabores feitos estão o de carne, frango, queijo, pizza, frango com queijo, jaca, berinjela, abobrinha, brócolis, casca de banana, jaca com queijo e brócolis com queijo. Os mini pastéis doces são de goiabada com queijo, doce de leite com queijo, doce de leite e coco.
Quando começou, Vivi comenta que virava trabalhando com uma mesa e uma fritadeira. “Era uma mesinha, uma fritadeira e com o tempo foi aumentando as coisas. Veio o guarda-sol, cada vez foi aumentando as coisas e agora tem o trailler”, relata. Hoje com o trailer, a pasteleira consegue comparecer nas feiras da Praça do Peixe, Bosque da Paz, Praça Bolivia, Ipê Amarelo e Sarau de Segunda na Praça Cuiabá.
Alegria que contagia - Não é somente pelo pastel que a empreendedora conquistou um público fiel. Vivi encara a vida com leveza e um sorriso estampado no rosto independente faça chuva ou sol. Ela recorda um episódio onde foi participar de uma feira na Praça Aquidauana, que terminou mais cedo devido a um temporal
“Eu vivo dançando com chuva ou sem chuva. Aquele dia fomos fazer a feira, foi a primeira. Todo mundo montou, alegre, unido, os feirantes são unidos e você vê a alegria de cada um. Veio uma chuva tão gigantesca, levando tudo. Eu poderia ter entrado no trailer, ficado na minha, mas meu espírito não é assim. Fui ajudar as pessoas e quando vi estava sozinha na praça e aí poxa, o que eu ia fazer? Estava molhada, dancei na chuva, estava tão gostoso”, ri.
Quem a vê esbanjando sorriso não imagina as dificuldades que ela já enfrentou. “Há 30 anos meu marido sofreu um derrame, meus filhos eram todos pequenos e eu tinha que rebolar nos mil. Com o tempo fui trabalhando e sempre fazendo outras coisas. Tudo que aparece, eu corro atrás. Fiz faculdade de design de interiores, com 50 anos”, conta.
Casada há 44 anos com Adonias, Vivi leva a alegria das ruas para dentro de casa. “Como meu marido é deficiente tem vez que chega em casa e ele se comunica pelo olhar. Se ele faz uma expressão que eu acho que não tá legal, eu falo pra ele animar. Eu saio de casa sabendo que ele é meu porto seguro, volto trazendo mais energia pra animar ele de tudo aquilo e tenho três filhos que são meu alicerce”, destaca.
Para quem acredita que a alegria tem que ser tirada do interno para o externo, Vivi frisa que para tudo que acontece há outro dia por vir. “Se você não vende nada, não adianta ir embora pra casa triste. Não deu certo hoje, mas amanhã vamos tocar de novo. É meu jeito, as pessoas ficam felizes”, conclui.
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