"Fofa", capivara também representa risco e surge até em hospital
Animais trazem como principal perigo a febre maculosa, que teve seis casos confirmados em MS
Protagonistas de imagens fofas, como a ordeira travessia na faixa de pedestres, as capivaras fizeram um passeio perigoso na semana passada no HU (Hospital Universitário) de Campo Grande, localizado no campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e nas imediações do Lago do Amor, onde moram cerca de cem roedores.
Os animais foram flagrados no corredor do setor de Nutrição, que leva ao setor administrativo. Por meio da assessoria de imprensa, o HU informou que uma cerca, que separa o hospital da mata, foi rompida durante reforma da unidade coronariana. Na sequência, as capivaras encontraram uma porta aberta.
De acordo com a assessoria, acredita-se que algum acompanhante deixou a porta aberta, apesar do aviso para mantê-la sempre fechada. As capivaras foram retiradas e o hospital trata o caso como fato isolado.
“A direção já está providenciando o reparo da cerca e reforçando os avisos para pacientes, acompanhantes e funcionários para manter fechadas as portas que dão acesso às áreas externas”, informa o hospital.
Sobre o risco para os pacientes do passeio dos animais silvestres, o hospital aponta que os animais não entraram em enfermarias ou área de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Maculosa - “Queridinhas” e cada vez mais visíveis na área urbana, as capivaras trazem como principal perigo a febre maculosa. De forma resumida, o carrapato que “mora” na capivara pode ter um tipo de bactéria chamada Rickettsia rickettsii. Ela pode chegar ao ser humano se o artrópode ficar fixado na pele da pessoa por mais de quatro horas.
O período de incubação vai de dois a 14 dias e os sintomas são: febre de inicio súbito, dor de cabeça e nas articulações, prostração e lesões avermelhadas, principalmente na palmas das mãos e dos pés.
“De maneira geral, ela não tem curso maligno e o tratamento é com antibiótico”, afirma a gerente técnica de zoonoses da SES (Secretaria Estadual de Saúde), Stephanie Ballatore Holland Lins.
De acordo com ela, Mato Grosso do Sul teve 61 casos notificados entre 2010 e 2017. Do total, foram seis confirmações, três em 2015 e três em 2016. Cinco casos foram em Campo Grande e um em morador de Coxim. Não houve óbito registrado.
Como os sintomas são parecidos com o de outras doenças, a situação é notificada para a secretaria e são feitos exames para confirmar ou descartar a suspeita.”Não é motivo de preocupação, poucas pessoas tiveram a doença”, diz a gerente.
População – No mês de março, Campo Grande vai sediar um simpósio sobre capivaras. “Vamos reunir pessoas de todo o Brasil para ver como está em outros locais e traçar meta para a nossa Capital. Conhecer as experiência dos outros para não cometer os mesmos erros”, afirma o vereador e médico-veterinário Francisco Gonçalves de Carvalho (PSD).
Segundo ele, o problema não é a capivara, mas o carrapato. Sobre a ideia de castrar os animais, o vereador afirma que não há projeto concreto e aguarda o simpósio para futuras ações.
“A partir do evento, vamos tomar medidas para Campo Grande, lançar cartilha para que a gente possa conviver com as nossas 'queridinhas'”, diz.
Ainda de acordo com Francisco, a estimativa é que a cidade tenha ate três mil capivaras, mas não existe um estudo preciso sobre essa população. “Cadastradas, temos duas grandes famílias no Lago do Amor, com 100,110 capivaras. E no Parque das Nações, com 300,350 capivaras. Mas também têm capivaras ao longo de todos os córregos”, diz.
Uma conduta reprovada pelo veterinário é sentar no gramado do Parque das Nações, mesmo com uso de toalhas, por exemplo. Segundo ele, isso possibilita que o carrapato tenha contato com as pessoas. Outra orientação é o uso de repelente.
“Trabalhei no CCZ [Centro de Controlo de Zoonoses]. E tinha grande quantidade de carrapatos nas capivaras atropeladas”, diz.
Outras preocupações - Além da febre maculosa, existe a suspeita de que as capivaras possam representar o risco de transmissão de outras doenças. Uma delas é a leptospirose. Em dezembro, segundo a reportagem apurou, duas pessoas vindas do Pantanal foram internadas com sintomas da doença no Hospital Regional Rosa Pedrossian e uma dos contatos que foram relatados foi com os roedores.
A suspeita é de que houve transmissão da doença por meio da urina de roedores na água dos rios de Corumbá, para onde eles viajaram e permaneceram por cerca de 1 mês. Na região, capivaras e ratos-de-banhado são comumente encontrados.