Entidade rural mais forte de MS, há 45 anos começou com gambiarra de combustível
Reunião para criar a Famasul ocorreu em dia de postos fechados, só um detalhe da história que começou em 1977
Era um domingo de primavera de 1977, quando presidentes de 22 sindicatos rurais do recém dividido Mato Grosso do Sul se reuniram na sede da Acrisul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) para tratar da fundação da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul).
Liderados por Sylvio Mendes Amado, o grupo de produtores contou com a ajuda da Famato (Federação da Agricultura de Mato Grosso) para homologar o que ainda era uma diretoria preparatória para consolidação da nova entidade.
Quem participou deste momento e é uma história viva da entidade é o filho de Sylvio, José Armando Amado, 62 anos. O zootecnista e advogado na época tinha 17 anos e foi responsável por garantir o combustível de todos os sindicalistas que vieram para Campo Grande.
"Os postos de gasolina eram fechados nos finais de semana. E essa reunião era num domingo de manhã. Papai arrumou uma série de de galões para guardar o combustível para os presidentes voltarem para casa no mesmo dia. Eu fique responsável por isso e até assinei a ata", relembra.
O Estado de Mato Grosso do Sul estava criado de direito, mas não existia de fato, segundo ele. A própria reunião da diretoria preparatória ocorreu 15 dias após a divisão do território. Aqueles homens foram fundamentais para garantir a existência de uma das entidades mais fortes do país.
"Poucos sabem, mas a Famasul tem duas cartas sindicais. Depois que publicaram o edital da reunião de fundação no dia 17 de janeiro, a carta foi publicada em fevereiro. Mas, quando o novo ministro assumiu, naquela época a posse era no dia 15 de março, um nova carta sindical foi entregue", afirma José.
Seu Sylvio sabia da importância da representatividade naquele tempo que só existiam associações rurais. Ele participou da construção do estatuto. "Papai era um homem a frente do tempo. Ele aceitou com muita dificuldade uma reeleição. Ele era contra e achava que que tinha que trocar. As entidades têm que se renovar".
Esse protagonismo do pioneiro fortaleceu o setor que hoje representa R$ 20,5 bilhões ao PIB (Produto Interno Bruto) estadual. Sylvio foi eleito o primeiro presidente da entidade, ajudou a fundar vários outros sindicatos rurais nas cidades do interior e deixou uma sementinha plantada no filho.
Anos depois, o garoto que assistiu aos 17 anos a criação da Famasul, assumiu o comando. José Armando liderou os produtores quando tentaram derrubar o Fundersul (Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário do Estado de Mato Grosso do Sul). "Tínhamos 92% dos produtores contra. Mas não conseguimos", lamenta.
A Casa Rural foi construída na sua gestão. "Compramos o terreno no melhor lugar que tinha na época. O projeto foi escolhido por meio de uma concorrência pública. Foram vários apresentados até definir a obra que está lá hoje. Ali onde é o estacionamento era um campinho de futebol em 1997. A ideia é que realmente o espaço seja aproveitado e que cresça ainda mais em estrutura."
Já para Leôncio Brito, 78 anos, seu Léo para os íntimos, chegar até a direção da Famasul em 2000 foi uma consequência da eterna busca por capacitação e informação. Ele chegou a presidir o Sindicato Rural de Bonito após questionar a gestão do antigo presidente. "Nós pagávamos o Funrural e não éramos bem atendidos. Tive a necessidade de assumir para resgatar nossos direitos. Melhorar o ambiente para nossos filhos e netos", pontuou.
O trabalho feito na administração chamou a atenção do grupo de produtores da Capital. "Me convidaram e fiz votação em casa. Deu empate. Decidi assumir, com a condição de escolher minha diretoria", conta ele que escolheu a ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para integrar o grupo.
Foi Leôncio que instituiu o Líder MS, curso de capacitação para produtores rurais. "Já está na quarta edição agora. É um intensivo de dois anos que ajuda a criar lideranças, ter conhecimento de como reivindicar, sobre o papel do produtor e até se portar com a imprensa. Foi por meio do curso inclusive que criamos o prêmio de jornalismo da Famasul", conta.
Ele é categórico ao afirmar que deve muito a entidade. "Ela fez muito por nós. Mais do que fizemos por ela. Aprendemos muito. Aquela cadeira da presidência eu chamo de solidão. Na hora do pepino, o negócio cai no seu colo", brinca.
Uma de suas marcas na trajetória da entidade está o reloginho que Leôncio usava para sabatinar candidatos políticos. "Sempre achei que temos que ter pessoas que defendam nossos direitos legítimos. Por isso convenci a criarem a comissão de assuntos políticos. Chamávamos os candidatos para responder nossas dúvidas por 15 minutos. O relógio despertava quando dava o tempo."
Os ex-presidentes acreditam que a união dos produtores para buscar mais capacitação tem transformado o Estado. Para eles, antes da federação cada fazenda parecia um principado. A entidade desempenha um papel central para o desenvolvimento do agronegócio sul-mato-grossense.
A perspectiva do atual presidente Marcelo Bertoni, para os próximos anos são muito positivas. "Temos importantes motivos para confiar nesse avanço. Primeiro, porque vivemos em um estado com forte vocação para a agropecuária, um dos pilares do desenvolvimento no país. Também temos um produtor rural com perfil para o empreendedorismo no campo, que busca conhecimento e tecnologias para produzir mais, melhor e com sustentabilidade."